Líder chinês Xi Jinping limpa a casa na China

07/12/2014 15:13 Atualizado: 07/12/2014 15:13

Nos últimos dois anos, o líder chinês Xi Jinping tem trabalhado incansavelmente para desmantelar a rede política que anteriormente controlava a China. O poder deste grupo está agora efetivamente quebrado, embora observadores ainda esperem pelos “últimos pregos no caixão”.

Os frutos da limpeza dessas posições foram alardeados pela mídia estatal chinesa Xinhua após a 4ª Plenária do Partido Comunista Chinês, em outubro. A notícia dada pela Xinhua apresentou uma lista contendo “55 ‘grandes tigres’ que foram purgados”. Para observadores da política comunista chinesa, não foi surpresa que a lista fosse composta por um grande contingente de funcionários que compartilhavam o mesmo patrono político: Jiang Zemin.

Jiang Zemin comandou o Partido Comunista Chinês (PCC) a partir de junho de 1989 – embora alguns coloquem esta data alguns meses adiante. Jiang Zemin deixou seu papel como secretário-geral do PCC em 2002, mas não abriu mão do controle do setor militar por ainda mais dois anos. Mas muitos anos depois, ele ainda mantinha um escritório bem-equipado no Comitê Militar Central (CMC), o órgãos do PCC que comanda os militares chineses.

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Durante sua administração, e posteriormente, ele teceu uma teia intrincada de vínculos pessoais e clientelismo em toda a China que se estendeu mandato adentro de seu sucessor, o líder mais moderado Hu Jintao.

Uma das manifestações mais memoráveis e explícitas da presença duradoura de Jiang Zemin ocorreu em outubro de 2009, durante a comemoração do dia nacional da República Popular da China, decorrido um período de sete anos após ele ter concluído seu mandato como líder do PCC. Ele apareceu na Central Chinesa de Televisão (CCTV), na tribuna da Praça da Paz Celestial, bem ao lado de Hu Jintao, o chefe do Partido na época, enquanto o resto do Comitê Permanente do Politburo seguia mais atrás. No dia seguinte, o Diário do Povo, uma mídia porta-voz do regime chinês, fez a publicação de grandes fotos, de tamanho iguais, para ambos.

Num sistema político em que o aparecimento de altos dirigentes chineses é cuidadosamente controlado e circunscrito, em que as filmagens e exposições são estritamente distribuídas de acordo com a hierarquia, o incidente de 2009 mostrou claramente quem ainda era o patrono do Partido.

Jiang Zemin conseguiu esse poder em parte por meio de sua manipulação maquiavélica durante a transmissão de comando para Hu Jintao em 2002 e, novamente, em 2007 e ainda, em menor grau, mesmo em 2012, durante outra transmissão de poder, quando ele garantiu colocar seus próprios homens em lugares estratégicos. Em 2007, ele inclusive se deu ao trabalho de ampliar em dois assentos o tamanho do Comitê Permanente do Politburo, que é o centro nevrálgico do Partido e onde as decisões cruciais são tomadas, e requisitou os assentos para seus próprios asseclas.

Figuras proeminentes nessa constelação política são: Zhou Yongkang, o ex-chefe da segurança pública; Li Dongsheng, o chefe da Agência 610 da polícia secreta; Xu Caihou, um general vice-comandante do CMC; Jiang Jiemin, que controlava grande parte do setor nacional de energia. Estes são quatro dos 55 altos funcionários da lista anunciada pela Xinhua que foram derrubados. Esses homens e muitos outros aliados de Jiang Zemin exerceram sua influência em quase todos os âmbitos do Estado, do Partido e da economia da China.

A extraordinária, persistente e funesta influência da rede política de Jiang Zemin, que só agora está sendo erradicada na China, tem sido um dos principais focos da muita alardeada campanha anticorrupção, que vem sendo coordenada por Xi Jinping.

Mas o grupo que Xi Jinping está eliminando da política chinesa é notável por outro elemento que faz com que a atual mudança de poder seja potencialmente muito mais significativa: o grupo a ser expurgado era corrupto ao extremo e altamente violento, mesmo para os padrões dos comunistas chineses.

Corrupção

À medida que as investigações contra os principais membros desse grupo são realizadas, e dados vazaram para mídias seletas na China, os observadores também puderam formar uma ideia do butim que eles acumularam.

