Os benefícios para a saúde do coração proporcionados pelo chocolate são bem documentados na literatura científica. No entanto, uma nova análise realizada por cientistas da Universidade de Campinas expressa dúvidas sobre a eficácia do chocolate comercial como uma fonte segura para a obtenção destes benefícios. A pesquisa constatou que muitos produtos de chocolate vendidos no Brasil contêm quantidades alarmantes de chumbo e cádmio.
Publicada na “Revista de Química Agrícola e Alimentícia” da Sociedade Americana de Química (ACS), a pesquisa analisou 30 diferentes marcas de chocolates amargo, branco e ao leite vendidos em todo o Brasil – e alguns destes produtos também são vendidos nos Estados Unidos. Pesquisadores americanos testaram cada um dos produtos para analisar os dois metais, que podem causar danos cerebrais e outros problemas de saúde, especialmente em crianças.
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Eles descobriram que muitos deles continham quantidades excessivas de chumbo e cádmio, e acredita-se que esses metais foram introduzidos nos grãos de cacau através do solo contaminado. Todos os produtos testados apresentaram resultados abaixo dos limiares máximos de segurança estabelecidos pelo governo brasileiro, pela União Europeia e pela Organização Mundial de Saúde. No entanto, dois deles mostraram ter padrões maiores do que os limites estabelecidos pela Food and Drug Administration (órgão governamental dos EUA responsável pelo controle dos alimentos).
Com base na investigação, verificou-se que dois dos chocolates tinham níveis de chumbo mais elevados do que o recomendado pela FDA, de 100 nanogramas por grama (ng/g) de produto. De acordo com um estudo publicado, o teor de chumbo destas duas amostras foi medido em cerca de 130 ng/g e 140 ng/g. Em geral, as 30 amostras foram medidas entre menos de 21 ng/g e 138,4 ng/g de chumbo.
Quanto ao cádmio, as amostras medidas contêm entre 1,7 ng/g e 107,6 ng/g do metal. Com base nos testes, os pesquisadores estimam que uma criança pequena, de aproximadamente 15 quilos, que consume apenas 10 gramas de chocolate por dia, ou menos de um quarto de uma barra padrão de chocolate, ingere cerca de 20% do máximo de consumo sugerido pela União Europeia em uma semana.
“Os resultados mostraram que comer chocolate pode representar uma relevante fonte de Cd [cádmio] e Pb [chumbo], especialmente para as crianças”, conclui a pesquisa.
Entre os piores criminosos: o chocolate amargo e chocolates com alto nível de cacau
Os níveis de chumbo e cádmio parecem estar diretamente relacionados com o conteúdo total de cacau. Isso indica que os tipos de chocolate amplamente considerados mais saudáveis podem, na realidade, ser os mais perigosos em termos de contaminação por metais pesados. O chocolate preto tinha os níveis mais altos dos dois metais. Já os chocolates branco e ao leite, que contêm mais açúcar do que cacau, tiveram os níveis mais baixos.
Este resultado correlaciona-se diretamente com as conclusões do laboratório de alimentação Natural News, que encontrou altos níveis de cádmio em muitos produtos de cacau em pó. Ao contrário das sementes de cacau, que contêm uma quantidade ínfima de cádmio e outros metais pesados, os testes demonstraram que o cacau em pó contém níveis elevados de metais tóxicos questionáveis.
Os resultados dos testes do laboratório forense de cacau em pó estão disponíveis no NaturalNews.com.
O chumbo, como se sabe, pode causar danos cerebrais, atrasos de linguagem e problemas comportamentais em crianças em desenvolvimento, e dor abdominal, dor de cabeça crônica e anemia em adultos. O cádmio pode causar danos nos principais órgãos, e alteram hormônios que têm um efeito semelhante ao estrogênio.
Um resumo do novo estudo de chocolate, intitulado “O cádmio e o chumbo em chocolates vendidos no Brasil”, está disponível no Pubs.ACS.org.