Mais censura e ideologia marxista nas escolas de jornalismo chinesas

28/12/2013 11:57 Atualizado: 28/12/2013 11:57

O trabalho dos jornalistas da China agora terá um tom acentuadamente mais vermelho, sem dúvida com a contribuição do Partido Comunista Chinês.

O Departamento de Propaganda do Partido Comunista assumirá agora o comando direto das dez principais escolas de jornalismo da China. Este movimento se segue a outro anunciado no início deste ano: jornalistas na ativa terão de realizar um exame nacional inédito no início do próximo ano que avaliará sua compreensão ideológica.

O professor Wu Fei, decano da Faculdade de Comunicação Social e Cultura Internacional da Universidade de Zhejiang, confirmou o papel de liderança que o Departamento de Propaganda assumirá sobre as escolas de jornalismo da China, escrevendo no Sina Weibo, uma plataforma de mídia social chinesa semelhante ao Twitter.

“De acordo com informações confiáveis, a China reformará significativamente os programas de jornalismo. O Departamento de Propaganda do Partido Comunista fará o papel de remodelar as dez principais escolas de jornalismo, incluindo a Universidade de Fudan, Universidade de Renmin, Universidade de Jinan, Universidade de Wuhan e assim por diante”, escreveu o prof. Wu na postagem.

“Algumas pessoas pensam que a educação da perspectiva jornalística marxista não é forte o suficiente em algumas escolas de jornalismo, que a ideologia de comunicação ocidental prevalece, e que a liberdade ideológica é popular, o que precisaria ser fortemente reformado segundo essas pessoas”, disse Wu.

De acordo com o jornal Apple Daily de Hong Kong, o Departamento de Propaganda do Partido Comunista enviou notificações da mudança para governos e universidades provinciais relevantes. A notificação orienta explicitamente que os funcionários dos departamentos de propaganda provinciais servirão como diretores e reitores das escolas de jornalismo nas universidades.

A notificação também exige o fortalecimento da educação na perspectiva jornalística marxista e no adestramento do que chamam “jornalistas proeminentes do Partido Comunista”.

O vazamento sobre o novo papel do Departamento de Propaganda provocou uma acalorada discussão nas mídias sociais, com um grande número de internautas chineses sendo contrários ao Departamento de Propaganda assumir o controle das escolas de jornalismo.

“Isso é a coisa mais desprezível que o Departamento de Propaganda pode fazer, controlar os acadêmicos que deveriam ter liberdade”, disse um internauta no Sina Weibo. “A independência e a liberdade são o espírito do jornalismo, e eles são a espinha dorsal de uma nação que questiona sobre si mesma.”

‘Lavagem cerebral’

No início deste ano, a Administração Geral de Imprensa e Publicação anunciou que todos os jornalistas na China terão de fazer um exame político nacional no início do próximo ano, e o resultado decidirá se os repórteres obterão suas credenciais de imprensa renovadas ou não.

O exame é o primeiro teste nacional para jornalistas na China. De acordo com a mídia estatal Diário do Povo, os objetivos do exame são: “melhorar a qualidade dos jornalistas”, “fazer os repórteres defenderem conscientemente uma perspectiva jornalística marxista” e “construir os valores essenciais do socialismo”.

O relatório diz que os materiais de treinamento possuem seis vídeos, incluindo “O socialismo com características chinesas”, “Perspectiva jornalística marxista”, e assim por diante.

Um manual de 700 páginas para o exame também está sendo vendido nas livrarias. “É absolutamente proibido que reportagens publicadas apresentem qualquer comentário que contrarie a linha do Partido Comunista”, diz o manual. “A relação entre o Partido Comunista e os meios de comunicação é como a relação entre líder e seus comandados.”

Estudiosos chineses consideram a mudança na coordenação das escolas de jornalismo e a aplicação do marxismo nos jornalistas como uma forma de lavagem cerebral.

Sun Wenguang, um ex-professor da Universidade de Shandong da China, disse à emissora NTDTV: “O Partido Comunista tem usado o marxismo como o principal conteúdo de lavagem cerebral nos alunos. Isso é de fato um veneno para as pessoas.”

“Eu acho tudo isso uma grande tristeza para a China, que as autoridades do Partido Comunista até hoje promovam essa ideologia que é contra a humanidade e que viola os direitos humanos”, disse o professor Sun.