DAFOH (sigla inglesa para Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos) é uma organização de médicos de diversas especialidades e de várias partes do mundo que se reúnem, desde 2006, sob uma bandeira comum: a erradicação da ilegal extração forçada de órgãos na China.
Sim, pessoas vivas são fornecedoras de matéria-prima (órgãos) para uma lucrativa indústria de transplantes que se beneficia de um turismo transnacional que envolve muitos milhões de dólares. A grande maioria das vítimas são prisioneiros de consciência, condenados pelo Partido Comunista Chinês devido às suas crenças, como os tibetanos e os praticantes de Falun Gong, uma prática de meditação chinesa que começou a ser perseguida pelo regime chinês devido ao grande número de adeptos.
Essa deformação do sentido humano do transplante, e a sistematização dessa perversidade com o aval do regime chinês, é uma ignominiosa realidade que teima em continuar vigente. A luta para denunciá-la e erradicá-la mereceu, sob o nome dos DAFOH, a indicação para o Nobel da Paz deste ano. É o que informou, em 9 de fevereiro, o fundador e diretor executivo dos DAFOH, Torsten Trey. (A carta do doutor Trey segue traduzida no final da matéria).
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Diversas evidências revelam que Jiang Zemin, ex-líder do Partido Comunista Chinês (PCC), ordenou a extração de órgãos de praticantes do Falun Gong. Numa chamada telefônica investigativa secreta em setembro de 2014, um ex-ministro da Saúde para o Departamento de Logística Geral do Exército da Libertação do Povo Chinês (PLA) discutiu uma ordem de Jiang para iniciar a extração de órgãos.
Na investigação telefônica, Bai diz: “Naquela época, o Premier era Jiang… houve uma ordem, um tipo de instrução, para realizar tais coisas, isto é, os transplantes de órgãos. … Naquela época, depois que o Premier Jiang emitiu a ordem, todos nós fizemos muitos trabalhos anti-Falun Gong…”
Apesar da pressão internacional e das várias evidências, o Partido Comunista Chinês ainda nega tais alegações. Entretanto, as autoridades chinesas responsáveis não apresentaram nenhuma resposta consistente em relação às acusações, e até hoje não explicaram a origem dos milhares de órgãos usados em transplantes nos últimos 10 anos, chamando grande atenção das organizações internacionais e das sociedades médicas.
Os parlamentos da União Europeia e do Canadá, e a Subcomissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, aprovaram resoluções que condenam a extração forçada de órgãos de prisioneiros de consciência na China. Todos consideram o assunto como um crime contra a humanidade. Diversos países tomaram medidas para desencorajar seus cidadãos de viajar para a China para realizar transplantes, devido à grande probabilidade de serem provindos de pessoas assassinadas por seus órgãos, sem qualquer consentimento. Um documentário sobre o tráfico de órgãos de praticantes de Falun Gong, chamado Human Harvest (Colheita Humana), recebeu o Prêmio Peabody em 2014 por sua excelência em jornalismo.
Obstáculos e perigos na investigação
“State Organs – Transplant abuse in China” é um livro que reúne estudos de especialistas de diversas áreas que realizam trabalhos sistemáticos sobre as fortes evidências de uma lucrativa indústria de transplantes chinesa que utiliza órgãos de prisioneiros de consciência (cristãos, tibetanos, uigures e principalmente praticantes de Falun Gong), o que, além de imoral, é ilegal, inclusive na China.
Os estudos estimam, com forte amparo de dados e outros recursos, que esse sistema tenha sido organizado e colocado em operação em 2000, justamente após o Partido Comunista Chinês, em 1999, começar a perseguir, de modo ilegal, os praticantes de Falun Gong, uma prática de meditação chinesa que, ao se tornar muito popular no período, mesmo sem ter envolvimento com questões políticas, foi visto por setores do Partido como uma ameaça.
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A perseguição, ilegal, se desdobrou em muitos métodos e práticas abomináveis, entre as quais a extração forçada de órgãos de pessoas vivas. Enfim, práticas do submundo foram organizadas e passaram a ser operadas com toda a força e sistemática do Estado Chinês, incluindo cadeias de hospitais militares e civis coordenadas com os sistemas penitenciário e judiciário.
No capítulo que escreveu, Torsten Trey conta a forma como, antes de fundar os DAFOH, ao frequentar congressos médicos sobre transplantes, entrara em contato com evidências de graves problemas no sistema chinês. Relata também o modo como conduziu uma investigação do problema, encontrando mais vastas e fortes evidências, além de ter registrado para o leitor as dificuldades de realizar tal pesquisa na China, com barreiras e coações destinadas a vedar esse sistema que funciona à margem da legalidade do Estado chinês, embora algo assim não possa ser organizado nem mantido em funcionamento sem as decisões de dirigentes do Partido Comunista Chinês.
Carta de Trey informando a indicação para o Nobel da Paz de 2016 (traduzida pelo Epoch Times):
“DAFOH Recebem Indicação para o Prêmio Nobel da Paz de 2016
É com grande satisfação que informamos que os Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos [Doctors Against Forced Organ Harvesting (DAFOH)] têm sido honrados com a indicação para o Prêmio Nobel da Paz de 2016 por uma década de determinação na sensibilização, especialmente dentro da comunidade médica, das práticas de transplantes de órgãos antiéticas na China e outras regiões.
A indicação é um reconhecimento do nosso trabalho em dirigir a atenção do mundo para as graves violações da ética nos transplantes na China. A China é o único país no mundo que tem usado seus sistemas hospitalares militares e civis, em coordenação com os seus sistemas judiciários e penitenciários, para fornecer sistematicamente órgãos de prisioneiros de consciência, sem qualquer consentimento, para alimentar uma lucrativa indústria de turismo de transplante. A participação ativa da comunidade médica chinesa e aceitação tácita pela comunidade internacional desse genocídio por atacado continuam firmes e devem ser interrompidas.
A indicação para o Prêmio Nobel da Paz demonstra que os nossos esforços não tem sido em vão e que há uma vasta gama de apoiadores.
Atenciosamente,
Torsten Trey
Diretor executivo – DAFOH
9 de fevereiro”