Lutas internas fraturam o regime chinês

05/04/2012 03:00 Atualizado: 05/04/2012 03:00

Enquanto Hu Jintao, atual presidente chinês, atendia um encontro da APEC no Hawaii em novembro de 2011, Bo Xilai mobilizava as tropas do exército numa demonstração de poder, sinalizando sua capacidade e talvez intenção de realizar um golpe de Estado. (Kevork Djansezian/Getty Images)A China está nas garras das lutas internas entre os líderes do Partido Comunista que ameaçam transformarem-se em lutas abertas como não se vê a gerações.

A crescente e amarga divisão entre facções rivais alcançou novos níveis quando um aliado-chave de um dos membros mais agressivos do Partido foi levado para Pequim e posto sob investigação por altos oficiais.

Bo Xilai, membro do Politburo, lançou uma campanha agressiva contra o crime organizado em paralelo com uma campanha para reavivar o zelo comunista-maoista.

Tais campanhas, normalmente lançadas apenas pelo líder do Partido, são amplamente vistas como um esforço para reverter o destino do declínio político de Bo e assegurar um lugar no Comitê Permanente do Politburo, órgão composto dos nove membros que controlam o Partido Comunista Chinês (PCCh). No 18° Congresso Nacional do PCCh no final deste ano, um novo líder do Partido será selecionado e o Comitê Permanente reformulado.

Mas o esforço de Bo foi profundamente prejudicado após seu braço direito, Wang Lijun, de 52 anos, ser investigado por corrupção pelas autoridades centrais e pelos rumores espalhados de que ele está entregando Bo, seu ex-chefe, num esforço para salvar a si mesmo.

Wang Lijun era o primeiro de sete vice-prefeitos e o chefe de polícia da Secretaria de Segurança Pública de Chongqing até 2 de fevereiro, quando foi rebaixado para 7° vice-prefeito responsável pela educação. O rebaixamento agora parece estar ligado a sua investigação por corrupção pelas autoridades de Pequim.

Mas a queda de Wang tomou um rumo dramático quando ele fugiu de Chongqing para a cidade de Chengdu, cerca de 270 quilômetros de distância, e tentou se esconder no consulado dos EUA, até que cerca de 70 viaturas policiais de Chongqing cercaram o prédio.

Wang mais tarde se rendeu às autoridades de Pequim ao invés da polícia, levantando rumores de que sua separação de Bo colocou sua vida em risco.

A narrativa repetitivamente recontada entre internautas chineses e fontes de notícias não oficiais, que têm se provado corretas na cadeia sensacional de eventos, é que Wang estava preparado para vender Bo, depois que Bo começou a prender os associados de Wang, três dos quais foram relatados mortos.

A sórdida história de Bo e Wang

Poucos podem falar sobre Bo com tanta autoridade quanto Wang Lijun. Bo manteve Wang a seu lado em vários cargos que assumiu e em muitas campanhas sangrentas.

Os dois ascenderam e se distinguiram politicamente seguindo à risca as ordens do ex-líder Jiang Zemin em suprimir o Falun Gong. Wang, em particular, tem sido vinculado a denúncias de extração forçada de órgãos, enquanto Bo incentivou oficiais sob sua administração a praticarem alguns dos crimes mais terríveis contra os praticantes do Falun Gong, incluindo jogar 18 praticantes femininas nuas em celas de prisão masculinas.

O conhecimento sobre esses abusos e a corrupção oficial deram a Wang munição ampla contra Bo.

Bo foi removido de sua posição como ministro do comércio exatamente quanto ele articulava ganhar uma posição no Comitê Permanente durante o 17º Congresso Nacional em 2007. Sua queda foi em grande parte devido à morte, poucos meses antes, de seu influente pai, mas também porque o atual primeiro-ministro Wen Jiabao argumentou que Bo atraiu muita atenção internacionalmente com sua perseguição ao Falun Gong, sendo alvo de dúzias de processos ao redor do mundo, de acordo com um informe liberado pelo WikiLeaks proveniente do consulado-geral norte-americano em Shanghai.

Bo foi rebaixado para governar a cidade e província de Chongqing como secretário do Partido naquele Congresso.

O informe citou uma fonte dizendo que enviar Bo para Chongqing “punha um ambicioso, arrogante e amplamente desprezado competidor por uma posição no topo numa posição cheia de problemas bem distante de Pequim.”

