Livro expõe tortura sexual desumana em campo de trabalho na China

28/07/2014 13:37 Atualizado: 28/12/2017 17:36

O novo livro “Coma Vaginal”, que revela a brutal tortura sexual contra mulheres praticantes do Falun Gong e peticionárias detidas no Campo de Trabalho Masanjia na China, foi publicado em Hong Kong em 21 de julho.

O livro é de autoria de Du Bin, um ex-fotojornalista do New York Times. Em maio de 2013, ele lançou em Hong Kong um documentário sobre o mesmo tema, intitulado “Sobre cabeças de fantasmas: Mulheres no Campo de Trabalho Masanjia“. Em 2011, ele publicou o livro “Escova de Dente” (bilíngue em chinês-inglês) em Taiwan sobre a tortura de praticantes do Falun Gong.

“Como um ser humano, não há razão ou desculpa para tolerar as atrocidades que ocorreram no ‘Campo de Trabalho Feminino de Masanjia’, incluindo o uso prolongado de dilatadores uterinos para alimentar mulheres à força com tubos, fazer mulheres se deitarem e viverem em suas próprias excreções, amarrar várias escovas de dente juntas e torcê-las na vagina de mulheres presas, colocar pimenta em pó em suas vaginas, eletrocutar seus seios e vaginas com bastões elétricos e jogá-las nuas em celas masculinas…”, escreveu o autor Du Bin no Twitter, após o lançamento do livro.

O livro registra em detalhes os testemunhos de dezenas de sobreviventes do Campo de Trabalho Masanjia, mulheres que foram vítimas ou testemunhas oculares. Uma das fontes importantes do livro é um diário escrito por Liu Hua, uma ex-presidiária que testemunhou essas torturas comumente aplicadas em praticantes do Falun Gong e peticionárias. Liu revelou que conseguiu sair com seu diário do Campo de Trabalho Masanjia escondendo-o em sua vagina.

“É simplesmente um inferno na Terra”, disse Liu à emissora nova-iorquina NTDTV. “Eu sou um ser humano, eu tenho consciência e humanidade. Assim, eu anotei cada caso, um por um, e tenho falado sobre isso desde que fui libertada.”

Du Bin escreveu em outra postagem no Twitter: “Somos seres humanos, e não bestas… Este livro é para lembrar a humilhação e a tragédia infligida às mulheres, as quais têm o digno papel da reprodução humana.” Os livros de Du Bin não estão disponíveis na China continental devido à censura do Partido Comunista Chinês (PCC).

Du Bin foi detido pelas autoridades de Pequim em 31 de maio do ano passado por 37 dias, após o lançamento em Hong Kong de seu documentário “Sobre cabeças de fantasmas”. Seu livro “Massacre da Praça da Paz Celestial”, sobre o tema do movimento democrático de 1989, também foi publicado em Hong Kong em maio passado antes de sua detenção.

Em abril passado, a revista Lens da China continental publicou uma matéria investigativa revelando pela primeira vez a violência e a tortura desumana na China, particularmente no Campo de Trabalho Masanjia.

Mais tarde, em junho, o New York Times entrevistou uma dúzia de vítimas que estiveram presas em Masanjia e em outros campos de trabalho forçado em todo o país. O NYT indicou que o tratamento mais severo e comum ocorria contra praticantes do Falun Gong, mas outros grupos também sofriam abusos.

O Falun Gong é uma disciplina espiritual tradicional chinesa, que foi proibida em julho de 1999 pelo então líder chinês Jiang Zemin. Este temia que a crescente popularidade do Falun Gong – que na época tinha mais de 70 milhões de adeptos, segundo estimativas do regime chinês – ameaçasse seu governo e ganhasse os corações e mentes da população chinesa, destruindo anos de doutrinação autoritária comunista.

Assim, Jiang lançou uma campanha nacional contra o Falun Gong. Milhões foram detidos, segundo o Minghui.org, um website de informações sobre o Falun Gong. Desde 1999, mais de 3.750 praticantes do Falun Gong foram confirmados mortos devido à tortura e abusos, embora o número de mortos seja muito maior, mas difícil de documentar, devido ao bloqueio e controle da informação exercido pelo regime comunista na China. Pesquisadores estimam que dezenas de milhares de praticantes do Falun Gong tenham sido executados por meio da extração forçada de seus órgãos para abastecer a indústria de transplante da China.

O Campo de Trabalho Masanjia está atualmente fechado e o sistema de reeducação pelo trabalho forçado foi oficialmente abolido no final do ano passado. No entanto, a mídia chinesa informou que uma série de antigos campos de trabalho simplesmente mudaram seus nomes e continuam em operação – com os mesmos guardas, os mesmos presos e idênticos métodos de tortura e abusos. Por exemplo, alguns campos de trabalho se tornaram “centros de desintoxicação [de drogas]”.

Vários advogados e ativistas chineses apelaram às autoridades que compensassem os detentos que sofreram tratamento desumano, mas as autoridades não responderam.

O Minghui compila diariamente relatos de prisões e detenções de praticantes do Falun Gong na China continental, coletando as informações diretamente de familiares, indivíduos próximos, etc. Dezenas de casos são relatados todos os dias de praticantes do Falun Gong que são presos e torturados em centros de detenção, os chamados centros de desintoxicação e centros de reeducação legal – locais que tentam doutrinar e fazer lavagem cerebral nos presos e principalmente forçar praticantes do Falun Gong a renunciarem a suas crenças.