Londrina teme pela morte do pai em campo de concentração na China

01/03/2013 19:04 Atualizado: 01/03/2013 19:04
Zonghai Yu, pai da londrina Amy Yu, está encarcerado na prisão Mudanjiang, apelidada de “campo de concentração da morte”. Ele está preso há uma década por sua crença espiritual e tem sofrido várias formas de tortura (Amy Yu)

Amy Yu nunca tinha ouvido falar do famoso “banco do tigre” antes de visitar o centro de detenção onde seu pai estava encarcerado. Com 15 anos na época, ela perguntou à mãe o que o era o grande e estranho banco.

“Ela me disse que era um ‘banco do tigre’, usado para torturar as pessoas”, conta Amy. “Havia também variadas ferramentas de ferro que pendiam das paredes. Algumas eram afiadas e outras tinham ganchos na ponta. Todas eram instrumentos de tortura, disseram-me mais tarde.”

Doze anos depois, Amy, com 26 anos agora, está bem familiarizada com as maneiras como as autoridades chinesas lidam com os que se tornam alvos do regime.

Seu pai, que já passou mais de uma década numa prisão na província de Heilongjiang na China, está aleijado de uma perna quebrada, parcialmente cego, sofre crises de tontura e perdeu a maioria dos dentes. Suas mãos, a única parte do corpo exposta aos olhos dos visitantes, estão cheias de cicatrizes, diz Amy.

Apenas agora que ela vive em Londres, Amy teve a chance de começar a fazer campanha por sua libertação.

Mas, enquanto Amy se esforça, ela não pode mais voltar-se para sua mãe buscando conforto ou respostas, pois ela também tem estado presa pelos últimos nove anos.

Amy, uma estudante de design de moda da Escola de Artes de Cambridge, agora uma residente de Edmonton, diz que o motivo de sua família ter sido ilegalmente perseguida pelo Estado é por causa de suas crenças espirituais.

Seus pais praticam o Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, uma disciplina espiritual chinesa que tem sido perseguida pelo Partido Comunista Chinês desde 1999.

“Tenho medo de que ele não consiga suportar até poder voltar para casa”, diz Amy, enquanto descreve a última vez que viu o pai. “Eu o encontrei extremamente cansado. Ele é realmente uma pessoa muito forte, eu nunca tinha visto aquele olhar antes em seu rosto. Temo que ele tenha perdido a esperança.”

“Minha família foi destruída. Mesmo com meus pais detidos, a polícia ainda me assediava e tomava nossos pertences de casa. Durante anos, eu tenho testemunhado muito do lado negro da China.”

O congressista Frank Dobson escreveu ao Ministério das Relações Exteriores sobre a situação de seu pai. A resposta do Ministério foi reiterar o fato de que o órgão regularmente aborda questões de direitos humanos com as autoridades chinesas por meio de reuniões de Diálogos sobre os Direitos Humanos.

A londrina Amy Yu diz que não vê ou sabe notícias de seus pais há mais de dois anos e teme por sua segurança. Os pais de Amy estão presos em campos de trabalho forçado na China (Simon Gross/The Epoch Times)

Amy diz que o conselheiro local Bambos Charalambous tem oferecido apoio e ela conseguiu alguma cobertura da mídia local inglesa. Ela diz que precisa fazer mais para aumentar a visibilidade do caso do pai.

Seu pai, Zonghai Yu, era pintor na Biblioteca Municipal de Mudanjiang. Ele foi condenado sem julgamento e sem representação legal a 15 anos na prisão Mudanjiang em 2001, após ser flagrado pendurando faixas que diziam “Falun Dafa é bom!” por sua cidade.

A prisão Mudanjiang foi apelidada de “campo de concentração da morte”, segundo o Minghui.org, um website que tem documentado a perseguição ao Falun Gong desde 1999.

Segundo o website, os presos trabalham todos os dias por 11 horas produzindo pauzinhos de comer.

Um relatório do Minghui afirma, “Os pauzinhos ‘sanitários’ produzidos pela prisão Mudanjiang não são fornecidos apenas para a cidade, mas são também exportados para o Japão. Estes produtos levam consigo vírus e bactérias. Os presos frequentemente não lavam o rosto por 10 a 20 dias.”

