Mais dívida não é resposta para problemas da Europa

22/06/2012 03:00 Atualizado: 22/06/2012 03:00

Manifestação organizada pelos sindicatos contra os cortes do bem-estar do governo em 20 de junho em Madrid. (Dominique Faget/AFP/Getty Images)Um pouco mais Hayek e muito menos Keynes é necessário

A crise bancária espanhola da semana passada viu os líderes da zona do euro se debatendo para corrigirem o mais recente vazamento na fratura da barragem que está fazendo o euro ser esvaziado dos reservatórios de conceitos econômicos falhos da história.

A união monetária de 17 países sem governança fiscal comum é semelhante a 17 membros de uma família terem acesso igual a uma conta bancária conjunta. Enquanto alguns membros trabalham duro e contribuem com suas economias, outros emprestam da conta conjunta para financiar estilos de vida irresponsáveis.

Agora, uma década depois de o euro se tornar moeda comum, os líderes da zona do euro estão tentando corrigir essa falha fatal, fazendo todos os membros da família assinarem um compromisso prometendo se tornarem subitamente prudentes e responsáveis. Fazer todos os 17 membros assinarem esse compromisso está se provando bastante difícil, mas mesmo que eles o façam, quais são as chances de que realmente corrigirão seus caminhos?

Isso exigiria uma mudança estrutural fundamental, incluindo a revogação das leis trabalhistas que tornam as empresas cautelosas de contratar trabalhadores, porque demitir ou rescindir um funcionário por desempenho pobre é um pesadelo burocrático dispendioso. Significa, também, esvaziar a inchada burocracia governamental, reduzindo a excessiva compensação do setor público e reformar extravagantes programas sociais.

Mas ao invés de focar em medidas necessárias para parar a hemorragia fiscal, os líderes da zona do euro estão fixados em tentar convencer os mercados financeiros a emprestarem ainda mais dinheiro, cavando seu grande buraco da dívida ainda mais profundo.

Esgotando rapidamente a cola financeira para corrigir as fraturas, a zona do euro está pedindo o apoio do FMI que por sua vez está pressionando seus membros a contribuírem com dinheiro.

O primeiro-ministro canadense Stephen Harper rejeitou as demandas do FMI baseado no fato de que “a Europa é uma das regiões mais ricas do planeta”. Realmente, seria difícil explicar aos canadenses que, enquanto eles reduzem os gastos, reformam o seguro desemprego e movem a idade de aposentadoria de 65 para 67, seu dinheiro é enviado para apoiar países como a França cujo novo presidente socialista está prometendo acabar com a austeridade fiscal e reverter o duro aumento conseguido pelo ex-presidente Sarkozy que mudou a idade de aposentadoria de 60 para 62.

Não é difícil entender o conceito de que não se pode resolver um problema de dívida com mais dívida. No entanto, surpreendentemente, mesmo depois de maciças injeções de dinheiro do governo falharem miseravelmente, o mito keynesiano de que gastos de estímulo são o antídoto universal para reiniciar o crescimento econômico continua a existir.

Por que os políticos, a mídia e muito do eleitorado demonstram a definição de insanidade de Einstein de “Fazer a mesma coisa uma e outra vez e esperar resultados diferentes”? Talvez Stevie Wonder tenha dado a resposta a essa pergunta quando cantou, “Quando você acredita em algo que você não entende, então, você sofre de superstição.”

Este trágico abismo da dívida que tem destruído as esperanças de milhões de desempregados jovens europeus não teria acontecido se os líderes políticos tivessem prestado atenção à sabedoria do economista Friedrich Hayek.

Publicado em 1944, o livro “O caminho da servidão” de Hayek assumiu o ponto de vista oposto das teorias intervencionistas de Keynes. O livro criou uma sensação enorme porque o trabalho contesta o pós-guerra, a mentalidade anti-mercado livre de comando e controle de “o governo sabe melhor” que havia se desenvolvido a partir dos requisitos militaristas de lutar uma guerra.

Hayek acreditava que liberar o setor privado da burocracia e interferência do governo era a chave para a prosperidade econômica. Ele rejeitou os governos socialistas em que o governo dirige e organiza as atividades econômicas de acordo com um plano que “direciona os recursos da sociedade para se adaptarem a visão de planejadores particulares” em favor de criar as condições em que “os indivíduos são livres para usarem seus conhecimentos e iniciativa” para construirem riqueza criando empreendimentos.

É trágico o suficiente que aqueles trilhões de euros de gastos governamentais não só não tenham conseguido estimular a recuperação econômica, mas de fato também construíram uma montanha de dívidas que agora impede tal mudança. Além disso, o déficit de fuga tem realmente criado barreiras no caminho do investimento do setor privado, o único motor de crescimento que já levantou países da recessão.

À medida que a crise da dívida soberana se aprofunda, relatórios de pendência financeira apocalípticos têm reduzido a demanda dos consumidores e o financiamento em curso dos déficits fiscais tem espremido a formação de capital do setor privado. O pessimismo resultante dos investidores tem reduzido a disponibilidade de capital de risco para empresas em início de carreira empresarial que geram os campeões de negócios de amanhã.

Este é o legado trágico que os líderes da zona do euro estão deixando para a próxima geração. Assim como Hayek poderia ter previsto sete décadas atrás.

Gwyn Morgan é um líder empresarial canadense e diretor de duas corporações globais. Cortesia da ‘Troy Media Corporation’ (www.troymedia.com).