Liderança de Pequim ousa despertar as memórias de 4 junho

16/04/2012 03:00 Atualizado: 16/04/2012 03:00

Pessoas se reúnem diante do túmulo de Hu Yaobang, um pró-reformista e ex-chefe do Partido Comunista em Gongqing, na província chinesa de Jiangsi, em 14 de abril de 1999. (AFP/Getty Images)Hu Yaobang, líder lembrado em 1989 pelos estudantes em Tiananmen, é comemorado

Num sinal de que o Presidente Hu Jintao e o Primeiro-Ministro Wen Jiabao estão dispostos a inflamar as esperanças do povo chinês pela reforma política a tanto suprimidas, dezenas de jornais chineses recentemente publicaram artigos comemorando o ex-líder chinês Hu Yaobang, mentor de Wen e o epítome de um reformista.

A morte de Hu Yaobang em 15 de abril de 1989, e a comemoração do mesmo, foi a centelha principal para o surgimento maciço de protestos que foram violentamente suprimidos em Pequim em 4 de junho daquele ano. Seu nome sempre esteve associado ao Massacre da Praça Tiananmen, e, portanto, tem sido quase sempre ignorado ou suprimido nos meios de comunicação oficiais.

A ocasião para a recente notícia é o Festival Qingming na China, que geralmente cai em 4 ou 5 de abril, uma época em que chineses prestam homenagem a seus familiares falecidos, inclusive visitando e limpando seus túmulos.

Um artigo no China News Service, mídia porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCCh) fora da China, comemorou o homem.

Intitulado “O túmulo de Hu Yaobang durante o Festival Qingming: Ele está morto há muito tempo, mas as massas lembram-se dele”, o artigo foi publicado em outros meios de comunicação oficiais chineses e foi encaminhado amplamente em portais de notícias importantes.

Hu foi responsável por reabilitar politicamente centenas de milhares de pessoas que foram perseguidas ou receberam rótulos de classe por Mao Tsé-tung; Hu também lutou energicamente por reformas políticas e econômicas, antes de ser deposto por “displicência” na luta contra os elementos “burgueses” em 1987.

O Qingming, também conhecido como o festival de limpeza dos túmulos, tem sérias conotações políticas na China. O movimento de 5 de abril de 1976, em que centenas de milhares de pessoas reuniram-se na Praça Tiananmen em luto por Zhou Enlai e atacaram o Gangue dos Quatro, e os protestos de 4 de junho pela democracia, ambos foram relacionados com a celebração tradicional chinesa.

O artigo diz que perto do 23º aniversário da morte de Hu, mais de 80 líderes do PCCh e 200 oficiais provinciais e ministeriais do Partido prestaram homenagem em seu túmulo.

“Esta atividade comemorativa em grande escala é uma forma de Hu Jintao e Wen Jiabao atacarem a política no estilo da Revolução Cultura de Bo Xilai”, disse Zhang Tianliang, um comentador de política chinesa, numa entrevista. Zhang disse que Zhou Yongkang, o czar de segurança e apoiador do chefe do Partido de Chongqing deposto, Bo Xilai, também tomará conhecimento.

Visto através do prisma da luta política atual, Hu Yaobang é um paradigma do campo reformista. Ele também foi mentor de Wen Jiabao, que procura imitar o falecido líder. A ampla cobertura põe grande destaque nos temas reformistas, mas se isso se manifestará em ações concretas, como a liberdade de imprensa, a cessação de perseguições religiosas, e o desmantelamento dos campos de trabalho, ainda está para ser visto, disse Zhang.

“As prioridades de Hu e Wen são ganhar a confiança da comunidade internacional, e colocar pressão sobre os elementos da linha-dura do Partido Comunista Chinês”, diz Wen Zhao, um comentarista de assuntos contemporâneos da NTDTV de Nova York. “Eles querem ter certeza de que a linha-dura, como Bo e Zhou Yongkang, não aja precipitadamente”, disse ele.

Uma postagem de microblogue amplamente encaminhada posteriormente referindo-se à notícia e comentando sobre como ela foi tão divulgada na internet chinesa disse, “Que vento isto está soprando agora?”

Com reportagem de Xue Fei e pesquisa de Ariel Tian.