Um jornal que serve de porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC) publicou recentemente um artigo que reforça o princípio de que membros do PCC não devem ter crenças religiosas e devem defender com firmeza o marxismo e o materialismo.
Em 14 de novembro, o Global Times publicou um artigo de opinião escrito por Zhou Weiqun, o diretor da subcomissão de Assuntos Étnicos e Religiosos da Conferência Consultiva Política Popular.
O artigo diz que alguns intelectuais têm promovido a ideia de que os membros do PCC devem ter a liberdade de crença religiosa e que a crescente decadência dos valores morais na sociedade e a crescente corrupção entre os funcionários comunistas se deve à falta de fé e crença.
O artigo contesta essa alegação e diz que “culpar o ateísmo pelo declínio moral é um absurdo arcaico”.
Zhou evitou declarar que a corrupção no PCC corre solta e, em vez disso, declarou: “Se o nível moral geral dos chineses melhorou ou piorou desde a ‘reforma e a abertura’ isso precisa ser especificamente analisado.” ‘Reforma e abertura’ refere-se às políticas iniciadas pelo ex-líder chinês Deng Xiaoping em 1978, que introduziu na China elementos econômicos baseados no sistema de mercado em vez de centralmente planejados.
O artigo enfatiza que nenhuma crença religiosa para membros do PCC tem sido um “princípio defensável” desde Mao Tsé-tung, o fundador da República Popular da China. “É impossível outra escolha a não ser uma visão materialista e dialética do mundo.”
Zhou disse que, se fosse autorizado aos membros do PCC ter crenças em diferentes deuses, “[eles] se tornariam um grupo frouxamente coeso e que poderia se dissolver facilmente devido a crenças individuais”. Sendo assim, os membros do PCC devem ter “uma única visão de mundo”, defendeu Zhou no artigo.
Não só o PCC proibe que seus membros tenham uma religião como também crítica os valores universais adotados no Ocidente. O Departamento de Organização do Comitê Central do PCC publicou em julho uma nota na qual dá instruções sobre como conduzir a educação moral de seus membros e sobre como impor os ideais comunistas e a fé no PCC. A nota alerta que os membros do PCC não sejam desorientados pela “confusão criada pela democracia constitucional do Ocidente, pelos valores universais e pelos ideais da sociedade civil”.
O ingresso de novos membros no PCC começou a decair desde o ano passado. Em junho, o Departamento de Organização divulgou que os membros do PCC no final de 2013 eram 86,7 milhões e que 2,4 milhões de pessoas ingressaram no PCC nesse ano, 25,5% menos do que em 2012. Esse significativo decréscimo contrasta com os aumentos anuais ocorridos em anos anteriores.
A quantidade de membros da Liga da Juventude Comunista, uma organização comunista para adolescentes, diminuiu de 407 mil pessoas em 2013, conforme mostram os números oficiais.
Ser membro do Partido Comunista Chinês é um degrau essencial para se tornar um alto funcionário na sociedade chinesa. No entanto, é consenso geral que na China a maioria dos chineses não se filiam ao PCC porque acreditam no comunismo, mas porque visam uma carreira melhor e privilégios, motivos esses que levam à corrupção.
“Hoje em dia, quem se filiaria ao PCC que não seja para se tornar um poderoso alto funcionário, ficar rico desviando dinheiro e ter amantes?”, comentou um internauta chinês no blog Sina Weibo.