Magnata de Hong Kong é processado em campanha anticorrupção

30/08/2014 09:51 Atualizado: 30/08/2014 09:51

Outro aliado próximo do ex-líder chinês Jiang Zemin foi posto na alça de mira da campanha anticorrupção que já expurgou inúmeros aliados de Jiang no Partido Comunista Chinês.

Vincent Lo Hongshui, presidente do Grupo Shui On sediado em Hong Kong, tem laços estreitos com Jiang e vários membros da facção deste. A empresa de Lo foi indiciada no Supremo Tribunal de Hong Kong em 12 de agosto por Hu Dehua, que apoia o atual líder chinês Xi Jinping e que se opõe a Jiang Zemin.

Hu Dehua, o filho do ex-líder reformista chinês Hu Yaobang, é o proprietário da empresa Beijing Jingda Property Development Ltd. Diz-se que depois que ele se recusou a vender sua empresa para Lo Hongshui cinco anos atrás, mais de 200 bandidos ocuparam um projeto de desenvolvimento imobiliário da Beijing Jingda durante dois meses usando violência e ameaças.

Os bandidos teriam sido contratados pela empresa de Lo, a SOCAM Development Ltd., um membro do Grupo Shui On. A SOCAM também teria roubado mais de 200 documentos importantes da Beijing Jingda. O processo judicial atual exige que a SOCAM Development Ltd. devolva os documentos roubados e pague indenização pelas perdas.

Cinco anos de atraso

Hu Dehua não pôde tomar medidas legais até agora devido às conexões de Lo Hongshui com autoridades comunistas poderosas, segundo Wang Xiaopei, o representante legal de Hu Dehua.

Hu Dehua reclamou sobre Lo Hongshui duas vezes a Yu Zhengsheng, um membro do Comitê Permanente do Politburo, durante duas sessões do Partido Comunista Chinês (PCC) em 2013, mas a questão nunca foi resolvida. As duas sessões se referem às reuniões anuais da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política Popular, que são realizadas em sucessão.

Wang Xiaopei disse que Lo Hongshui conspirava com Zhou Yongkang, um alto funcionário do PCC e assecla de Jiang Zemin, para desafiar as leis e os regulamentos.

“Ele era apenas um proprietário de casas, mas foi capaz de contratar mais de 200 pessoas para ocupar aquela área”, disse Wang Xiaopei. “Isso não poderia ocorrer em qualquer sociedade regida pela lei. Acho que ele é simplesmente um líder da máfia, um bandido.”

Agora que Zhou Yongkang está sob investigação na campanha anticorrupção promovida por Xi Jinping, Wang espera que o sistema judicial possa trazer justiça. “Ninguém se importava antes, mas agora que o sistema legal e de segurança de Zhou Yongkang entrou em colapso, o ambiente judicial deve melhorar”, disse Wang.

Wang Xiaopei disse que levou Lo Hongshui ao tribunal em Hong Kong simplesmente porque não havia outro lugar para buscar justiça na China. Ele disse que, mesmo depois de cinco anos, não houve uma investigação mais aprofundada sobre o caso.

Wang acrescentou que a defesa está usando táticas para retardar o processo e não admitir que os documentos foram roubados. Sem os documentos, Wang disse que é praticamente impossível administrar a empresa. Segundo Wang, quando eles delataram os criminosos pela primeira vez à delegacia de polícia local, mas as autoridades policiais disseram que não lidariam com disputas econômicas.

Laços com a facção de Jiang Zemin

Lo Hongshui, de 66 anos, começou seu império imobiliário em Shanghai em 1984. A sede de seu Grupo Shui On em Hong Kong era uma das poucas empresas na cidade que investiram na China há muitos anos.

Com relações estreitas com a facção de Jiang Zemin baseada em Shanghai, Lo Hongshui é considerado a ponte entre os quadrantes políticos e empresariais de Shanghai e Hong Kong, o que lhe valeu o apelido de “protegido de Shanghai”.

Lo Hongshui teria laços estreitos com Jiang Zemin; com os ex-líderes comunistas de Shanghai, Chen Liangyu e o falecido Huang Ju; com o atual chefe do PCC em Shanghai, Han Zheng; com ex-membros do Comitê Permanente do Politburo, Zhou Yongkang e Jia Qinglin; e com o ex-chefe do PCC em Chongqing, Bo Xilai, além de outros funcionários de alto escalão que são membros da facção de Jiang Zemin.

