Mais 7 mentiras sobre o livre mercado

11/04/2014 14:02 Atualizado: 11/04/2014 14:02

Na minha última coluna eu enumerei diversas “mentiras eternas” sobre o livre mercado. A lista não acabou lá, é claro, então nessa semana, eu gostaria de adicionar mais algumas mitos.

1) O livre mercado incentiva o comportamento de “bicho come bicho” encorajando as pessoas a roubarem e trapacearem impunemente

O livre mercado opera dentro de um conjunto de regras. Algumas dessas regras são formais ou explícitas, tais como os direitos de propriedade e os contratos, enquanto outras são informais ou tácitas – tais como as regras de honestidade, reciprocidade e jogo limpo. Nenhum defensor sério do livre mercado nega que ambos os tipos de regras são essenciais para a ordem social e que sua imposição, seja pelo estado ou por instituições privadas, promoverão trocas voluntárias.

2) O livre mercado gera monopólios

No processo competitivo de mercado, os monopólios podem eventualmente emergir. Eles nunca duram muito tempo, mas se durarem, isso não é necessariamente ruim. Por monopólio, eu me refiro a um único vendedor de um produto no mercado. No livre mercado, monopólios surgem por duas razões: (a) uma empresa leva à falência da concorrência no mercado por ser mais eficiente ou oferecer um produto melhor, (b) um empresário é o primeiro a oferecer um novo produto. Em cada caso, se o monopólio persistir, isso significa que o fornecedor é mais eficiente ou inovador do que seus rivais. Quando o governo protege empresas da competição ou subsidia custos, a eficiência e a inovação sofrem. Mas isso, é claro, não é um livre mercado (Veja item 6).

3) O livre mercado restringe a inovação

Alguns argumentam que uma grande companhia comprará concorrentes menores e inovadores de forma a proteger sua posição no mercado. Mas de regra, no livre mercado, a preocupação principal de um empreendimento não é a fatia de mercado, e sim o lucro. Se uma inovação é lucrativa, não faz sentido retirá-la do mercado. A companhia X pode comprar uma nova invenção da companhia Y na esperança de, digamos, estar mais bem posicionada para vendê-lo; mas se ela acaba não sendo lucrativa, bem, a companhia não a venderá. Isso não é restringir a inovação, é evitar prejuízos. Quando o L.A Angels contratou o rebatedor Albert Pujols do Cardinals, eles não o fizeram para deixa-lo sentado no banco, mas sim para que ele fizesse mais home runs para eles. Quando ele tomou um “chá de banco” não era para prejudicar o St. Louis, mas porque ele não conseguiu ajudar o L.A. Angels.

4) O livre mercado torna as pessoas egoístas

As pessoas são tão egoístas no socialismo quanto o são no livre mercado (se não mais). Qualquer sistema precisa tratar do problema de como se aproveitar desse egoísmo para promover o bem-estar geral. O livre mercado faz isso por meio da maximização do potencial de troca voluntária: João e Maria não precisam trocar bens ao menos que cada um deles espere lucrar com isso. Como Adam Smith explicou no livro A Riqueza das Nações: “não é da benevolência (bondade) do açougueiro, do cervejeiro, ou do padeiro que nós podemos esperar nosso jantar, mas de seu foco em seu próprio interesse”.

Algumas pessoas interpretam Smith como se ele afirmasse que as pessoas irão (deveriam) somente ajudar outrem para ganhos materiais. Mas como Smith explicou no seu livro anterior A Teoria dos Sentimentos Morais: “Por mais egoísta que os homens possam ser, existem evidentemente alguns princípios na sua natureza que os fazem interessar-se na fortuna de outrem, tornando a felicidade de outrem necessária para que dela derive nada além do prazer de vê-la.” Nos contatos diários, cara a cara, entre compradores e vendedores no livre mercado, as pessoas negociam com sucesso com todos os tipos de desconhecidos, o que lhes dá a confiança para serem benevolentes. Não é somente um bom negócio (o qual, obviamente, é), mas o tipo de simpatia do qual Smith escreve que é essencial para a grande sociedade livre, da qual o livre mercado é somente um aspecto.

O que nos leva a…

5) O livre mercado desencoraja a caridade e a compaixão

É curioso que algumas pessoas pensem que o voluntarismo não prosperaria em uma ordem que é intrinsecamente formada pela ação voluntária e o princípio da não-agressão. Talvez isso ocorra porque muitos, incluindo muitos libertários, acreditam que o credo libertário é “Não mexa comigo!” Em vez disso, eu penso que a verdade é outra: “Não mexa com os outros!”. Em uma sociedade não-livre a caridade é tipicamente limitada àqueles que você conhece bem; o livre mercado aumenta os seus contatos. Como Dierdre McCloskey explicou, as “virtudes burguesas” vão muito além de apenas a prudência. Como uma questão prática, a riqueza torna a caridade possível, e não existe outro sistema melhor na criação de riqueza do que o livre mercado, o que décadas de pesquisa já confirmaram várias vezes.

6) Livre mercado significa que o lucro vai ser conseguido explorando os outros

Esse erro confunde a busca por lucro com a busca por renda (rent-seeking), ou o livro mercado com o corporativismo. No livre mercado, uma pessoa voluntariamente comercializará somente se ela espera lucrar – isto é, se ela pensa que o valor da casa que venderá é menor do que o valor do dinheiro que receberá em troca. Se a troca ocorrer, significa que ambos os lados esperam ganhar. (se isso vai ocorrer ou não depende do estado de alerta e da incerteza inevitável do mundo). Contudo, no corporativismo as pessoas usam do poder políticos para obter privilégios regulatórios e benefícios pagos pelos imposto. Aqui, o ganho de uma pessoa é realmente a perda de outrem – verdadeiramente, uma “competição destrutiva” – a qual caracteriza a nossa atual “economia mista”. Isso significa, infelizmente, que hoje é muito difícil dizer se os “lucros” e os “prejuízos” que vemos são oriundos da busca pelo lucro ou da busca renda (rent-seeking).

7) Livre mercado significa que temos que concordar com tudo que acontece nele

Eu escrevi anteriormente que uma sociedade livre floresce na presença da tolerância radical e da crítica radical. Uma crítica é a competição de livre mercado de bens e serviços funcionando. Se você gostar de algo, você compra, se não gostar, não compra. Contudo, uma sociedade livre também é tolerante. “Não mexa com os outros!” Eu não gostaria que meu filho usasse metanfetaminas, mas estou disposto a permitir a venda. Um dos ricos que enfrentamos em uma sociedade livre é permitir a nós mesmos e aos outros cometerem erros. Por quê? Talvez porque nós nunca podemos estar seguros quando algo é errado ou não. E numa sociedade livre, mesmo se nos sentimos seguros com relação a algo, abstermo-nos de utilizar o poder político para forçar nossas crenças a outrem. Verdade, nós não comprometemos nossos princípios de propriedade privada e não agressão, mas nós toleramos (e pacificamente criticamos) o que não nos agrada.

Sandy Ikeda é professor de Economia na Purchase College da Universidade Estadual de Nova York, local em que recebeu o seu PhD em economia e onde estudou com Israel Kirzner, Mario Rizzo, Fritz Machlup e Ludwig Lachmann. Ele é autor de “The Dynamics of the Mixed Economy: Toward a Theory of Interventionism (1997)”, e membro-associado do Institute for Humane Studies (IHS)

Tradução de Matheus Pacini; revisão de Ivanildo Terceiro

Esta matéria foi originalmente publicada pelo Portal Libertarianismo