Como médico, sou fã da ciência, relativamente falando. Digo ‘relativamente’ porque, apesar da mesma possibilitar considerável esclarecimento, certamente não dá todas as respostas a todas as coisas.
Existem muitas coisas que podem ter mérito, mas que não foram ainda submetidas a estudos científicos adequados. Por exemplo, não existem estudos (fazendo uso de controles aleatórios) que mostrem conclusivamente que deixar de fumar é benéfico para a saúde, no entanto, isso não me impede de sugerir que alguém pare de fumar, caso solicitem o meu conselho.
Mesmo quando algo foi submetido a estudos científicos sistemáticos, o conjunto de resultados pode, na verdade, fornecer uma imagem bastante distorcida da realidade. Uma das formas de isso ocorrer é mediante viés da publicação.
Imaginemos que exista a crença generalizada de que a gordura saturada provoca doenças do coração. Estudos que reforçam esta ideia são vistos como positivos; os que contrariam o geralmente aceito são vistos como negativos. Existe a tendência para que as publicações médicas e científicas preferencialmente publicarem estudos positivos.
Em outras palavras, os estudos científicos que estão em linha com a corrente de pensamento aceita serão provavelmente mais facilmente publicados na literatura científica relação aos que apontam no sentido contrário. Desta forma, o dogma existente pode essencialmente permanecer indisputável. Algo que é inerentemente não-científico. Os próprios cientistas agravam o problema.
Vale a pena ter em mente que os pesquisadores ganham com a publicação de duas maneiras diferentes. Primeiro, aumentam a sua reputação e posição na comunidade científica. Além disso, os pesquisadores mais publicados têm mais possibilidade de atrair investidores para o seu trabalho. Para alguns cientistas, publicar regularmente é uma questão de sobrevivência profissional
Os pesquisadores sabem quais tipos de estudos têm maior possibilidade de serem escolhidos para publicação. Pode haver uma tendência inata para os cientistas produzirem pesquisa que pouco ou nada faz para aprofundar a compreensão de um assunto em particular.
Pesquisadores da Universidade de Edimburgo, Escócia, publicaram em setembro de 2011 uma análise de cienciometria com 4,6 mil trabalhos de investigação relativos a uma vasta gama de disciplinas que incluía medicina clínica, psicologia, psiquiatria e farmacologia.
Os pesquisadores analisaram trabalhos que foram publicados entre 1990 a 2007. Os resultados mostraram um declínio persistente na proporção de estudos estudo contraditórios a linha conservadora durante este período de tempo. Em 1990, 30% dos estudos eram contraditórios, mas em 2007 este número tinha encolhido para apenas 14%.
Existem evidências que apontam uma tendência crescente para a comunidade científica produzir cada vez mais do mesmo. A pressão para pesquisadores e cientistas produzirem resultados ‘significativos’ pode, em última análise, levar a uma visão pré-concebida da realidade.
Na superfície, pode aparentar que o aumento de resultados positivos significa que determinada evidência está cada vez mais comprovada. Na realidade, essa evidência pode estar tornando-se progressivamente menos questionável.
Este é apenas um exemplo do porquê a ciência nem sempre é digna de confiança implícita.
O Dr.John Briffa é um médico sediado em Londres e autor com interesse em nutrição e medicina natural. O seu website é DrBriffa.com.