Meninas jovens se tornam ‘oferta especial’ para poderosos da China

28/06/2013 15:30 Atualizado: 28/06/2013 15:31
O poeta chinês Wang Zang em seu local de trabalho em Pequim com a mensagem escrita nas costas: “Diretor, reserve um quarto [comigo]. Deixe as jovens estudantes em paz”, enquanto segura um bicho de pelúcia e uma garrafa de licor. Artistas, ativistas, estudantes universitários e policiais estão se fotografando, alguns nus e provocantes, outros com raiva e ameaçadores, com a mesma mensagem (Cortesia de Wang Zang)

Hoje na China continental, todos os alimentos são venenosos e todas as coisas estão poluídas. Até mesmo rios, poços e águas subterrâneas estão poluídos.

Em resposta a esta situação, os “servidores públicos” da República Popular da China (RPC), incluindo autoridades centrais e locais em todos os níveis, têm expandido seus próprios sistemas de abastecimento de alimentos especiais para proteger a si próprios e a suas famílias. As fontes especiais se referem a fazendas específicas, centros de cultivo de vegetais e empresas de alimentos que fornecem especialmente legumes, carnes, ovos e afins aos funcionários.

Magnatas chineses têm aprendido com os funcionários. Eles contratam pessoas para cultivar legumes e alimentar o gado para eles para não comerem alimentos contaminados. Alimentos saudáveis e orgânicos são melhores, mas estão fora do alcance das pessoas comuns. Só os ricos ou poderosos têm tal privilégio.

O Partido Comunista Chinês (PCC) criou o sistema de “oferta especial” desde o período Yan’an, quando o PCC lutava por sua vida na guerra civil com o Partido Nacionalista. O sistema destina-se a fornecer alimento especial e serviços vitais para altos oficiais e dirigentes do PCC.

Após o PCC ganhar o poder em 1949, o sistema de alimentação especial foi nacionalizado. Após a reforma e abertura de Deng Xiaoping se firmar por volta de 1980, este sistema também foi reformado e aberto. Ou seja, funcionários de todos os níveis têm usado seu poder para expandir infinitamente e desfrutar de suas necessidades especiais.

O público chinês tem estado acostumado a esses fenômenos e, assim, os privilégios, suprimentos ou necessidades especiais dos oficiais se tornaram um fato comum. Ninguém se atreve a desafiar esse sistema e arriscar ser acusado de minar a “estabilidade” e a “harmonia”.

Porém, a ganância não tem limites. Os poderosos têm expandido seus apetites muito bizarramente. Se seus privilégios, suprimentos e necessidades especiais somente se destinassem a alimentos orgânicos, corrupção ou luxúria, isso não seria surpresa para as pessoas. No entanto, agora as autoridades querem que jovens meninas lhes sejam especialmente oferecidas.

Oito escândalos em 20 dias

Embora a mídia oficial sempre controle rigorosamente tal “notícia negativa”, em apenas 20 dias em maio, a mídia noticiou oito escândalos sobre diretores e oficiais do PCC estuprando meninas.

Em 8 de maio, Chen Zaipeng, o diretor da Escola Elementar Wanning na província de Hainan e as autoridades imobiliárias locais foram a um hotel com seis meninas da escola primária para conseguir um quarto.

Assim que a notícia foi relatada, a China Central de Televisão (CCTV) informou apressadamente que as seis jovens não foram abusadas sexualmente. A CCTV está em Pequim e bem distante da província de Hainan, que fica na parte mais sudeste da China, assim, como a CCTV poderia saber instantaneamente que as meninas não foram abusadas sexualmente?

Em 15 de maio, foi noticiado que um diretor de sobrenome Yang de uma escola elementar no condado de Qianshan, província de Anhui, havia violado sexualmente nove jovens de 12 anos.

Em 18 de maio, uma menina de sete anos do condado de Shucheng, na província de Anhui, foi abusada sexualmente por um professor de sobrenome Wang.

Em 22 de maio, um diretor de sobrenome Zheng de uma escola primária em Leizhou, na província de Guangdong, assaltou sexualmente duas meninas.

Além disso, outras jovens foram violadas sexualmente em Qingdao, na província de Shandong; em Jiahe, na província de Hunan; e em Tongbo, na província de Henan. Os chineses acreditam que esses relatos sejam apenas a ponta do iceberg.

