Nova York — Eles voaram por cima do atlântico até Brooklyn, e silenciosamente marcharam sobre uma das mais antigas pontes suspensas da América. Consigo, traziam uma simples e comovente mensagem. As pessoas na China devem ser livres para meditar.
Na quarta-feira passada, em uma manhã de céu claro e alegre, cerca de 600 aderentes da prática espiritual chinesa Falun Gong partiram do Cadman Plaza Park e atravessaram a ponte de Brooklyn até Foley Square. Ao todo, estiveram presentes 47 nacionalidades, a maior parte da Europa.
Eles vestiam camisetas amarelas com as palavras em inglês “Falun Dafa é bom” e a hashtag “#Free2Meditate”, e seguravam banners coloridos onde podia-se ler “Falun Dafa: Verdade, Compaixão, Tolerância” e “Parem a perseguição ao Falun Dafa na China”.
A marcha faz parte das celebrações do dia mundial de Falun Dafa que ocorreu na semana passada, em que 8 mil praticantes de Falun Gong de todo o mundo levaram aos bairros de Brooklyn, Queens e Manhattan a lembrança de que milhões de meditadores pacíficos na China não são livres para seguir a sua fé.
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Falun Gong, ou Falun Dafa, inclui uma prática de exercícios de meditação e a aderência aos ensinamentos morais baseados nos princípios de verdade, compaixão e tolerância. Ainda que a prática tenha beneficiado a saúde de milhões de chineses depois de ter sido introduzida ao público em 1992, o Partido Comunista Chinês lançou uma abrangente supressão em 1999. Milhões de praticantes foram perseguidos, mensagens caluniosas foram espalhadas pelas mídias internacionais e crê-se que dezenas de milhares de pessoas tenham sido executadas num programa estatal de colheita de órgãos para transplante.
“Nós esperamos que as pessoas em Nova York possam ter consciência da severidade da perseguição na China”, afirmou Jana Skovajsova, uma tradutora e intérprete de 31 anos, da República Checa.
Uma marcha solene
“Nós queremos que os americanos saibam sobre os crimes abomináveis que estão sendo cometidos pelo Partido Comunista Chinês”, disse Betty Hunter, uma residente de Brooklyn que organizou a marcha de quarta feira.
Hunter, uma bibliotecária aposentada de uma sociedade de advogados, crê que uma marcha silenciosa e solene é uma boa maneira de chamar atenção das pessoas que nunca ouviram falar da perseguição, e assim iniciar diálogo com elas.
O plano de Hunter deu certo: na ponte de Brooklyn, os praticantes de Falun Gong distribuíram panfletos sobre a prática e os eventos traumáticos dos últimos 16 anos, e calmamente explicaram às pessoas que perguntavam a razão da marcha. Um policial que supervisionava o evento disse a um participante idoso: “É maravilhoso ver pessoas da Alemanha, da Finlândia e de outros países juntas”, em prol do mesmo objetivo.
Os praticantes de Falun Gong também esperam que os Nova-iorquinos possam apreciar a “beleza de verdade, compaixão, tolerância”, disse May Bakhtiar, uma designer da Suíça.
Bakhtiar, uma mulher com 52 anos de aparência jovem, foi apresentada à prática de Falun Gong por um amigo em 1997. Ela disse que depois de fazer os exercícios durante três meses, as suas alergias desapareceram e a sua saúde melhorou. Também disse que, seguindo os ensinamentos morais de Falun Gong, até o seu temperamento estressado foi equilibrado.
“Falun Dafa é bom para a mente e para o corpo, e verdade, compaixão e tolerância é a resposta para acabar com a violência no mundo”, disse Bakhtiar.
Antes e agora
Muitos transeuntes aceitaram os panfletos e alguns pararam para ouvir os praticantes de Falun Gong.
Não foi assim a última vez que os praticantes de Falun Gong marcharam sobre a ponte de Brooklyn no ano 2000, um ano depois da perseguição ter inicio. A propaganda do Partido Comunista contra a prática estava ainda em plena força, e a natureza violenta da perseguição, em contraste com a natureza pacífica do Falun Gong, ainda não tinha se tornado evidentes para o mundo.
Qiu Ying, professor chinês de 48 anos de uma escola secundária na Itália, que participou das atividades de larga escala em Nova York, recorda que no início da década de 2000, os Nova-iorquinos não aceitavam os materiais dos praticantes, e nem sequer os queriam ouvir.
Durante o evento às portas da câmara municipal na terça-feira passada, foi diferente. “Estranhos que caminhavam na rua pediam os nossos panfletos, estavam curiosas para ouvir sobre a perseguição e até expressaram interesse na prática”, disse Qiu, que é um cidadão italiano.