Por meses as autoridades comunistas da China têm promovido uma campanha ideológica e agressiva contra a liberdade de expressão na internet. Agora, juntou-se a refrega um general chinês, que já estudou inglês, escreveu romances e ensinou na Universidade de Stanford.
“A internet hoje se tornou a principal frente de batalha da luta ideológica. Forças ocidentais hostis estão tentando em vão usar essa variável para derrubar a China”, declarou o general Liu Yazhou num artigo publicado primeiramente no Diário do Exército da Liberação Popular (ELP) antes de ser difundido na internet – incluindo ser colocado em destaque nos principais portais e websites afiliados ao Partido Comunista Chinês (PCC).
No passado, o general Liu ficou conhecido por suas ligações relativamente sutis e tendências liberais pela reforma política. A saraivada de 16 de outubro, com o típico jargão combativo do PCC, foi uma mudança brusca de tom.
“Ataques inimigos”
“O estado geral da esfera ideológica hoje é que o Ocidente é forte e nós somos fracos. Os inimigos atacam e nós nos defendemos. Nossos oponentes determinam os limites do discurso, criam problemas e nos exaurem para debilitar nossa vigilância”, escreveu Liu, antes de entrar numa explicação do porquê os membros do PCC precisam fortalecer sua fé no comunismo.
A solução? Assumir o controle da internet. “A batalha ideológica é de fato a batalha do poder pela fala”, disse ele. “Hoje, quem controla a internet, especialmente o Weibo [uma plataforma de mídia social na China similar ao Twitter] e os blogues, tem mais poder de discurso.”
Liu disse que as vozes e rumores na internet, que são “contra a corrente ideológica dominante”, eram uma espécie de “sopa de galinha para a alma” que fascinou o povo chinês. Ele acrescentou: “Para lutar pelo poder do discurso, devemos prestar muita atenção na tendência da opinião pública e da mídia e desenvolver métodos criativos para controlá-las. Caso contrário, sem o uso de novos métodos e com velhos métodos ineficazes… estaremos em extremo perigo.”
Para alguns observadores, no entanto, o discurso de Liu não sinalizou nada mais do que os “velhos métodos” de controle do PCC.
Mao falha
“O PCC não tem como controlar a opinião pública na internet, então ele retorna à linguagem de Mao Tsé-tung para atacar esses pontos de vista, como os valores universais e o constitucionalismo”, disse Chen Kuide, o editor do website ‘China In Perspective’.
“A fim de proteger seu regime e não entrar em colapso como a União Soviética, eles estão adotando o discurso maoista. Mas esse estilo de comunicação foi criticado pelo próprio PCC e pela sociedade em geral na década de 1980. As pessoas se ressentem e riem disso”, disse Chen em entrevista por telefone.
Um usuário do Weibo comentou: “Parece que o PCC está em pânico e extremamente nervoso. Se você está com tanto medo, você pode muito bem desligar a internet e rastejar para debaixo da cama.”
Alinhado com o PCC
Seja qual for o poder de persuasão das declarações de Liu sobre a geração plugada na internet, isso certamente foi bem-recebido pela liderança do PCC atualmente, porque coincide estreitamente com as observações recentes e o alinhamento político do líder chinês Xi Jinping.
“Persistir resolutamente no controle dos meios de comunicação pelo PCC; persistir em políticas que controlem os jornais, revistas, emissoras de TV e sites de notícias. O que quer que você persevere, se oponha, diga ou faça, tudo deve satisfazer os requisitos do PCC”, disse Xi Jinping em comentários invulgarmente duros numa conferência recente de Trabalho Ideológico e Propaganda Nacional, segundo o Diário do Povo.
“Vida ardente das massas”
O artigo de opinião de Liu de 15 de outubro foi seguido de outro em 16 de outubro no Diário do Povo, que tem pontos mais específicos sobre que papel a mídia deve desempenhar na China. Por exemplo, em vez de informar sobre questões negativas na sociedade chinesa e no regime: “O principal alvo das notícias de propaganda deve ser as massas e deve haver mais relatos de propaganda sobre a grande luta e a vida ardente das massas. Deve haver mais propaganda sobre os avanços, obras-modelo e histórias tocantes das pessoas.”
Os termos “avanços” e “modelo” geralmente se referem a comportamentos que estejam em acordo com a propaganda do Partido Comunista.
Autodisciplina
Junto com o direcionamento para a mídia e a propaganda emanados do alto escalão, as autoridades chinesas também estão criando comitês em todo o país que monitorarão e garantirão o cumprimento a nível local.
Estes “comitês de moralidade e autodisciplina de notícias” estão agora em cinco cidades e províncias, sua finalidade é evitar notícias pagas, relatórios falsos e “limpar os jornais”, segundo um relatório oficial. Cada comissão terá 20 membros, um terço proveniente do meio midiático e outros dois terços de órgãos afiliados ao PCC.
A ideia do PCC definir o que é moral no jornalismo soou como irritante para alguns. “É impossível manter a moralidade na mídia sob o regime comunista!”, vociferou Zhu Xinxin, ex-editor da Estação de Rádio Popular de Hebei, em entrevista à Rádio Som da Esperança.
“O PCC destrói a consciência dos jornalistas. Jornalistas que realmente têm moralidade e consciência não podem sobreviver na mídia oficial. Eles são reprimidos e perseguidos na China. Além disso, não há base legal para definir o que é mentira e o que é rumor. O PCC usa a política para reprimir os meios de comunicação.”