Medo de líder chinês traz caos ao país

26/05/2012 14:00 Atualizado: 26/05/2012 14:00

Jiang Zemin. (Minoru Iwasaki-Pool/Getty Images)O drama de Jiang Zemin está prestes a acabar

As pessoas se perguntam como a China de repente explodiu com escândalos, o ex-peso pesado político Bo Xilai removido em desgraça, sua mulher acusada de assassinato, e o poderoso Zhou Yongkang despido de autoridade e colocado sob investigação. Na verdade, estes últimos acontecimentos são apenas a continuação de um drama que começou há 23 anos. O clímax do drama ainda está por vir, mas não está longe.

Líder paranoico

Em 1989, as demandas de estudantes chineses e pessoas comuns pela democracia e liberdade amedrontaram Deng Xiaoping, que estava experimentando mover a China gradualmente naquela direção em seus próprios termos.

No contexto do movimento estudantil, os líderes que ele escolheu para realizarem a reforma política logo se tornaram uma ameaça ao seu controle total do poder. Ele teve de removê-los de seus cargos, usando a autoridade derivada de seu legado político e controle dos militares.

Primeiro, Deng demitiu Hu Yaobang, o então secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), que morreu logo depois de ser traído por seus amigos de longa data e aliados.

Então, Zhao Ziyang, que sucedeu Hu Yaobang como chefe do PCC, teve de ir. Zhao foi removido depois que expressou publicamente sua simpatia pelos estudantes pró-democracia que ocuparam a Praça da Paz Celestial (Tiananmen). Zhao permaneceu em prisão domiciliar até sua morte, três anos atrás.

Deng, depois de ter falhado duas vezes para escolher a pessoa certa para liderar o PCC, tentou em seguida um linha-dura, Jiang Zemin, o então chefe do PCC em Shanghai. Jiang ficou extremamente nervoso por ter sido escolhido, pois podia ver claramente que o que aconteceu com seus antecessores poderia acontecer com ele.

Ele estava certo. Em 1992, Deng ficou tão chateado com a falta de interesse de Jiang em promover a reforma econômica que ele fez seu famoso discurso durante sua viagem ao sul da China. Ele indicou que qualquer um que não estivesse em conformidade com a reforma da China teria de ser removido do poder.

Deng silenciosamente planejou substituir Jiang com Qiao Shi, então presidente do Congresso Nacional Popular. Qiao é conhecido como um líder de mente aberta e reformador, e os aliados políticos e amigos de longa data de Deng, os irmãos Yang Shankun e Yang Baibin, que tinham o controle dos militares, apoiavam Qiao abertamente.

Jiang estava prestes a ser removido em desgraça. No entanto, seu conselheiro político, Zeng Qinghong, satisfatoriamente encheu Deng com suspeitas de que os irmãos Yang eram muito poderosos e tinham sua própria agenda. Deng purgou os irmãos Yang e Jiang manteve seu cargo, depois que Jiang mudou sua atitude em relação à reforma.

Jiang escapou da demissão, mas descobriu que não tinha autoridade e popularidade. Um de seus pares poderia substituí-lo a qualquer momento que Deng quisesse. Jiang sentiu necessidade desesperada de ganhar o controle dos militares e da polícia armada para sobreviver. Jiang preparou o próximo ato da peça.

Lançando uma campanha política

Mao se livrou de seus rivais políticos e consolidou seu poder lançando campanhas políticas em todo o país, como o movimento antidireitista em 1957 e a Grande Revolução Cultural em 1966.

Jiang o imitou, e escolheu o que ele pensava ser um alvo fácil: a prática espiritual do Falun Gong (também conhecido como Falun Dafa).

O Falun Gong ganhou popularidade rapidamente desde sua introdução ao público em 1992. O povo chinês estava decepcionado com o dogma comunista, e os princípios do Falun Gong de verdade, compaixão e tolerância tinham ligações profundas com a cultura tradicional chinesa e suas crenças.

A meditação do Falun Gong e os exercícios de qigong ajudaram a reduzir o estresse das pessoas, e melhoraram seu estilo de vida enquanto desistiam de hábitos negativos e vícios. De acordo com um levantamento feito pelo Departamento Nacional Desportivo da China, de 70 a 100 milhões de chineses de todas as esferas da vida praticavam o Falun Gong.

Quando alguns maoístas criticaram os ensinamentos do Falun Gong como contradizendo o dogma comunista, Qiao Shi apoiou a prática com base numa investigação realizada pelo Congresso Nacional Popular e pelo Departamento Nacional Desportivo.

Depois que os praticantes do Falun Gong foram perseguidos e presos por proteger seus direitos constitucionais numa cidade a sudeste de Pequim chamada Tianjin, mais de 10 mil praticantes foram a Pequim em 25 de abril de 1999 apelar ao escritório central de recurso, o Departamento de Cartas e Visitas. O primeiro-ministro Zhu Rongji se reuniu com alguns representantes voluntários e lhes prometeu que o direito de praticar o Falun Gong seria protegido. Zhu foi elogiado pela mídia internacional por sua condução da situação.

Jiang aproveitou a oportunidade. Seguindo o exemplo de Mao de lançar a Grande Revolução Cultural escrevendo cartas; Jiang escreveu uma carta a todos os membros do Politburo e líderes aposentados, insistindo que o Falun Gong estava sendo manipulado por um mentor político e por forças ocidentais anti-China.