O informe também revelava as sementes da luta que agora se desenvolvem. Nele é observado que rebaixando Bo, Hun Jintao foi capaz de salvar seu próprio aliado, Wang Yang, o ex-secretário de Chongqing, dos perigos criados pelos desafios que enfrenta Chonging.

Wang Yang foi colocado na segurança relativa e proeminente província de Guangdong, também como secretário do Partido. A transferência foi vista como uma promoção, melhorando a chances de Wang Yang por uma posição no Comitê Permanente. Wang Yang e Bo são frequentemente vistos como adversários entre a próxima geração de líderes do Partido disputando uma vaga no Comitê Permanente.

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China, orientação geográfica mostrando cidades e províncias relevantes. (Diana Hubert/The Epoch Times)

Perseguindo rivais através da corrupção

Wang Lijun comandou os ataques de Bo ao crime organizado em Chongqing e supervisionou milhares de prisões e centenas de sentenças a prisão. Mas enquanto mafiosos eram cercados, empresários e oficiais que serviram ao rival de Bo, Wang Yang, também eram.

Ao visar oficiais de Wang Yang, Bo solidificava sua posição em Chongqing e enfraquecia a credibilidade de Wang Yang ao vinculá-lo a figuras do crime e sugerir implicitamente que Wang era corrupto ou tolerava corrupção.

Como a braço forte na campanha “anti-máfia” de Bo contra o crime organizado, Wang Lijun, desempenhou um papel vital nos ataques de Bo contra rivais políticos.

Wang Lijun executou o ex-chefe do Departamento Judicial do Município de Chongqing sob Wang Yang, um homem chamado Wen Qiang.

Mas Wen Qiang era um aliado-chave do próprio predecessor de Wang Yang em Chongqing, He Guoqiang, que agora está no Comitê Permanente e é o chefe da Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCID), o órgão mais elevado em perseguir oficiais corruptos. É o CCID que agora investiga Wang Lijun.

Mas a corrupção é simplesmente um disfarce usado para perseguir rivais políticos, observa outro informe diplomático norte-americano publicado pelo WikiLeaks.

“A corrupção é tão ampla entre líderes provinciais seniores que considerações políticas são o principal método de identificar alvos para investigação”, observa uma fonte no informe do WikiLeaks, resumindo uma opinião compartilhada por contatos que informaram o consulado norte-americano de Guangzhou em maio de 2009.

Retirando as luvas

Um tipo de acordo entre cavalheiros e uma ênfase na estabilidade política têm reduzido as lutas internas a um mínimo, mas em anos recentes isso começa a falhar.

Disputas internas quase se tornaram lutas abertas no anterior Congresso do Partido cinco anos atrás, observa um informe diplomático norte-americano de 2007. Ele detalha os esforços de Hu Jintao em buscar aliados em figuras marginalizadas pelo ex-líder chinês Jiang Zemin, mas que ainda tinham influência no Comitê Permanente.

“Disputas internas tornaram-se cada vez mais ‘violentas’, quase ao ponto de ‘luta aberta’”, observaram as fontes do informe que se originaram no consulado de Shanghai antes do 17º Congresso.

Agora, a caminho do 18º Congresso, parece que as lutas se intensificaram. Se esse for o caso, isso é um mau presságio para os esforços desesperados do Partido em promover a estabilidade na China.

Bo não é aliado de Hu Jintao, e seus desafios cada vez mais audaciosos a autoridade máxima do Partido têm incluído mobilizar as forças militares quando Hu estava no Hawaii num encontro da cúpula da APEC em novembro passado.

O exercício foi interpretado como sugerindo que Bo tinha o apoio do militares e poderia dar um golpe.

Bo repetiu a mensagem, mais sutilmente, depois que a atual saga veio a tona, fazendo uma viagem de inspeção à província de Yunnan na segunda semana de fevereiro no 14º Batalhão Militar do Exército da Liberação Popular em Kunming, cidade capital de Yunnan, que foi estabelecida por seu pai, Bo Yibo.

Enquanto o Partido enfrenta instabilidade interna, ele também enfrenta protestos numerosos sem precedentes e rebeliões através do país. A situação do país é “muito, muito delicada”, de acordo com o embaixador norte-americano Gary Locke numa entrevista recente.