Li Kashing, um magnata de Hong Kong cuja pegada descomunal se estende por diversas indústrias, como portos, varejo, plásticos e telecomunicações, anunciou que pretende vender uma porção significativa de seus imóveis em Shanghai e Guangzhou, avaliados em bilhões de dólares.
A iniciativa faz parte dos planos de Li para investir grandes somas na Europa e também porque suas relações políticas na China e Hong Kong, que lhe serviram bem por muitos anos, parecem ter atenuado.
Uma das principais vendas é o Centro Financeiro Oriental de 35 andares, um prédio comercial no distrito central de negócios de Shanghai, que ainda está em construção. O prédio fica perto do Centro Financeiro Mundial de Shanghai e da Torre Jin Mao, ambos edifícios emblemáticos da cidade.
Outro edifício que Li tem a intenção de vender é o Metropolitan Plaza, um grande complexo comercial parcialmente ao ar livre, localizado na linha de metro em Guangzhou, no sul da China. O Metropolitan possui um cinema ao ar livre e uma área comercial subterrânea de 87 mil m².
A notícia das intenções de vendas de Li foi relatada pelo 21st Century Business Herald, uma importante publicação de negócios chinesa, e por outras mídias financeiras chinesas. O Herald colocar o valor total dos ativos em cerca de US$ 5 bilhões.
A notícia das vendas vem logo após Li tornar público seus planos para desfazer-se da rede de supermercados ParknShop de Hong Kong, que tem 237 lojas na cidade. A companhia Hutchison Whampoa Ltd. de Li Kashing, que detém a rede de supermercados, estaria considerando uma oferta de US$ 3-4 bilhões da China Resources Enterprise, uma filial de uma gigante estatal chinesa, cujo presidente Song Lin foi recentemente flagrado num escândalo de corrupção envolvendo as minas de carvão na província de Shanxi.
Li Kashing é o homem mais rico da Ásia e o 16º do mundo, com uma fortuna pessoal avaliada em US$ 27,1 bilhões, segundo a Bloomberg. Seu carro-chefe, o Grupo Cheung Kong, que é composto por 22 empresas de capital aberto, tem um valor de mercado de quase US$ 110 bilhões. Ele atualmente visa entregar as rédeas do império para seu filho mais velho Victor Li.
O movimento de Li para tirar dinheiro da China pode estar ligado a relacionamentos rompidos com as principais figuras políticas comunistas chinesas ou que perderam a utilidade, ao longo dos últimos anos.
Quando Li começou a fazer negócios na China, no final de 1980, uma de suas frases famosas foi: “Faça as coisas e não fale de política.” No entanto, fazer política pode ter se tornado inevitável na China.
Seu filho Victor Li foi nomeado membro de um órgão consultivo do Comitê Permanente do Partido Comunista Chinês, chamado Conferência Consultiva Política Popular, e Li Kashing manteve relação estreita com o ex-líder chinês Jiang Zemin
Anedotas, invariavelmente impossíveis de verificar, abundam na imprensa política de Hong Kong sobre os negócios realizados entre Li e Jiang e outros membros da liderança política chinesa. Uma diz que Li forneceu vastos fundos para uma empresa de telecomunicações do filho de Jiang Zemin em troca de imóveis de sua escolha em Pequim. Jiang regularmente se hospedava nos hotéis Harbour Plaza de Li quando ia a Hong Kong e tomaria café da manhã com Li e seu filho Victor, segundo o jornal Ming Pao de Hong Kong. Li não gozava de tal proximidade com Hu Jintao, o sucessor de Jiang Zemin, embora Hu o elogiasse como um “patriota”, segundo a mídia estatal Xinhua.
A conclusão confusa de um complexo de desenvolvimento imobiliário em Pequim em 2007 foi criticada severamente em várias mídias do continente e a reputação de Li foi afetada. Ele começou a vender seus ativos na China em 2008, provavelmente devido à relação desgastada.
Em Hong Kong, Zheng Enchong, um advogado baseado em Shanghai e focado em questões de direitos civis, disse que Li fez dinheiro de acordo com a lei de Hong Kong, mas em Shanghai isso ocorreu por meio de conexões políticas.
“Após ver os repetidos fracassos de Li em Shanghai, eu aconselho a todos os investidores de Hong Kong: Se você quiser lutar contra o Partido Comunista Chinês por dinheiro, isso não dará certo”, disse Zheng. “Você acabará pior do que Zhou Zhengyi.” Zhou era um magnata imobiliário extravagante que foi condenado à prisão por 16 anos em 2006, depois de ser pego envolvido em suborno e fraude.
Durante a eleição do chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, no ano passado, Li apoiou a candidatura do empresário Henry Tang. “Especialistas da indústria dizem que Li Kashing julgava ter um império de negócios monopolista”, escreveu a China Business Online, uma revista da China continental. “Ele não será capaz de manter sua posição dominante no atual terreno político.”