O produto interno bruto (PIB), uma relíquia da era da II Guerra Mundial, atingiu sua idade de aposentadoria. A falha fundamental desta medida é que ela ignora o objetivo dos produtos e serviços em qualquer economia: os sentimentos das pessoas. Falta-lhe o toque humano. Esse distanciamento era aceitável e necessário durante os períodos de guerra, mas o toque humano é essencial em tempos de paz para medir o progresso de qualquer sociedade.
Em quase todos os países ao redor do mundo, parece que toda a sociedade é calibrada de acordo com a dependência de crescimento do PIB. Mas políticos e empresários se esquecem de que a razão pela qual trabalhamos tão duro para alcançar o crescimento econômico é usar o fruto do trabalho para uma vida melhor: se o crescimento econômico não faz as pessoas felizes, ele é contraproducente para a sociedade como um todo.
Nos Estados Unidos, grande parte do crescimento do PIB vem das horas extras que americanos gastam no trabalho, como a semana de 100 horas em Wall Street, que deu aos magos financeiros tempo suficiente para projetarem e venderem títulos lastreados em hipotecas e cujo resultado foi um desastre para a sociedade.
Nos anos de pico do apartheid na África do Sul, de 1932 e 1972, o crescimento do PIB esteve entre os mais altos da história mundial, ainda maior do que a da China de 1978-2008. Será que todos os países em desenvolvimento ao redor do mundo devem agora seguir o caminho do apartheid?
Agora o meio ambiente está num estado lastimável em Pequim. Se você tivesse que realizar uma pesquisa com os moradores e perguntar se eles estão dispostos a sacrificar um retrocesso de 20% do PIB per capita em troca de ar limpo, água potável, alimentos seguros e um sistema de transporte público eficiente (como em Hong Kong ou Cingapura), o meu palpite é que pelo menos 80% dos moradores de Pequim votariam “sim”.
O crescimento do PIB é uma medida tão péssima do bem-estar social, que deve ser substituída o mais rápido possível.
Muitas medidas foram inventadas para medir o bem-estar de uma sociedade, incluindo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), usado pelo Programa de Desenvolvimento da ONU, e o Índice de Felicidade Planetária (HPI), que combina métricas econômicas com indicadores de bem-estar, incluindo medidas subjetivas de satisfação com a vida, que se tornaram bastante sofisticadas (o HPI usa dados do Gallup, World Values Survey e Pegada Ecológica). O HPI avalia o bem-estar social e econômico no contexto dos recursos utilizados, observando o grau de felicidade humana gerada por unidades ambientais consumidas.
Como produtos e serviços são criados para dar às pessoas uma melhor qualidade de vida, o grau de satisfação dos cidadãos deve ser incorporado em qualquer índice para medir o estado de uma sociedade. Este índice de satisfação é muito fácil de obter e os dados são extremamente confiáveis. Ele é calculado com base no número de pessoas satisfeitas, dividido pelo número total de entrevistados. Por exemplo, se entre 100 mil pessoas pesquisadas, 80 mil estavam satisfeitas ou muito satisfeitas com o seu modo de vida, isso resultaria num índice de satisfação de 80%. Este índice agregado inclui as opiniões que as pessoas têm sobre o meio ambiente, o estabelecimento político, a sustentabilidade, a desigualdade de renda, a oportunidade na sociedade e assim por diante.
Assim, uma melhor medida da situação de qualquer sociedade é incorporar os sentimentos pessoais dos cidadãos na medição do velho PIB: este é o PIB descontado, ou PIBD. É o PIB x (índice de satisfação).
O PIBD é muito mais preciso para avaliar as questões importantes na sociedade moderna: o declínio da classe média, a desigualdade de renda, o custo crescente da educação, a poluição do meio ambiente, governo corrupto e altos índices de criminalidade.
A medição do PIB nos últimos 70 anos tem desempenhado um papel fundamental na criação de muitas pessoas mesquinhas, cuja única motivação é o dinheiro, o que em última análise tem prejudicado o tecido da nossa sociedade.
Warren Song é um consultor financeiro baseado em Nova York