Ele apoiou seu argumento com informação fabricada de que o governo dos EUA tinha dado milhões para apoiar o Falun Gong. Ele insistiu que o Falun Gong, com pelo menos 70 milhões de praticantes, estava competindo com o PCC, apesar do fato de que o Falun Gong é uma prática de autoaperfeiçoamento, sem qualquer interesse político.

A maioria dos membros do Comitê Permanente do Politburo discordou que o Falun Gong apresentasse qualquer ameaça ao poder comunista, mas Jiang, no jargão comunista, “unificou” suas opiniões, o que significa que ele impôs sua vontade.

Jiang alcançou diversos objetivos perseguindo os praticantes do Falun Gong. Primeiro, ele se estabeleceu como um verdadeiro líder comunista protegendo o marxismo e o leninismo mais do que outros líderes na China. Segundo, a fim de eliminar o Falun Gong, Jiang deu poder ilimitado e recursos ao órgão do PCC chamado de Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL).

O CAPL está a cargo da polícia, da Polícia Armada Popular (com 1,7 milhões de policiais, tamanho similar a uma força militar), e outros departamentos judiciários. Seu orçamento para “manter a estabilidade” é maior do que o orçamento de defesa. A cabeça do CAPL, primeiro Luo Gan, e, em seguida, Zhou Yongkang, foi feito membro do Comitê Permanente do Politburo, os nove homens que governam a China. O crescimento do poder do CAPL protegeu Jiang das ameaças de dentro do PCC.

Sob o CAPL, uma força-tarefa especial do PCC conhecida como a Agência 610 tem autoridade em todos os níveis do PCC e do governo para “transformar” praticantes e “erradicar” o Falun Gong. Em terceiro lugar, Jiang foi capaz de identificar quem eram seus verdadeiros apoiadores e aliados, por sua atitude e comportamento em relação à perseguição.

Consequências

Enquanto um oficial estivesse do lado de Jiang, a corrupção e o crime eram questões menores. Os oficiais que apoiaram Jiang formaram a facção das mãos ensanguentadas que realizou sua campanha. Como resultado, um legado do governo de Jiang é que a China está sofrendo a pior corrupção e decadência moral da sua história.

Nos últimos 13 anos, mais de 3537 praticantes do Falun Gong foram verificados como tendo sido mortos ou torturados até a morte, o número verdadeiro é provavelmente da casa das dezenas de milhares. Milhões foram arbitrariamente detidos e submetidos à lavagem cerebral.

Jiang teria dito a um confidente que ele lamentava duas coisas em sua vida: Que ele não deixou os funcionários da embaixada chinesa deixarem Belgrado durante o bombardeio dos EUA contra a ex-Iugoslávia e que ele começou a campanha contra o Falun Gong.

O que quer que Jiang lamente, os crimes contra os praticantes do Falun Gong são tão grandes que ele e seus seguidores não podem arcar com as consequências. Jiang ficou obcecado em prosseguir sua campanha para que os crimes de sua facção não fossem expostos. Zhou Yongkang é o atual chefe desta política e está se aposentando neste ano. A facção das mãos ensanguentadas precisava desesperadamente de alguém para substituí-lo.

Bo Xilai trabalhou muito duro para perseguir os praticantes do Falun Gong a fim de agradar Jiang. Durante seu mandato como governador da província de Liaoning, a perseguição vivida pelos praticantes esteve entre as piores na China. A província de Liaoning é o lugar onde Wang Lijun, um chefe de polícia, estabeleceu um instituto para o transplante de órgãos. É também o lugar onde os órgãos dos praticantes do Falun Gong foram alegadamente extraídos para serem vendidos em larga escala.

Bo Xilai era o candidato perfeito para suceder Zhou como chefe do CAPL e no Comitê Permanente. Nessas posições, Bo poderia assegurar que a facção das mãos ensanguentadas não seria chamada a prestar contas. Zhou apoiou Bo até o último minuto antes de sua queda, o único membro do Comitê Permanente a fazê-lo.

No entanto, Jiang teve de prometer mais a Bo em troca de sua lealdade, que incluía a promessa de ajudá-lo no final a substituir Xi Jingping, o oficial designado para suceder Hu Jintao como chefe do PCC. A ambição pública e o comportamento arrogante de Bo forçaram Hu Jintao a removê-lo.

Acusações criminais

A decisão de Hu Jintao de desgraçar Bo marcou o início de um novo ato do drama. Remover Bo é um passo crucial na eventual suspensão da desastrosa política de perseguir o Falun Gong, uma política que levou a China a tornar-se cada vez mais famosa por seu histórico de direitos humanos cada vez mais instável.

Por um lado, Hu não quer assumir a responsabilidade pelos crimes cometidos pela facção de Jiang contra o povo chinês. Afinal de contas, Hu teve o título de líder do PCC pelos últimos 10 anos. Esta é sua última chance de se reabilitar, antes de se aposentar este ano.

Por outro lado, Hu não teve escolha sobre a remoção de Bo. Caso contrário, se ele permitisse que Bo permanecesse no poder e o sistema da Agência 610 e do CAPL continuasse de pé, Hu e sua família se tornaram vítimas.

Os praticantes do Falun Gong têm travado uma campanha de 13 longos anos de desobediência civil se opondo à perseguição e mudaram os corações e a mente do povo chinês. A perseguição é profundamente impopular.

Os praticantes serão vistos em breve no centro do palco no drama da transformação da China. Eles cuidadosamente documentaram os crimes cometidos durante a perseguição, e os responsáveis serão julgados e responsabilizados. Jiang será o primeiro.

Michael Young, um escritor chinês-norte-americano baseado em Washington DC, escreve sobre a China e as relações sino-norte-americanas.