Dezenas de milhares de moradores de uma pequena cidade da China venceram um bloqueio da polícia e invadiram um prédio do governo em 28 de julho, detendo num momento o prefeito e privando-o de sua camisa, na tentativa de interromperem um projeto industrial.
Residentes da cidade de Qidong se irritaram com o planejamento de desviar o esgoto para um estuário nas proximidades da cidade, em favor de uma indústria japonesa de fabricação de papel na região.
Eles disseram que as centenas de toneladas de poluição que seriam liberadas ameaçariam a maricultura (aquicultura de águas marinhas) de Qidong.
Multidões começaram a se formar fora do prédio do governo municipal de Qidong em torno das 6 horas da manhã em 28 de julho, hora local, a julgar pelo tempo da postagem sobre o tema no Sina Weibo, uma versão chinesa do Twitter.
Às 6h18, manifestantes venceram o bloqueio da polícia, derrubaram o portão e marcharam para o edifício do governo da cidade.
As fotografias mostram moradores saqueando o edifício e removendo documentos e bens. Num momento, milhares de pessoas haviam invadido o edifício, enquanto uma foto mostra o prefeito sem camisa sendo escoltado pela polícia. Os manifestantes haviam tentado vesti-lo com uma camisa com mensagens antipoluição.
Uma foto mostra uma mulher em pé numa mesa de um escritório do governo derrubando um recipiente de água sobre os itens na mesa. Outras fotos mostram pilhas de papéis saqueados e itens pessoais dos funcionários do escritório.
Qidong é uma cidade de nível de condado com cerca de 1,1 milhão de habitantes no município de Nantong, na província leste chinesa de Jiangsu.
Cerca de mil policiais civis e da polícia de choque chegaram logo após a incursão inicial e cercaram os moradores. Eles não dispararam bombas de gás lacrimogêneo ou recorreram a espancamentos violentos, como frequentemente ocorre quando reprimem protestos em massa na China.
Menos de cinco horas após a revolta, os manifestantes foram bem sucedidos. Às 10h55, uma postagem no Weibo da polícia de Qidong dizia, “O governo da cidade de Nantong decidiu que o Projeto de Saneamento de Nantong foi permanentemente cancelado!”
Mais de 10 mil estudantes do ensino médio e superior de Qidong usaram aplicativos de mídia social, como o popular serviço QQ, para organizar o protesto e a marcha, segundo o ‘Centro de Informação para os Direitos Humanos e a Democracia’ baseado em Hong Kong.
Um morador que se identificou apenas como Sr. Chen disse ao Epoch Times que o protesto contou com forte participação de estudantes do ensino médio e universitários. “Os jovens estavam bem na frente”, disse ele.
O protesto foi anunciado com pelo menos uma semana de antecedência e promovido com cartazes inteligentemente elaborados. Chen disse que as autoridades locais colocaram pressão sobre as pessoas para não protestarem, pediram as fábricas para ficarem abertas durante o fim de semana e fizeram residentes assinarem acordos de não tomarem as ruas.
“O governo também ameaçou os pais dos alunos, ‘Se vocês querem que seus filhos cursem a faculdade e tenham trabalho, então, tomem cuidado’”, disse Chen. “Então, eles bloquearam as informações na internet relacionadas ao protesto.”
As autoridades também agrediram um jornalista do Asahi Shimbun, um dos principais jornais japoneses, segundo um artigo publicado online pelo jornal.
Apesar de inicialmente não atacar, a polícia tornou-se violenta na parte da tarde depois que chegaram reforços de áreas circunvizinhas. Relatos de feridos e pelo menos uma morte não confirmada apareceram logo depois.
O Sr. Bai, um residente de Qidong, disse a um repórter do Epoch Times, “Ao meio-dia de hoje, um grande número de oficiais da polícia especial de Suzhou, Wuxi e de outros lugares chegaram a Qidong, em seguida, começaram a espancar os cidadãos nas ruas Huayuan e Changjiang. Um estudante de 18 anos de idade foi espancado até a morte e outra estudante ficou gravemente ferida e depois morreu no hospital.”
A Sra. Huang, outra moradora local, indicou que a polícia de Qidong “não se atreveu” a bater nos manifestantes, mas os de Nantong, que fica nas proximidades, foram brutais.
“Os moradores estavam muito agitados pela tarde, alguns estudantes foram espancados, de modo que não conseguiram se acalmar. Alguns foram presos. Eu ouvi que um estudante de 18 anos morreu após ser levado para o hospital.”
Alguns manifestantes se reagruparam para um protesto à tarde, mas o projeto já havia sido derrubado. Moradores permanecem preocupados com algum tipo de represália violenta.