Dezenas de milhares de manifestantes marcharam pelas ruas de Hong Kong na tarde de 17 de agosto, pedindo a Hong Kong que se submeta ao controle político de Pequim e pare de ouvir os organizadores democráticos que dizem que a cidade-estado deveria eleger os próprios líderes sem a interferência da China.
O único problema é que um número desconhecido deles foi pago para participar, segundo reportagens da televisão de Hong Kong, e muitos deles nem sequer seriam residentes de Hong Kong.
Os organizadores da manifestação, chamados de ‘Aliança pela Paz e Democracia’, protestam contra um movimento popular de Hong Kong chamado ‘Ocupar Central com Amor e Paz’. Durante meses, o movimento Ocupar Central propôs a desobediência civil em massa no centro financeiro de Hong Kong, num esforço para mudar o sistema eleitoral de Hong Kong. Atualmente, o sistema permite que o Partido Comunista Chinês filtre os candidatos que não sejam do seu gosto para o cargo de chefe-executivo, o principal cargo político de Hong Kong.
Na prática, o arranjo atual significa que desde que a colônia de Hong Kong foi devolvida pelo Reino Unido à República Popular da China em 1997, a cidade tem estado sob o controle de líderes políticos efetivamente nomeados por Pequim.
A Aliança pela Paz e Democracia gostaria de manter as coisas desta forma. O nível de apoio que este grupo está recebendo da sociedade de Hong Kong, e inclusive de comunistas patrióticos, não está claro, no entanto. De acordo com o Programa de Opinião Pública da Universidade de Hong Kong, houve entre 79 e 88 mil participantes na marcha do dia 17 – metade desse número apareceu no movimento Ocupar Central em 1º de julho.
Mas não se sabe quantos deles são verdadeiros cidadãos de Hong Kong. De acordo com o New York Times, muitos manifestantes eram da China continental, eles agitaram bandeiras chinesas e marcharam em grupos designados por suas cidades de origem na China. Idosos apareceram em vigor, em contraste com o público mais jovem do movimento Ocupar Central.
Talvez a parte mais crítica das evidências sobre os manifestantes vem de uma reportagem da emissora Now News, um canal de TV de Hong Kong. Um repórter dessa estação, infiltrado entre os manifestantes, recebeu HK$ 400 (c. US$ 50) como pagamento e uma refeição por sua participação na marcha. Mais tarde, ele devolveu o dinheiro e, identificando-se como um repórter, perguntou de onde vinha o dinheiro. Um dos organizadores do protesto disse que era seu próprio dinheiro.
As tensões têm estado altas em Hong Kong pelo menos desde junho, quando um órgão do Partido Comunista Chinês publicou um livro branco – um documento com diretrizes políticas – que procurava reinterpretar as relações de poder entre a cidade-estado e a China. O ponto principal do documento afirmava que a autonomia do governo de Hong Kong era concedida por Pequim e poderia ser tomada a qualquer momento. Grupos da sociedade civil em Hong Kong, que desejam poder eleger os próprios líderes para representar seus interesses, ficaram indignados com a interferência de Pequim.
A linha de batalha entre as forças pró-Pequim e pró-democracia se tornou mais acentuada desde então. Em 21 de junho, as quatro grandes empresas de auditoria retiraram anúncios de jornais chineses locais que declararam que os protestos do Ocupar Central criarão caos e a instabilidade social se prosseguirem.
Na semana seguinte, em 28 de junho, centenas de advogados vestidos de preto marcharam do Supremo Tribunal até o Tribunal de Última Instância, onde fizeram três minutos de silêncio, uma rara expressão de solidariedade com os grupos pró-democracia. Coletividades profissionais em Hong Kong geralmente não se organizam politicamente.
O sinal mais recente da revolta em Hong Kong foi um voto raro em 14 de agosto de advogados-membros da Sociedade Legal de Hong Kong de não confiança no presidente da ordem: 2.392 membros apoiaram a voto de não confiança, enquanto 1.478 foram contra. A Sociedade Legal tem 8 mil membros. Ambrose Lam, o atual presidente, apoiou publicamente o livro branco de Pequim. De acordo com um advogado de Hong Kong, que falou com a mídia Legal Week: “Suas opiniões tocaram nos nervos de muitos advogados de Hong Kong.”