Mãe chinesa que protestava por caso de estupro é libertada

13/08/2012 03:00 Atualizado: 13/08/2012 03:00

Tang Hui (direita) visita seu advogado no sétimo dia de sua sentença num campo de trabalho. (Weibo.com)Uma mãe chinesa, que recentemente foi condenada à reeducação pelo trabalho por apelar contra a condenação dos homens que estupraram e forçou sua filha de 11 anos à prostituição, foi libertada pelas autoridades depois que internautas chineses expressaram indignação sobre o caso.

As autoridades locais disseram que Tang Hui, de 39 anos e da cidade de Yongzhou, foi libertada na manhã de sexta-feira passada, informou a mídia estatal. Eles libertaram-na alegando que sua filha tem 17 anos agora e ainda é menor de idade e necessita dos cuidados da mãe.

Seis anos atrás, Tang Hui foi forçada a resgatar sua filha que foi sequestrada e forçada a realizar atos sexuais. Cinco dos sete homens no caso receberam sentenças, dois deles foram condenados à morte. Os réus apelaram, o que a levou a protestar.

Não satisfeita com as sentenças, Tang Hui apelou ao governo local, que por sua vez enviou-a para um campo de trabalhos forçados por um ano e meio. Vale destacar a brutalidade e arbitrariedade empregadas pelo sistema de aplicação da lei do regime do Partido Comunista Chinês (PCC).

Tang Hui foi presa porque “perturbou seriamente a ordem social e exerceu um impacto muito negativo na sociedade”, segundo a Secretaria de Segurança Pública local em Yongzhou.

Autoridades locais, justificando terem condenado-a ao trabalho forçado, disseram que ela bloqueou o tráfego e dormiu na sala do tribunal quando estava apelando.

A rádio estatal citou autoridades locais dizendo que Tang “bloqueou carros e entradas de edifícios e gritou em voz alta”, o que teria lhes dado razão para sentenciarem-na.

As autoridades locais foram acusadas por internautas chineses de não realizarem uma audiência antes de emitirem a ordem de prisão para Tang Hui.

Li Chengpeng, um conhecido escritor chinês com 5 milhões de seguidores no website de microblogue Sina Weibo, disse em sua conta que Tang Hui é uma vítima das “ordens cruéis” do PCC.

“Vocês tem filhas e mães?” perguntou Li Chengpeng, dirigindo-se às autoridades em Yongzhou.

“Vá para casa e pergunte-lhes sobre enviar para um campo de trabalhos forçados uma mãe que apela por sua filha. Será que isso é humano? [Província de] Hunan, liberte esta mãe”, escreveu ele.

O marido de Tang Hui, que não foi nomeado, disse à mídia estatal Global Times, “Estou ansioso que sua mãe seja libertada do campo de trabalho para fazer-lhe companhia e aliviá-la do pesadelo passado.”

Outro proeminente escritor, Murong Xuecun, que tem cerca de 1,1 milhão de seguidores em seu microblogue, disse que há uma forma de “barbárie” na forma como as autoridades chinesas condenaram Tang Hui a trabalhos forçados.

“O caso de Tang mostra a barbárie e a inação das agências de aplicação da lei, mas também a escuridão e crueldade do sistema de reeducação pelo trabalho. Uma pessoa pode ser jogada na prisão por ofender um oficial local, sem julgamento ou provas”, escreveu ele, segundo a Nação Folha de Chá, um blogue focado na China contemporânea.

“Milhões de pessoas encontraram este destino desde [que o sistema foi posto em prática] 45 anos atrás e ele continuará a trazer dor e sofrimento nos dias que virão. Não é apenas perigoso para Tang Hui, mas para todos os cidadãos. Se a reeducação pelo trabalho não for abolida, os cidadãos nunca estarão seguros”, escreveu ele.

O sistema chinês de reeducação pelo trabalho tem sido frequentemente criticado por ativistas de direitos humanos e governos ocidentais.

Gan Yuanchuan, o advogado de Tang Hui, postou no website Weibo na manhã de 10 de agosto que ela foi libertada.