O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) revelou recentemente que pelo menos cinco parentes próximos de líderes chineses, membros efetivos ou aposentados, tinham empresas offshore secretas em paraísos fiscais para ajudar a deslocar da China grandes quantidades de riqueza da elite comunista.
Entre eles estão Deng Jiagui, o cunhado do atual líder chinês Xi Jinping; Wen Yunsong, o filho do ex-primeiro-ministro Wen Jiabao e o genro deste Liu Chunhang; Hu Yishi, sobrinho do ex-presidente Hu Jintao; Li Xiaolin, filha do ex-primeiro-ministro Li Peng; e Wu Chang, filho do ex-líder chinês Deng Xiaoping.
A notícia é a mais recente bomba a explodir na comunidade chinesa. Ironicamente, Xi Jinping acaba de promover mais uma rodada de sua campanha anticorrupção, jurando que os funcionários do governo, independentemente de seu escalão no Partido Comunista Chinês (PCC), poderiam ser alvos potenciais de investigação.
Wen Jiabao enviou recentemente uma carta declarando sua inocência à imprensa de Hong Kong, dizendo: “Eu nunca fiz nem farei nada que constitua abuso de poder.”
Simultaneamente, o julgamento do proeminente intelectual e ativista dos direitos humanos Xu Zhiyong foi concluído em Pequim. Xu e seu advogado permaneceram em silêncio em protesto contra o que afirmaram serem procedimentos ilegais do tribunal antes e durante o julgamento.
O que irritou o PCC foi a exigência de Xu que todos os funcionários do governo tornassem público os seus bens pessoais. “Se os funcionários do governo se recusam a tornar público os seus bens pessoais, qual é o valor da luta contra a corrupção no Partido Comunista?”, disse Xu. Outros ativistas que fizeram a mesma exigência, como Liu Ping da província de Jiangxi, Wei Zhongping e Li Sihua também foram postos na cadeia.
Tudo isso faz as pessoas na China questionarem – A luta anticorrupção chefiada por Xi Jinping é real ou falsa? Se é real, como Xi tratará seus familiares? Será que ele vai punirá os parentes por corrupção? Como ele lidará com as famílias de outros funcionários corruptos que lhe são próximas? Será que todos serão tratados da mesma forma? Obviamente, a resposta é não.
Então, quando as autoridades detêm cidadãos chineses por exigir que a riqueza pessoal de funcionários do governo seja revelada, deve-se perceber que isto é apenas uma campanha anticorrupção seletiva, na qual os inimigos políticos podem ser exterminados.
Enviar equipes do Comitê Central de Inspeção Disciplinar a diferentes regiões é semelhante ao imperador enviando ministros na era feudal. Eles preferem “julgamentos político-partidários” e se opõem arcaicamente ao “estado de direito”. Basicamente, a China vermelha de hoje é simplesmente uma cópia das dinastias feudais dos tempos antigos.
Mídia estrangeira participa do jogo
A mídia estrangeira e algumas organizações internacionais independentes parecem também ter sido seletivas na apresentação dos escândalos políticos que ocorrem na China. No entanto, elas podem não ter tido uma escolha.
Por exemplo, não houve qualquer reportagem sobre os escândalos relacionados ao ex-líder chinês Jiang Zemin, mas todos sabem que seus dois filhos controlam metade da indústria de telecomunicações na China. O fato de que Jiang fez rios de dinheiro quando era líder supremo da China acelerou sem precedentes o nível de corrupção no país.
Nem houve qualquer reportagem sobre outros membros da facção de Jiang – a nova “Gangue dos Quatro”, incluindo Wu Bangguo, Jia Qinglin, Li Changchun e Zhou Yongkang; ou o mais recente “Gangue dos Quatro”, incluindo Zhang Dejiang, Yu Zhengsheng, Liu Yunshan e Zhang Gaoli.
Entre eles, Jia Qinglin se tornou muito conhecido por sua corrupção e laços com o contrabandista Lai Changxing e seu Grupo Yuan Hua. Liu Lefei, filho de Liu Yunshan, controlava a ‘CITIC Private Equity Funds Management Co’ e tinha uma riqueza pessoal mais de 10 bilhões de yuanes (c. US$ 1,65 bilhão).
Zhou Yongkang, o maior “tigre” de todos, controlava a PetroChina, o Ministério das Terras e Recursos e as províncias de Sichuan. Ele tem recebido atenção da mídia internacional desde que foi alvejado na campanha anticorrupção.
É bem provável que a imprensa estrangeira e outras organizações não fossem seletivas em suas reportagens. Mais provavelmente, pessoas no PCC foram “seletivas” no vazando de informações verificáveis. Expor a sujeira de um inimigo político tem sido uma tática do comunismo em geral.
A seletiva campanha anticorrupção promovida pela liderança atual prossegue com o vazamento seletivo de informações realizado pela facção opositora, uma dança de avanços e recuos, mas que revela uma luta política cada vez mais acirrada no PCC e que prenuncia um inevitável confronto épico. Será que alguém sairá vencedor ou será que o navio inteiro vai soçobrar?
Chen Pokong é um autor e comentarista política que atualmente vive nos Estados Unidos
Esta matéria foi originalmente publicada pela Radio Free Asia