Tem sido dito que a capacidade de Lo Hongshui para adquirir imóveis é inigualável, superando com facilidade outros desenvolvedores imobiliários, incluindo o homem mais rico da Ásia, Li Kashing.

O primeiro projeto de desenvolvimento de Lo Hongshui na China teria sido o City Hotel Shanghai, e o presidente do projeto foi Han Zheng. Mais tarde Han Zheng se tornou o chefe do distrito de Luwan em Shanghai, e, em 1996, Lo Hongshui adquiriu 52 hectares no distrito de Luwan para o desenvolvimento do distrito de Xintiandi em Shanghai.

Xintiandi é um distrito comercial e de entretenimento afluente localizado próximo do local do primeiro Congresso Popular Nacional do PCC. Lo Hongshui definiu a data do término das construções para 30 de junho de 2001, um dia antes do 80º aniversário do PCC. O projeto Xintiandi realocou 3.800 famílias em 43 dias, a fim de alargar as estradas. Lo Hongshui informou que Jiang Zemin participou da conclusão e elogiou o projeto como uma concepção brilhante.

Lo Hongshui repetiu e ampliou o modelo de Xintiandi em Chongqing, Wuhan e outras cidades da China. Por exemplo, em 2008, o chefe do PCC em Chongqing, Bo Xilai, elogiou Lo Honghsui por seu desenvolvimento imobiliário em Chongqing.

O advogado de direitos humanos Zheng Enchong de Shanghai, conhecedor da situação da facção de Jiang Zemin, disse que este é mais um exemplo de um magnata conivente com a facção do ex-líder chinês em busca de fortuna. De acordo com Zheng, um dos empreendimentos da Shui On foi localizado num lote que costumava ser o aeroporto do 4º corpo da Força Aérea.

“O 4º corpo da Força Aérea pertence ao Comitê Militar Central, do qual Jiang Zemin era o presidente na época. Seu filho Jiang Mianheng era o vice-diretor do programa espacial tripulado. Sem a sua aprovação, quem poderia adquirir o lote? Isso se trata de enorme corrupção”, disse Zheng.

Lo Hongshui também esteve envolvido no escândalo da previdência de Shanghai em 2006, quando o fundo de previdência social de Shanghai foi investido ilegalmente no mercado imobiliário e outros projetos. O Projeto de Inovação Comunitária do Grupo Shui On emitiu um comunicado admitindo que seu projeto obteve um empréstimo desse tipo e que devolveria o dinheiro o quanto antes.

Laços com Leung Chun-ying

Lo Hongshui é um amigo próximo e grande apoiador financeiro de Leung Chun-ying, o chefe-executivo de Hong Kong, outro assecla da facção de Jiang Zemin em Hong Kong.

Lo Hongshui é membro da Conferência Consultiva Política Popular (CCPP), vice-presidente da Federação Nacional da Indústria e Comércio, além de muitas outras posições. Quando Leung Chun-ying anunciou que estava se candidatando a chefe-executivo, Lo Hongshui foi o primeiro magnata a apoiá-lo.

Lo Hongshui disse que ele e Leung Chun-ying eram amigos há mais de 30 anos. Lo e Leung se conheceram em 1985, quando foram nomeados para integrar a Comissão Consultiva da Lei Básica, e Leung foi outrora um diretor não-executivo do Grupo Shui On.

Zheng Enchong disse que a situação atual de Lo Hongshui afetará a influência de Leung Chun-ying e a situação política de Hong Kong. “À medida que a investigação continua sobre o caso de Lo Hongshui, Leung Chun-ying será implicado sem dúvida”, disse Zheng.

Zheng Enchong disse que, segundo algumas análises, a intenção política de Hu Dehua é clara, já que ele é um velho amigo da família de Xi Jinping, que está atacando um aliado de Jiang Zemin. Zheng acredita que a ação judicial em andamento contra Lo Hongshui é um sinal da determinação de Xi Jinping para continuar o expurgado da facção de Jiang.