“Esta manhã eu fui amarrada e alimentada à força. Cinco ou seis policiais e prisioneiros prenderam minhas mãos e pés e enfiaram uma sonda nasogástrica em meu nariz. Foi tão insuportavelmente doloroso que eu quase desmaiei várias vezes. Eu vomitei várias vezes e não podia conter a torrente de lágrimas que vertia de meus olhos. Eu ouvi meus próprios gritos desesperados reverberarem. Antes, eu apenas soube dessa forma de tortura pela alimentação forçada por meio da internet, mas agora eu a experimentei na própria carne.”
Essas são palavras recordadas secretamente num diário de pedaços de papel higiênico por He Wenting, uma jovem de 28 anos que está atualmente detida no Centro de Detenção Fu Yong, na cidade de Shawan, distrito de Panyu, na província chinesa de Guangzhou, por se recusar a desistir de sua fé no Falun Gong.
He Wenting é originária do condado de Dao, província de Hunan, onde ela cresceu numa família rural pobre. Aos 14 anos, ela se juntou à Associação de Escritores de Yongzhou e desde então ganhou vários prêmios por seus ensaios, romances e quadrinhos. Seu trabalho também foi publicado em jornais nacionais.
Ela é casada com Huang Guangyu, um artista plástico de 30 anos que se formou na Academia de Arte de Guangzhou. O trabalho de Huang foi exibido no Museu de Arte de Guangzhou em 2012. Suas pinturas a óleo foram incorporadas nos textos de instrução artística de Li Zhengtian, intitulado “Teoria sobre a Cor e a Luz”.
He Wenting diz ter encontrado a disciplina espiritual do Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, quando estava dolorosamente perdida e que isso a ajudou a entender o sentido da vida. “O Falun Dafa me ajudou a ser quem eu sou hoje. Caso contrário, eu seria apenas mais um indivíduo perdido na sociedade”, disse ela.
Em 18 de dezembro de 2013, ela e o esposo Huang Guangyu foram presos por seguranças da Escola de Línguas Estrangeiras da Universidade de Guangzhou por distribuírem cópias gratuitas de um software de evasão do bloqueio da internet na China. Ambos estão atualmente detidos no Centro de Detenção Fu Yong.
O caso de He Wenting tem sido destacado no Minghui.org, um website do Falun Gong que expõe a perseguição contínua à prática espiritual na China. He Wenting está fazendo greve de fome em protesto contra sua detenção ilegal. A brutal alimentação forçada realizada pela polícia é um tipo de tortura usada em muitos praticantes do Falun Gong que se recusam a assinar uma declaração de desistência da prática.
Apesar da tortura horrível, He Wenting ainda conseguiu escrever secretamente sobre a experiência. “Hoje, eu fui alimentada à força novamente duas vezes. Minhas mãos estão cobertas de hematomas das algemas. Quando eu vomitei, havia sangue misturado. Mas eu ainda gritei alto: ‘Falun Dafa é bom! A verdade, a compaixão e a tolerância são boas! Ter minha crença não é um crime!’”
“À tarde, uma guarda da prisão de sobrenome Yang veio falar comigo. Ela tentou distorcer [o Falun] Dafa e me fazer lavagem cerebral. Eu firmemente neguei todas as suas alegações e explique-lhe os fatos. Ela ficou furiosa e me disse: ‘Mesmo se você morresse aqui, ninguém se importaria!’”
O diário de He Wenting já passou por muitas mãos antes de finalmente vir a público.
Numa entrada do diário de 15 de janeiro de 2014, ela escreveu: “Hoje é o sexto dia de minha segunda greve de fome em que tenho recusado consumir alimentos ou água. Eu fui alimentada à força quatro vezes hoje. Ontem, a sonda nasogástrica danificou meu estômago. Posteriormente, meu estômago rejeitou automaticamente qualquer alimento ao ser alimentado à força. Na ocasião, eu quase desmaiei e não conseguia respirar. Esta manhã, vários presos vieram mais uma vez me levar à enfermaria. Então, diversos médicos da prisão apareceram e algemaram minhas mãos e pés e me amarraram. Eles abriram minhas pernas e prenderam-me à cama. Quando abri os olhos, eu contei um total de 10 pessoas segurando meus braços, pernas e cabeça. A pessoa que inseriu a sonda nasogástrica foi o diretor-médico. Ele inseriu a sonda através de minha narina esquerda até o estômago para me alimentar à força. Meu estômago não podia deixar de convulsionar e resistir. Vomitei várias vezes e constantemente senti dor excruciante e lacrimejei profusa e involuntariamente.”
“Das 9h da manhã até as 16h, eles mantiveram a sonda nasogástrica em mim. Eu permaneci amarrada numa cama extremamente fria e foi alimentada à força quatro vezes. Foi extremamente difícil para mim. Mesmo pela boca, eu mal podia respirar. Toda vez que eu movia meu pescoço minimamente, eu sentia uma dor excruciante, como se minha garganta estivesse sendo esfaqueada. Quando fui levada de volta para o presídio feminino, todo o meu corpo estava fraco e debilitado e eu não mal podia me manter de pé. Desde então, minha voz ficou muito rouca e minha narina esquerda bastante inchada.”
Refletindo sobre os policiais que a estavam torturando, He Wenting escreveu em seu diário: “Eles também têm esposas, filhos e pais! Eu quero simplesmente proteger meus direitos e defender minha inocência. Eu não os odeio ou culpo. Espero sinceramente que vocês sigam suas consciências e tomem a decisão correta.”
Um pintor chinês famoso que leu o diário de He Wenting disse ter ficado profundamente comovido: “Nas linhas de seu diário, pode-se ver sua profunda benevolência e honestidade, seu espírito incansável, bem como sua mente compassiva. Quando meus amigos e eu lemos seus relatos no diário e soubemos sobre no noticiário, todos ficamos profundamente comovidos. Esperamos que ela possa voltar para casa rapidamente e com segurança.”
De acordo com o Minghui, o tribunal local realizará um julgamento ilegal contra He Wenting em 4 de maio.
A China fechou oficialmente seus campos de reeducação pelo trabalho forçado no ano passado, onde milhões de praticantes do Falun Gong foram detidos e torturados desde que o ex-líder chinês Jiang Zemin ordenou em 1999 a erradicação do Falun Gong. De acordo com o Minghui, a Anistia Internacional e diversas outras organizações, a perseguição não terminou. Praticantes do Falun Gong continuam sendo detidos em centros de lavagem cerebral e condenados a longas penas de prisão simplesmente por não abdicarem e denunciarem sua fé.