Uma vez, um prisioneiro deixou uma pequena nota numa embalagem de pauzinhos, revelando a verdade sobre a produção e as condições insalubres.

“Quando o examinador descobriu e identificou quem havia feito aquilo, os guardas espancaram o prisioneiro com bastões elétricos e tacos de madeira até ele estar quase morto”, diz o relatório. “Ele foi levado para o hospital e saiu de lá sem qualquer tratamento. Dias depois, ele morreu.”

O Minghui estima que existam cerca de 100 praticantes do Falun Gong detidos na prisão Mudanjiang. Sabe-se que treze já morreram lá desde 1999.

De acordo com o Faluninfo.net, mais de 3.600 mortes de praticantes do Falun Gong foram documentadas desde 1999 e mais de 63 mil relatos de tortura. Mas eles enfatizam que numerosos outros casos não foram documentados, devido ao restrito bloqueio da informação e estimam que o número real de mortes do Falun Gong seja de dezenas de milhares.

Amy está preocupada que seu pai possa não sobreviver até o fim de sua sentença em 2016.

O Sr. Yu era um indivíduo forte e saudável. Amy diz que ele atribuía sua saúde e vigor à prática diária dos exercícios do Falun Gong, que segundo ele o curaram de graves problemas no quadril.

A última vez que Amy tentou visitá-lo em 2010, as autoridades bloquearam-na por vários meses.

“Quando fui visitá-lo, sua perna havia sido quebrada. Meu pai me disse que seu peito foi espancado severamente por bastões elétricos e agora ele sente dificuldade em respirar. No passado, ele tinha um coração perfeitamente saudável, mas agora ele tem problemas cardíacos crônicos. Sua cabeça foi atingida por algo pesado e ele frequentemente sente tontura.”

A maioria de seus dentes foi quebrada devido a espancamentos regulares e em 2006 seu canal lacrimal foi danificado e a falta de tratamento o deixa parcialmente cego devido ao inchaço.

Amy Yu e sua mãe; no fundo está o caractere chinês para “amor”. Esta é a imagem que resta após a polícia levar todos os pertences da família (Amy Yu)

A mãe de Amy, Wang Meihong, era uma engenheira sênior num instituto geológico. Ela foi condenada em 25 de outubro de 2003 a 11 anos de prisão por distribuir panfletos e CDs que visavam aumentar a conscientização sobre a situação do Falun Gong na China.

Amy ainda se lembra da noite em que sua mãe foi levada. “A polícia levou a mim e minha mãe para o departamento de polícia. Quando chegamos lá, a polícia argumentou com a minha mãe, acusando-a de ser uma praticante do Falun Gong.”

“Então, eles apontaram para mim e disserem, ‘Os pais dessa menina são praticantes do Falun Gong, ela deve ser má.’”

Eles jogaram uma foto de Li Hongzhi, o fundador do Falun Gong, no chão e ordenaram que Amy a pisasse.

“Eles viram-me hesitar e gritaram para mim, ‘Veja, ela é uma praticante do Falun Gong também, tranquem-na!’ Eu fiquei com medo e minha mãe me empurrou para fora da porta, dizendo, ‘Ela é apenas uma criança, deixem-na ir.’ Então, ela me disse, ‘Volte para casa baobao [bebê] – corra!’”

“Eu fugi chorando. Eu não sabia para onde ir, minha casa estava vazia, meu pai já estava preso. Eu liguei para minha melhor amiga e pedi para passar a noite com ela.”

Mas o foco principal de Amy agora é seu pai devido a seu estado de saúde crítico e as condições a que está sujeito, explica ela.

“Apesar de sua saúde debilitada, a prisão ainda o obriga a fazer trabalho escravo. Nossos familiares têm pedido um exame completo de saúde e tratamento médico para ele fora da prisão. A administração penitenciária havia concordado verbalmente. Mas três anos depois, nada aconteceu ainda.”

“Três meses atrás, devido a seu estado de saúde crítico, o tribunal tinha a intenção de libertar meu pai com a condição de que ele renunciasse ao Falun Gong.” Seu pai recusou e foi deixado para suportar o resto de sua sentença de 15 anos.

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