Aplicação da lei

As forças da lei e os oficiais abordam essa questão de forma muito diferente da gente comum. As pessoas locais estão indignadas e exigem que a polícia faça uma investigação detalhada e que os criminosos sejam punidos.

A polícia dá desculpas, arrasta qualquer investigação e até defende os criminosos. A polícia em Wanning, na província de Hainan, afirmou que as meninas não foram violadas, mesmo depois que os pais mostraram evidências. O que é mais absurdo, as autoridades locais confirmaram: “As meninas foram a um encontro com o diretor.”

Em 1997, a China revisou sua legislação penal e criou especificamente um novo crime, o de prostituir ou se envolver sexualmente com menores de 14 anos. A nova lei pode ser entendida da seguinte forma: Se um oficial estupra uma jovem que tenha menos de 14 anos, isso não é considerado crime de estupro. Em vez disso, o ato é classificado como visitar uma prostituta menor de idade. Essa lei maligna só pode ser encontrada na China.

Aparentemente, a polícia de Wanning acha que o crime mesmo de prostituir uma jovem menor de 14 é bastante sério. Eles mudaram as acusações para suspeita de molestar crianças. Em breve, o estupro de seis meninas nem mesmo será um crime. Será simplesmente uma questão moral.

Na China, não importa o nível ou cargo que você tenha, desde que você tenha algum poder, isso será suficiente. Não menospreze o poder de um diretor de escola, de um funcionário do departamento de habitação ou de um professor – as crianças são como pequenos pássaros em suas mãos. Esses pequenos funcionários podem fazer o que quiser com seus alunos.

‘Boa sorte’

A recente onda de estupro infantil é atribuída a uma ridícula superstição. Alguns funcionários acreditam que ter sexo com uma virgem, produzindo sangramento do hímen rompido, trará boa sorte e a oportunidade de promoção na carreira.

Dois anos atrás, em Xishui, na província de Guizhou, e em Lishui, na província de Zhejiang, houve relatos de funcionários que trabalhavam em conjunto com empresários ricos para abusar sexualmente de jovens com menos de 14 anos.

No ano passado, em Yongkang, na província de Zhejiang, foi revelado que alguns membros de Yongkang do Congresso Popular Nacional estavam envolvidos no estupro de uma jovem.

Especialmente alarmante é o caso de Li Xinli, que é vice-secretário do Congresso Popular na cidade de Yongcheng, província de Henan, e descrito como um “excelente membro do PCC”. De acordo com um artigo de 25 de maio no Chinalawnews.net, Li Xinli estuprou mais de 10 jovens escolares. A mais jovem tinha apenas 11 anos. Este “excelente membro do PCC” afirmou que só procurava virgens.

A jovem vítima disse ao repórter do China Law News que Li Xinli forçou-a para dentro de um carro, arrancou sua roupa no banco de trás e então a estuprou. Li Xinli também usou seu telefone celular para filmar o evento e tirar uma foto do sangue da menina.

A jovem testemunhou ter chorado e implorado a Li Xinli: “Eu só tenho 13 anos. Não faça isso, tio!” [“Tio” é um termo de respeito na China que jovens usam para se dirigir a adultos homens e não apenas a seus parentes diretos.]

Ler isso me deixa furioso.

Quando os meios de comunicação do PCC relatam sobre uma “sociedade harmoniosa” e o “Sonho da China”, isso soa como humor negro numa sociedade onde o comportamento injusto, criminoso e pervertido prossegue sem restrição em plena luz do dia.

Nota: O artigo original de 25 de maio no Chinalawnews.net foi censurado e o site Aboluowang.com informou sobre o conteúdo do artigo do Chinalawnews.net.

Yan Jiawei (nascido em 1937) é um poeta que vive em Yibing, na província de Sichuan. Ele foi rotulado de direitista durante o ‘Movimento Antidireitista’ de 1957 e foi condenado a 15 anos de prisão por “crime contrarrevolucionário”. Desde 2007, Yan Jiawei se juntou a outros sobreviventes “direitistas” para escrever cartas de apelo por seus direitos. Esse artigo foi publicado pela primeira vez no ‘Human Rights in China Biweekly’.

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