Três funcionários do aparato de segurança pública do regime chinês foram expulso do Partido Comunista em 2 de julho, destituídos de seus cargos públicos e respondem à acusação perante os órgãos judiciais, segundo um anúncio recente da força-tarefa anticorrupção do regime.
Os acusados – Ji Wenlin, Yu Gang e Tan Hong – ocupavam cargos diversos em diferentes escalões no momento de suas demissões, mas todos compartilham laços estreitos com Zhou Yongkang, o ex-chefe da segurança pública e ex-membro do Politburo que também estaria sendo cerceado e investigado minuciosamente por mais de um ano sob as ordens do líder chinês Xi Jinping.
As acusações contra os três são quase idênticas: “Usar as conveniências de um posto oficial para conseguir benefícios para si e para outros, além de receber e exigir enormes subornos.” Ji Wenlin e Yu Gang ainda foram acusados de “engajar-se em adultério”, e foram removidos do Partido Comunista Chinês (PCC) e do governo, enquanto Tan só teria sido removido do PCC.
Laços estreitos
Ji Wenlin, de 48 anos, ex-vice-governador da província de Hainan, no Sul da China, possuía as conexões mais importantes e extensas com Zhou Yongkang. Ele serviu como secretário de gabinete de Zhou por 10 anos (1998-2008) e acompanhou Zhou desde seus poderosos cargos no setor do petróleo até o aparato de segurança pública na província de Sichuan, segundo seu currículo oficial.
Os cargos de Ji Wenlin incluem, entre 2005 e o final de 2008, o de vice-diretor do Escritório Geral da Secretaria de Segurança Pública, um cargo comissionado que supervisiona funcionários-chave e intermedia a papelada, e vice-diretor e secretário do ‘Pequeno Grupo da Liderança Central para Manutenção da Estabilidade Funcional’, que entre outras coisas foi responsável pela coordenação do enorme aumento de gastos com segurança antes dos Jogos Olímpicos de Pequim.
O aparato de “manutenção da estabilidade” recebeu um orçamento de mais de US$ 100 bilhões no mandado de Zhou Yongkang, constituindo o que muitos analistas políticos chamaram de um segundo centro de poder no Partido Comunista, ameaçando a autoridade de Hu Jintao, o então secretário-geral do PCC, e em certo momento pondo em perigo a transição do poder para Xi Jinping.
Jiang Zemin, o ex-líder do PCC antes de Hu Jintao, conservou sua influência desde os bastidores do poder por meio de seus asseclas ainda na ativa, que efetivavam as maquinações de sua facção – no início de 2012, isso quase resultou num golpe de Estado, coordenado por Bo Xilai, o ex-membro do Politburo que agora cumpre prisão perpétua, e Zhou Yongkang, segundo analistas políticos.
Em 2010, Ji Wenlin foi transferido para a província de Hainan; em 2011, ele foi promovido a prefeito de Haikou, a capital da província; e, em 2013, tornou-se o mais jovem vice-governador da província.
Ji Wenlin é o quarto dos secretários de Zhou a ser derrubado. Os outros três são: Guo Yongxiang, ex-presidente da Federação dos Círculos Literários e Artísticos de Sichuan, uma organização cultural artificial encarregada de aprofundar o controle do Partido Comunista sobre as artes; Li Hualin, ex-vice-diretor-geral da PetroChina, o braço público da maior empresa estatal chinesa de petróleo; e Li Chongxi, o presidente da Conferência Consultiva Política Popular da província de Sichuan, outra entidade controlada pelo PCC e destinada a arrebanhar e aliciar as elites civis.
Ji Wenlin trabalhou em estreita colaboração com os outros dois secretários em vários pontos durante suas carreiras.
O cargo de secretário ocupado por esses homens é semelhante a um assistente pessoal, mas com um toque do Partido Comunista, um papel que em parte trata de logística, segurança, negociações nos bastidores e gerencia as redes de conexões pessoais do patrão, segundo Li Chengyan, professor da Universidade de Pequim, conforme citado em reportagens da mídia chinesa. Secretários também lidam com subornos para seu mestre, controlam quem pode vê-los, recebem suas comunicações e despacham suas ordens.
Orquestrado nos mínimos detalhes
Os outros dois funcionários que foram removidos compartilham outros laços pessoais com Zhou Yongkang.
Tan Hong (cujo nome significa “Falando Vermelho”) era um ex-oficial de pessoal do Departamento da Guarda do Ministério da Segurança Pública, que fornece os serviços de segurança pessoal para os líderes do Partido Comunista, funcionários de alto escalão e figuras importantes em visita à China. A Caixin, uma publicação de negócios na China, disse que Tan foi em certo momento responsável pela segurança pessoal de Zhou.
Yu Gang foi o ex-vice-diretor do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), a principal agência do PCC que controla todo o aparato de segurança, incluindo o Ministério Público, o sistema judiciário, as prisões, as instalações ad hoc de detenção, as forças policiais, a polícia secreta e militar, e muito mais. Yu foi o último vice-diretor do CAPL quando este ainda era comandado por Zhou Yongkang (2007-2012); desta forma, ele teria conhecimento de muitos dos detalhes das operações internas do CAPL.
Tan Hong e Yu Gang foram levados pela polícia para interrogatório em dezembro passado, ao mesmo tempo em que o filho e a nora de Zhou Yongkang teriam sido colocados sob investigação, segundo reportagens. Os três agora estão sendo despojados de sua filiação ao Partido Comunista, e devem ser acusados criminalmente pelas autoridades judiciais em breve. Tudo isso, é claro, cuidadosa e minuciosamente orquestrado pelo Partido Comunista.