Médicos de transplante preocupados com comércio de órgãos na China

06/12/2013 12:31 Atualizado: 20/04/2014 21:05

Médicos de transplante de órgão numa conferência em Sydney, Austrália, dizem que estão preocupados com as práticas antiéticas de transplante na China, mas permanecem indecisos sobre os relatos da colheita de órgãos de prisioneiros de consciência.

Os especialistas que participaram do congresso da ‘Sociedade Internacional de Doação e Aquisição de Órgãos’ (ISODP) em Sydney estavam unidos em sua oposição à prática da China de usar órgãos de prisioneiros no corredor da morte. No entanto, sua compreensão era vaga sobre a extensão do comportamento criminoso do regime chinês à luz de um relatório independente sobre a colheita ilegal de órgãos na China.

O advogado internacional de direitos humanos David Matas criticou a profissão médica como sendo complacente, dizendo que o que está ocorrendo na China é criminoso e os médicos devem “exigir uma satisfação e pedir uma investigação”.

“Se o crime foi cometido não deve ser uma questão de indiferença para a profissão”, disse David Matas, um advogado canadense conceituado e coautor do relatório “Colheita Sangrenta: Um relatório sobre as alegações de colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong na China“.

O relatório de 2007 de Matas sobre a colheita ilegal de órgãos apresenta mais de 20 evidências diferentes e conclui que os adeptos da prática pacífica de meditação do Falun Gong – que são presos, confinados e torturados sem julgamento na China – têm sido utilizados para atender a crescente indústria de transplante de órgãos.

Na conferência de Sydney havia um médico de transplante chinês de Houston, Texas, que disse acreditar nas conclusões do relatório de Matas. “O Partido Comunista sempre fez coisas terríveis… desde 1949”, disse ele. “Eu acredito que eles matam as pessoas para obter seus órgãos.”

Outro médico, que quis ficar anônimo, disse que a perseguição aos praticantes do Falun Gong na China era irracional. “As pessoas querem se exercitar e ter boa saúde, e eles não prejudicam ninguém. Por que fazer essas coisas terríveis com eles?”, questionou ele.

O Dr. Mike Jones, um especialista australiano em Unidade de Terapia Intensiva, disse que não podia verificar se os relatos de colheita ilegal de órgãos de praticantes do Falun Gong na China eram verdade, mas disse que, se for verdade, a profissão médica deve se opor a prática. “Eu não gosto disso. Nós, profissionais internacionais, devemos lutar contra isso”, disse ele ao Epoch Times.

O Dr. Dagwen Del Borsorensen, um médico norueguês de Terapia Intensiva, disse que o tráfico de órgãos é um tema comum de discussão entre os profissionais de transplante. Ele acredita que a atividade criminosa poderia estar ocorrendo na China, mas disse: “É difícil discernir entre o que é realidade e o que são histórias.”

As autoridades chinesas devem convidar pessoas de fora para fazer auditorias, disse ele, e recomendou um sistema de rastreamento dos órgãos para haver transparência no procedimento. “Eles devem ter esse sistema de monitoramento”, disse ele. “O problema é a transparência. É uma ditadura.”

Até agora, nenhum dos organismos internacionais fez quaisquer investigações sobre as conclusões dos relatórios de Matas e de outros investigadores independentes.

Profissão médica precisa fazer mais

O presidente do congresso e professor australiano Jeremy Chapman disse que a ‘Sociedade de Transplantes’ (TTS) estava trabalhando com as autoridades chinesas para impedir o uso de prisioneiros no corredor da morte para transplantes de órgãos, mas ainda havia um caminho a percorrer.

Ele admitiu ter ouvido histórias de casos criminais individuais que envolvem a colheita ilegal de órgãos, mas hesitou sobre a colheita em grande escala de órgãos de praticantes do Falun Gong. “Eu não vi evidência da utilização de prisioneiros executados exceto pelo processo judicial na China”, disse ele ao Epoch Times.

“Você está vendo fumaça e dizendo que esse fogo está queimando as vítimas do Falun Gong, e vocês não estão nos mostrando os dados. Eu não posso provar isso”, acrescentou Chapman.

Num e-mail em resposta aos comentários do Prof. Chapman, o Sr. Matas disse que é desarrazoado esperar que as autoridades chinesas forneçam dados definitivos. “Eu suponho que ele [Chapman] não espera que o governo da China publique estatísticas sobre os praticantes do Falun Gong mortos por seus órgãos”, disse ele, acrescentando que a prova deve ser observada como um todo. “É preciso considerar o que seria uma evidência razoavelmente disponível nas circunstâncias.”

Negado acesso à investigação na China, o Sr. Matas e o coautor e ex-secretário de Estado canadense David Kilgour esmiuçaram a informação pública que puderam encontrar para seu relatório, entrevistaram destinatários de órgãos, documentaram websites de hospitais de transplante na China que anunciavam órgãos de doadores vivos – propagandas estas que foram removidas após a publicação do relatório – e recolheram relatos de praticantes do Falun Gong que tiveram o sangue testado e foram submetidos a exames caros quando estavam na prisão ou em campos de trabalho forçado.

Eles também acessaram dados oficiais sobre o número de transplantes de órgãos realizados e o número de execuções declaradas que ocorreram na China entre 2000-2005, quando a perseguição aos praticantes do Falun Gong estava no seu auge.

Eles encontraram uma grande discrepância entre o volume de transplantes e o volume de fontes. Cerca de 41.500 transplantes de órgãos foram realizados ao longo dos seis anos e a origem dos órgãos é “inexplicável”, dizem os autores no relatório.

O Sr. Matas disse que qualquer indício de atividade criminosa, seja individual ou apoiada pelo Estado, deve ser motivo de preocupação para os profissionais médicos. “Uma consequência de estabelecer a existência do crime seria evitar a colaboração com profissionais de transplante criminosos”, disse ele no e-mail.

“Apesar dos esforços dos organismos médicos internacionais e das sociedades de transplante de levar práticas mais éticas para o transplante de órgãos na China, as autoridades ainda se recusam a fornecer informações estatísticas sobre as fontes de órgãos”, disse ele, acrescentando: “Eles se recusam a fornecer estatísticas de pena de morte argumentando que isso é segredo de Estado.”

O Sr. Matas apelou à profissão médica que “exija uma satisfação e peça uma investigação”. “O ônus não recaia sobre mim para mostrar que praticantes do Falun Gong estão sendo mortos por seus órgãos. Eu não tenho que explicar onde a China obtém seus órgãos para transplantes. A China tem de fazer isso. Cabe ao governo da China explicar a origem dos seus órgãos”, escreveu ele.