O principal problema público do Brasil está longe de ser a corrupção. Não há vivalma no país que desconheça a pandêmica capacidade de nossos políticos furtarem nosso dinheiro através do Estado, formando um aparente “consenso” sobre o mal maior da corrupção.
Se tal cenário poderia ser algo próximo da realidade em regiões dominadas pelos Malufs, Barbalhos, Calheiros, Quércias et tutti quanti, a realidade do Brasil no século XXI precisa romper radicalmente com tais concepções fáceis e confortáveis para escarafunchar mais a fundo.
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Uma corrupção “simples” seria o Estado tomar dinheiro do pagador de impostos (o “contribuinte”, na linguagem cheia de eufemismos e macaqueações para nunca dizer a verdade da política) e alguém, no controle de um órgão estatal, tomar o dinheiro para si. É uma modalidade de roubo mais “indolor”, embora geralmente envolva quantias muito maiores e frequentes do que um mero furto.
A corrupção, que no Brasil é praticamente apanágio do PT – só ele faz, só ele sabe como fazer, tudo gira ao redor dele – passa quase completamente fora do debate dos nossos jornalistas, intelectuais e formadores de opinião.
Trata-se não do mero enriquecimento pessoal ilegal – da corrupção dos iates, jatinhos, mansões e Fiat Elbas que conhecemos no século passado. É algo distinto que exige uma nova chave de pensamento. É a compra de poder político, algo incrivelmente mais poderoso do que esta coisa reles e comezinha a qual nós, famélicos, nos referimos por dinheiro. Com poder político é possível obter dinheiro e mais poder (por conseguinte, mais dinheiro), porquanto com dinheiro não é possível obter poder político – poder este que pode tomar este mesmo dinheiro ulteriormente.
É o que o PT faz com o controle de fundos de pensão, estatais do porte de Petrobras, Correios, Caixa, Banco do Brasil, Eletrobras etc, forças sindicais, verbas “publicitárias” selecionadas a dedo para a imprensa e blogueiros sub-célebres e sobre-pagos, controle econômico de setores estratégicos por manobras econômicas (do Banco Central e dos transportes às Universidades e programas sociais), contratos de estatais com empreiteiras e congêneres e, last but not least, com os outros poderes democráticos, que deveriam fazer sobrepeso ao Executivo central pelos checks and balances, tornando o Legislativo e o Judiciário dóceis a qualquer manobra do Executivo central.
O mensalão até hoje não é compreendido nem por jornalistas que cuidaram de investigá-lo dia a dia quase que pela última década inteira.
A mesada parlamentar não é uma corrupção qualquer como a de um Fiat Elba ou um ritual satânico na Casa da Dinda: a compra de uma parcela da base aliada tem o fito não de enriquecimento do PT, o corruptor (quem pagou ao receptor de dinheiro em troca de votos obedientes): sua meta era que o Poder Legislativo sempre votasse a favor de medidas que vinham do Executivo Central.
Assim, sob uma aparência de poder dividido, na verdade se viveria em um cenário de poder concentrado inumeravelmente mais violento do que na ditadura: uma ordem de Lula viraria lei, sem discussão parlamentar. É o que Dirceu chama de “hegemonia partidária”, citando o que já ocorreu na Venezuela e Uruguai como exemplos. Na prática, Nicolás Maduro é um ditador não por alinhamento planetário ou golpe, mas por manobras de aparência legal para mudar leis de dentro do parlamento como Dirceu, Genoino, Delúbio, Gushiken et caterva tentaram impor no Brasil.
Não era preciso comprar cada cabeça: uma lei passaria a partir da maioria dos votos. Com uma forte base petista, que já vota petistamente, e a oposição na minoria, bastaria pagar algum troco de pinga para membros da base aliada, os típicos fisiológicos do “meião”, cuja única ideologia, moral e valor é “estar no poder”, e não haveria dúvidas de que personagens tão díspares quanto Paulo Roberto Cunha e José Genoíno estariam sempre de acordo.
Os votos que, em teoria, serviriam para brecar vez por outra a concentração de poder no Executivo, se tornavam dóceis regularmente. Legislar por decreto, como se faz na ditadura bolivariana, seria o destino (mais rápido) do Brasil. Alguns meros deputadinhos comprados significariam a ditadura dos 50% mais 1.
Um projeto de poder totalitário e leviatânico como o mensalão, portanto, continuaria 99,9% errado e criminoso se todo o dinheiro usado fosse dinheiro limpo. Mas, ainda por cima, era dinheiro de corrupção.
Mero detalhe bobo: o pagamento mensal que muitos recebiam no mensalão era de uns “meros” R$ 30 mil. Dividido por cada pagador de impostos, não é perto do que cada um de nós, trouxas, pagaremos por rombos como as dívidas da Petrobras, suas refinarias de miragens e suas propinas – descalabros tão chocantes que foram capazes de fazer uma petrolífera dar prejuízo neste planeta em 2012. É preciso roubar MUITO para isto – o equivalente ao PIB de 100 países. Algo difícil de mensurar. De imaginar que tanto dinheiro exista.
Não era para surpresa: dois anos antes, nem a British Petroleum, que havia causado o maior derramamento de óleo da história, conseguiu perder tanto valor de mercado em um ano quanto a Petrobras.
Quando o PT desvia dinheiro, antes fosse para formar “meros ladrões”. Genoíno não deve se gabar de ser corrupto e continuar “pobre” (para padrões petistas, uma coxinha podre) – seria preferível que ele torrasse todo o dinheiro que autorizou em cachaça, hotéis de luxo e cartas de Magic do que comprando parlamentares.
A corrupção não é fisiológica: aproveita-se dos fisiológicos para se abolir a distinção entre poderes. Não é a corrupção dos iates: é a corrupção dos “heróis do povo”, bem nascidos travestidos de guerrilheiros, sindicalistas e ativistas estudantis subginasianos para agradar os próprios tungados, sonhando com benesses do poder total. É a corrupção ideológica, que vê muito mais do que a cor do dinheiro: quer transformá-lo em vermelho e crescer mais do que ele.
E esta corrupção, é preciso que o debate público nacional descubra de uma vez, nunca foi praticada por ninguém no país antes. Não se pode escrever sobre estes corruptos sem escrever PT.