Li Kashing, um bilionário de Hong Kong que raramente falou com a mídia nos últimos anos, deu uma entrevista exclusiva no mês passado sobre suas opiniões políticas e vários outros temas à estatal chinesa Diário Metropolitano do Sul.
Li é o presidente da Hutchison Whampoa Ltd. (HWL) e da Cheung Kong Holdings (CKH) e a pessoa mais rica da Ásia, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg. A entrevista foi realizada em seu escritório da CKH e cobriu temas como sua opinião sobre o chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, o sequestro do filho mais velho de Li, o desinvestimento de Li de negócios na China e a rigorosa política de propriedade de Hong Kong.
A entrevista de 5 páginas foi publicada em 28 de novembro e também apareceu no Semanário do Sul, atraindo a atenção do grande público em Hong Kong e na China.
Muitas pessoas interpretaram as críticas de Li Kaishing sobre Leung Chun-ying como uma mensagem clara de que Li se opõe a Leung e estaria do dado do líder chinês Xi Jinping.
Essa visão foi reforçada pelo fato de que Li escolheu dar sua entrevista ao Diário Metropolitano do Sul, uma mídia porta-voz da facção de Xi Jinping. O chefe-executivo Leung, por outro lado, apoia a facção do ex-líder chinês Jiang Zemin.
No dia anterior à entrevista ser publicada, um envelope branco contendo pó branco chegou ao escritório da Comissão de Títulos e Futuros da CKH. Um funcionário relatou à polícia e algumas pessoas especularam que isso significava que a entrevista de Li irritou a facção de Jiang.
Filho de Li sequestrado
Li também revelou detalhes do sequestro de seu filho Victor Li Tzar-kuoi pelo mafioso Cheung Tze-keung em 1996. Li disse que pagou ao sequestrador um grande resgate e lhe pediu que ficasse longe e parasse de cometer crimes.
Um funcionário aposentado do PCC, que comandava os assuntos de Hong Kong e Macau e que agora vive em Hong Kong, disse anonimamente que suspeita que, quando Li falou sobre o sequestro do filho e descreveu sua atitude e conselhos ao sequestrador, esta foi uma dica sobre sua situação atual. O ex-funcionário disse isso seria uma mensagem para Leung Chung-ying e Zeng Qinghong, um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo e figura importante da facção de Jiang.
De acordo com a análise do ex-funcionário, Li insinuou que Leung e Zeng o chantagearam, uma situação semelhante a do sequestro. O ex-funcionário disse que Li Kashing tem sido constantemente chantageado pela facção de Jiang, mas por meio de Zeng Qinghong, que estava encarregado dos assuntos de Hong Kong para o Partido Comunista Chinês (PCC).
A família de Li teria sido ameaçada por agentes do PCC que se infiltraram numa greve num dos terminais de contêineres de Li em abril deste ano. O ex-funcionário do PCC disse que achava que Li Kashing escolheu mencionar o sequestro do filho para explicitar sua posição sobre as ameaças atuais.
Remorsos políticos
Li disse na entrevista que, se tivesse a chance de começar tudo de novo, ele consideraria se envolver em política. Ele expressou remorsos que não tenha feito isso no passado.
Recentemente, houve convulsões políticas em Hong Kong, em meio à luta de poder entre o atual líder chinês Xi Jinping e o ex-líder Jiang Zemin, e a China tem sofrido mudanças políticas drásticas após a 3ª Sessão Plenária. Xi Jinping rapidamente substituiu um número de funcionários provinciais e militares, e a Central do PCC emitiu orientações contraditórias, algumas tomando o partido de Xi Jinping e outras de Zeng Qinghong.
A entrevista de Li gerou polêmica na comunidade de Hong Kong sobre Li estar ou não envolvido na política. Durante a eleição do chefe-executivo, Li apoiou Henry Tang, ao invés de Leung. No entanto, quando perguntado na entrevista se ele achava que deveria se reconciliar com Leung, Li respondeu: “Nunca houve qualquer rancor. O que há para conciliar?”
Ele acrescentou que não poderia prever mudanças políticas ou influenciar a política, e que não adiantava se preocupar se questões políticas eram dirigidas a ele. Mesmo assim, ele disse que estudaria os detalhes da 3ª Sessão Plenária. Li disse que teria menos vontade de investir onde há políticas injustas, ambientes operacionais ruins e quando o governo exerce o estado de direito seletivamente.
Outra área que tem sido muito discutida são os desinvestimentos recentes de Li e o que isso pode significar. No início deste ano, foi anunciado que a companhia HWL de Li estava vendendo a maior cadeia de supermercados ParknShop e desfazendo-se da Hong Kong Electric. Estes desinvestimentos se tornaram um foco da mídia, mas Li Kashing disse na entrevista que não gosta do termo “desinvestimento” e que não é verdade que está retirando investindo de Hong Kong.
Durante a greve no terminal de contêineres em abril deste ano, algumas pessoas chamaram a companhia de Li de uma “hegemonia imobiliária”. Li rejeitou isso como uma piada. Ele disse que os promotores imobiliários não são hegemônicos; mas que é o governo que conduz o mercado imobiliário de Hong Kong e a política fiscal, nenhum dos quais é decidido pelos promotores.
“Nós ganhamos muito mais dinheiro no exterior do que em Hong Kong”, disse Li. “Nós compramos menos em Hong Kong nos últimos dois ou três anos. O preço da terra em Hong Kong é alto e observamos uma tendência infeliz.” Este ano, segundo ele, as vendas de propriedade foram as piores que eles tiveram em 13 anos.
Li acrescentou que a HWL e a CKH nunca sairão de Hong Kong e que os edifícios em que ele trabalha certamente não serão posto à venda.
Valores de Hong Kong
Li disse que os valores centrais de Hong Kong são o seu bom sistema legal e seu mercado livre e aberto, e que é nisto que se apoia a competência de Hong Kong.
Quando perguntado se a política imobiliária de Hong Kong afeta suas decisões de investir lá, Li disse que o governo deve ser baseado no estado de direito e conduzido solidamente de forma justa e imparcial. Ele acrescentou que Hong Kong não deve se submeter a caprichos individuais e que o poder não deve ser exercido de forma seletiva.
Ele disse que a lei não deve ser afetada por mudanças de líderes ou funcionários individuais e que as políticas devem em primeiro lugar dar confiança ao setor empresarial. E acrescentou que há muitas oportunidades de investimento no mundo todo e, se ele puder escolher, ele certamente escolherá um lugar onde há estado de direito, a fim de ser responsável com os acionistas.
A ex-secretária-chefe Anson Chan disse recentemente à imprensa de Hong Kong que concorda com Li que o chefe-executivo Leung e seus funcionários seniores não deveriam exercer o poder de forma seletiva. Ela acrescentou que espera que Leung perceba que sua popularidade está em queda.
Ela também concordou plenamente com Li que a coisa mais importante para o governo de Hong Kong é que ele seja baseado nas leis e não em interesses particulares.