Em atitude surpreendente, a ex-senadora Marina Silva escolheu selar aliança com o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o declarou, em coletiva concedida na tarde deste sábado, candidato à Presidência da República em 2014. A decisão une dois ex-aliados do PT na corrida presidencial de 2014 contra a presidente Dilma Rousseff.
O anúncio de Marina no tabuleiro eleitoral era amplamente esperado, após a rejeição na quinta-feira (3) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do registro do Rede Sustentabilidade, partido criado por ela já visando as próximas eleições. O prazo para estar filiado a uma legenda para as eleições de 2014 termina neste sábado.
Marina vinha sendo assediada por sete partidos que lhe ofereceram a legenda para que se candidatasse ao Palácio do Planalto. No entanto, ela preferiu se juntar a Campos filiando-se ao PSB e apoiando o governador pernambucano à Presidência.
Quando questionada, em entrevista coletiva, se apoiaria o nome de Campos para a Presidência, Marina respondeu: “Você tem alguma dúvida em relação a isso?”
“O PSB já tem um candidato, e está posto. E por que não apresentar o nosso programa a este candidato?”, justificou a ex-senadora, que acrescentou ter optado pelo PSB porque seria “inesperado”, o que revelou ser o seu “plano C”.
A ambientalista, que evitou abordar a possibilidade de vir a ser vice numa chapa liderada por Eduardo Campos, figura em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República em 2014, enquanto Campos ocupa a quarta posição.
O PSB recentemente se retirou do governo Dilma, semeando o campo para uma candidatura própria da legenda à Presidência da República.
Dilma lidera a preferência do eleitorado com 38% das intenções de voto, enquanto o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), aparece na terceira posição.
Marina Silva havia optado por criar o Rede após ter ficado em terceiro lugar na eleição presidencial de 2010, disputada pelo PV, com quase 20 milhões de votos. Na época, ela anunciou uma nova forma de fazer política de modo também a quebrar a polarização entre PT e PSDB que existe há 20 anos.
Foi exatamente este argumento que deu o tom dos discursos tanto de Marina quanto de Campos no anúncio deste sábado.
“Hoje nós estamos quebrando uma falsa polarização que precisa ser quebrada na política brasileira”, declarou Campos ao apresentar a filiação de Marina e de outros que a seguem ao PSB e a fundação de uma “coligação política e eleitoral” com o Rede Sustentabilidade.
“Estamos recebendo a Rede no PSB para fazer uma aliança programática, porque nós reconhecemos a Rede como algo necessário para mudar a política no Brasil”, afirmou o governador, que disse repetidas vezes que a decisão sobre candidatura virá a público “no tempo certo”.
Perguntado, entretanto, sobre se a aliança com a ex-candidata à Presidência e segunda colocada nas pesquisas atuais aumentaria as chances de o PSB chegar ao segundo turno das eleições do ano que vem e, eventualmente, ao Palácio do Planalto, Campos respondeu: “Acho que ninguém aqui tem dúvida disso não”.
Desgaste da base governista
Na avaliação do cientista político Roberto Romano, da Unicamp, citado pela Reuters, a aliança de Marina com o PSB pode mudar o quadro sucessório à Presidência que se desdenhava até o momento e que se mantinha polarizado entre PT e PSDB.
“Marina vai trazer uma espécie de aura nova ao programa (do PSB) talvez até retomando a inspiração inicial do partido”, disse Romano à agência, ponderando, no entanto, que, ao não encabeçar uma chapa, Marina Silva perde potência eleitoral, embora certamente leva seu capital político à provável candidatura de seu novo aliado.
Tanto Marina quanto Campos já foram ligados ao PT e ambos foram ministros do governo Lula, do Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia, respectivamente.
Segundo Romano, se por um lado a parceria Campos-Marina pode não bater o favoritismo da presidente Dilma Rousseff na disputa presidencial que se aproxima, pode prejudicar a corrida eleitoral do presidente do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves, que ainda enfrenta a concorrência interna do ex-governador de São Paulo José Serra.
Num comunicado, o dirigente tucano saudou a decisão de Marina de manter-se “em condições de participar das eleições de 2014” filiando-se a um partido. “O PSDB acredita que a presença de Marina Silva fortalece o campo político das oposições e contribui para o debate de ideias e propostas, tão necessários para colocar fim a esse ciclo de governo do PT que tanto mal vem fazendo ao país”, afirmou Aécio em nota.
“Historicamente juntos”
Marina aproveitou o ato para criticar a negação de registro do Rede Sustentabilidade pela Justiça Eleitoral. Ela afirmou que seu novo partido teve o direito de concorrer às eleições “cassado”, mas que o Rede existe e persistirá na busca por sua formalização.
“Nós somos o primeiro partido clandestino criado em plena democracia”, disse. “Àqueles que pensam que a história se resume numa canetada, a história é fruto de homens e mulheres que, quando não podem construir um novo caminho, se dispõem a uma nova maneira de caminhar.”
A ambientalista também comparou a situação do Rede com a candidatura de Campos, que, segundo ela, também corre o risco de ser cassada por seus adversários influentes.
“Por que o PSB? Porque em muitas frentes de batalha nós estamos juntos, historicamente”, explicou Marina.
“Mas porque também tem um governador que trabalhou para viabilizar a sua candidatura legítima a presidente da República, que trabalha a duras penas para não ser cassado, de forma diferente da minha, mas igualmente com risco de ser cassado.”