Oficialmente, Moçambique exporta 100 milhões de dólares de madeira para a China. Entretanto, as estatísticas chinesas contabilizam a importação de 4 vezes mais – 400 milhões de dólares – da matéria-prima, segundo publicação do site África Monitor do dia 23. Segundo o site, a discrepância entre os números divulgados oficialmente e a quantidade real de madeira que entra na China tem aumentado, o que mostra a incompetência das autoridades moçambicanas em combater o comércio ilegal de madeira, fenômeno que tem provocado a devastação de florestas em diversos países africanos.
Relatórios preparados por organismos internacionais, como os da ONU Comtrade, compilados pelo World Resources Institute, mostram que 300 milhões de dólares em madeira moçambicana chegaram ao território chinês de forma ilegal. Outra questão mostrada pelos relatórios é que a elite no poder também está envolvida no negócio ilegal de madeira. José Pacheco e seu antecessor na Agricultura foram alguns dos nomes citados.
Desde 2009, a entrada de madeira moçambicana na China não tem parado de crescer. Na época, era inferior a 90 milhões de dólares, e em 2014 superou os 400 milhões de dólares. De 2013 para 2014, o seu valor quase duplicou. A China tem investido cada vez mais no setor florestal africano: de 8 projetos em 2007, pulou para 84 em julho de 2015, quase todos de pequenas e médias empresas. Moçambique é um dos países onde o fenômeno é mais visível, segundo um artigo de Bo Li e Yaxin Yan sobre as consequências da presença de madeireiros chineses na África, publicado pela Quartz Africa.
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Diversos países africanos têm introduzido proibições à exportação de madeiras não processadas, dentre eles Camarões, Gabão e Moçambique. No entanto, informações fornecidas pela ONU e mencionadas pelos dois autores afirmam que tais providências não têm surtido efeito, devido à incapacidade da administração florestal. Em 2010, Moçambique vetou a exportação de madeira em toras e sem processamento, principalmente das espécies de primeira qualidade como chanfuta, jambirre, umbila, pau-ferro, mecrusse (cimbirre), panga-panga e mondzo.
Em 2013, a Agência de Investigação Ambiental (AIA) dos Estados Unidos emitiu um informe sobre a intromissão de madeireiros chineses em Moçambique. Outro relatório divulgado no mesmo ano pela Universidade Eduardo Mondlane demonstrou que o Estado moçambicano sofreu um prejuízo de 540 milhões de dólares entre 2003 e 2013 devido à exportação de madeira explorada ilegalmente no país. “A quantidade de madeira ilegal explorada no país e exportada para a China de forma ilegal é 5,7 vezes maior do que o volume declarado oficialmente pela Direção Nacional de Terras e Florestas”, cita o relatório. O documento informa também que entre 80% e 90% das árvores derrubadas em Moçambique são enviadas para a China.
Em novembro de 2015, o governo de Moçambique suspendeu a concessão de novas licenças de exploração madeireira por um prazo de dois anos, para reduzir o desmatamento descontrolado que assola o país. Tal decreto teve como objetivo primordial salvar espécies ameaçadas nas florestas moçambicanas pela intensa pressão madeireira, que atinge principalmente as províncias de Sofala, Manica, Zambézia e Tete (no centro do país) e Cabo Delgado (no norte).