Mais executivos chineses na prisão do que narcotraficantes mexicanos

22/11/2013 09:52 Atualizado: 22/11/2013 09:52

Desde o desaparecimento dos cartéis de Cali e Medellín na Colômbia na década de 1990, os cartéis de drogas mexicanos passaram a dominar o mercado ilícito de drogas nos EUA com mais de 80 organizações. Mas, apesar de 10 mil condenações sobre crimes relacionados a drogas, mais altos executivos foram presos na China.

Apesar de realizarem negócios sancionados pela lei chinesa, a estrutura de risco e recompensa de subir alto numa das empresas estatais da China é semelhante ao tráfico de drogas.

Uma cidade portuária emaranhada em escândalo

Em cidades chinesas, as maiores empresas estatais são referidas como empresas de primeira classe, e na cidade costeira de Shenzhen, do outro lado da fronteira com Hong Kong, há mais de 30 delas. Em 1995, o governo de Shenzhen selecionou as seis maiores dessas empresas para receberem apoio especial do regime central. Em 2005, os CEO de todas as seis estavam cumprindo penas de prisão.

Entre eles: Chen Hongming do Shenzhen Tefa Group, condenado a sete anos de prisão; Chen Xiaoxiong do Shenzhen Construction Material Group, condenado a três anos de prisão; Fan Huiming do Shenzhen Laiyinda Group, preso após nove anos foragido; Tao Yemin do Shenzhen Saige Group, condenado a três anos e meio de prisão; Lao Derong do Shenzhen Energy Group, condenado à prisão perpétua; e Liu Dington do Shenzhen Yantian Harbor Group, condenado a 12 anos de prisão.

A imagem do outro lado da cidade também é assustadora. De 1995 a 2005, quase 80% dos altos executivos em empresas estatais de primeira classe na cidade de Shenzhen foram presos em algum momento.

Motivação política

Muitas das prisões foram politicamente motivadas e os empresários se tornaram vítimas do fogo-cruzado de lutas de poder mais amplas, geralmente entre os níveis municipal e provincial. O CEO Liu Dington do Shenzhen Yantian Harbor Group foi sentenciado por aceitar subornos de 100 mil dólares num período de sete anos. No entanto, ele foi um dos maiores contribuidores para a prosperidade desta cidade costeira. Se ele fosse um funcionário público ou um magistrado local, este suborno “relativamente pequeno” teria sido considerado insignificante na China.

Mas o Porto Yantian de Shenzhen é um dos maiores portos da China e todos no governo se apaixonam por esta vaca leiteira. Então, muitas pessoas influentes querem colocar os próprios parentes para trabalhar na empresa. Observando o jogo de interesses políticos e de poder na China, não é difícil entender por que Liu era mais vulnerável do que um chefe de cartel de drogas mexicano.

Por outro lado, se um CEO é o filho ou filha de uma família poderosa, é quase 100% garantido que essa pessoa permanecerá intocável.

Considerando os exemplos em Shenzhen, no resto do país outros executivos vivem em constante preocupação com a segurança de sua família. A maioria envia os filhos para o estrangeiro em idade muito precoce.

Gansa dos ovos de ouro

Mas por que os executivos são tão vulneráveis a prisão, até mais do que os membros de cartéis de drogas numa guerra total com diferentes governos? A resposta está no sistema de corrupção endêmica da China.

Nas três décadas após a China se abrir para o mundo exterior, ser um executivo de uma empresa estatal relativamente grande nunca foi fácil, mas era muito lucrativo. Porque a posição é decidida por oficiais do governo de alto escalão, a corrupção é quase universal. Portanto, um potencial candidato tem de preparar constantemente presentes valiosos para bajular as autoridades em troca de nomeações. Como parente próximo de um oficial do governo de alto escalão, esta rota não é necessária.

Mas isso não para por aí. Uma vez que um empresário está na posição de CEO, mais dinheiro é necessário para subornar oficiais para que a empresa possa funcionar normalmente sem assédio indevido. Além disso, outros candidatos sempre desejarão substituir o titular e não pouparão esforços desleais.

Os americanos estão familiarizados com o escândalo envolvendo a Tyco International, quando Dennis Kozlowski era CEO. Na China, esse tipo de situação acontece com muito mais frequência, exceto nos casos em que oficiais do governo e juízes são subornados para tolerar esse tipo de comportamento. Porque o dinheiro tem que vir de algum lugar, o executivo tem de encontrar o dinheiro para pagar as propinas, tornando-se um alvo para acusações de corrupção. Ao mesmo tempo, ele é uma gansa dos ovos de ouro para os destinatários do suborno.

Corrida maluca

Uma vez que o executivo está no cargo, ele tem de garantir que as autoridades superiores não saibam sobre seu desfalque e atividades de suborno. Ao mesmo tempo, ele precisa ser rápido para enriquecer de modo a possibilitar que seus filhos tenham um futuro melhor e possam estudar no estrangeiro. Se ele tiver sorte, ele fará uma saída oportuna com uma bela casa em Vancouver, British Columbia.

Portanto, ser um alto executivo é algo de curta duração na China. O executivo também pode enviar suborno a oficiais do governo mais elevados para ter alguma segurança. Se algo acontecer, um oficial superior poderia protegê-lo.

No entanto, esta apólice de seguro é cara. A cada cinco anos, novos oficiais do governo são nomeados. A nova liderança geralmente prefere promover os próprios associados e a maneira mais fácil de livrar-se do titular é acusá-lo de corrupção.

Então, por que a vida de risco de perseguir uma posição na gestão de alto nível? A principal razão é o dinheiro, que é especialmente tentador para a maioria dos chineses que vivem em relativa pobreza. É uma aposta que eles estão dispostos a assumir.

Infelizmente, muitos CEOs entendem tarde demais que os oficiais do governo geralmente tratam essas posições como uma gansa dos ovos de ouro que pode ser substituída a qualquer momento.