“Eu simplesmente não consigo entender o tipo de corrupção que temos visto na China nos últimos anos”, escreve Zheng Yongnian, um estudioso chinês cujos escritos se alinham com muitos pontos de vista do regime. “Se você é corrupto e rouba centenas de milhares ou milhões de renminbi, eu posso entender. Você pode usar esse dinheiro para viver uma vida melhor. Mas roubar bilhões, dezenas de bilhões ou até mesmo centenas de bilhões – eu não consigo entender. Você não será capaz de gastar todo esse dinheiro durante sua vida.”

Foi precisamente este nível de corrupção, que desafia a lógica, que foi encontrado frequentemente em torno dos quadros de Jiang Zemin. Durante anos, os analistas disseram que a corrupção e a conivência com esta entre os aliados de Jiang Zemin foram fundamentais para garantir a lealdade e obediência de tantos.

Ao contrário de Mao Tsé-tung ou Deng Xiaoping que comandaram o PCC e a China anteriormente, Jiang Zemin não desfrutava da credibilidade e do prestígio proveniente de um passado revolucionário. Ele obteve a liderança do Partido de forma totalmente inesperada, dada por Deng Xiaoping no calor do momento, no auge da crise política em torno do movimento estudantil da Praça da Paz Celestial. Ele tinha mostrado, enquanto secretário do Partido Comunista em Shanghai, disposição para reprimir os estudantes. Após o massacre da Praça da Paz Celestial, como secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin perseguiu os dissidentes estudantis.

Com a passagem da crise da Praça da Paz Celestial, muitos pensaram que Jiang Zemin seria novamente substituído por Deng Xiaoping dentro de alguns anos. Isso não aconteceu, embora apenas quando Deng Xiaoping adoeceu, em 1995, e morreu, em 1997, Jiang Zemin realmente iniciou suas próprias maquinações políticas.

A consolidação do poder de Jiang Zemin recebeu o apoio de Zeng Qinghong, um operador dos bastidores que ficou rico por meio do setor de petróleo e já detinha um poder significativo por si próprio. Zeng ajudou a distribuir cargos em troca de apoio político, operando nos bastidores da política comunista para assegurar que o poder de Jiang Zemin se consolidaria no regime por muito tempo depois que ambos deixassem seus cargos oficiais.

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Isso foi feito, por exemplo, pelo desmembramento de setores-chave da indústria e permitindo que grupos familiares passassem os controlassem e extraíssem enormes fortunas. Zhou Yongkang e sua família estavam no setor do petróleo; Li Peng, um aliado, controlava as concessionárias de energia elétrica; um dos filhos de Jiang Zemin atuava no setor das telecomunicações, e assim por diante.

Os níveis extremos de corrupção que foram autorizados e incentivados sob o regime de Jiang Zemin surpreenderam e enfureceram o público chinês, assim que os detalhes foram revelados durante a campanha anticorrupção promovida por Xi Jinping.

Xu Caihou, um ex-vice-comandante do exército chinês, por exemplo, foi pego na posse de notas ordenadamente embaladas de yuan, euro e dólar pesando uma tonelada, encontradas no porão de sua propriedade de 8 km² que foi investigada em março. A mídia chinesa nem sequer deu uma estimativa da quantidade de dinheiro que esse volume representava. A apreensão também incluía jades, antiguidades e ouro. Gu Junshan, um dos protegidos de Xu Caihou, foi pego na posse de uma estátua de ouro puro, representando Mao Tsé-tung, quando uma de suas várias propriedades foi investigada.

A corrupção também levou a enorme desgoverno. Funcionários promovidos por Jiang Zemin que foram investigados deram livre passagem para que a indústria produzisse níveis maciços de poluição ambiental, em dimensões jamais vistas na história mundial: as taxas de câncer dispararam, o solo e a água na China foram gravemente contaminados e o ar das cidades se tornou irrespirável.

O uso do aparato de segurança pública reforçado por Jiang Zemin também foi uma parte fundamental nas expropriações de terra e nas demolições de casas em todo o país, quando funcionários locais corruptos fazem conluios com empreiteiras para expulsar os proprietários e, em seguida, suprimem os protestos em massa que resultam dessa política.

O Estado chinês parou de divulgar informações sobre o número de incidentes anuais relacionados a protestos em massa ou tumultos, que envolveriam mais de 50 pessoas. Em 2010, Sun Liping, professor da Universidade de Pequim e conselheiro de Xi Jinping, calculou que ocorreram 180 mil incidentes de massa. Está previsto um aumento nesse número, já que a cada ano aumentam as inquietações entre os chineses.

Essa inquietação é em parte uma sensação generalizada de que sob Jiang Zemin algo de fundamental deu errado na sociedade chinesa. Em salas de bate-papo online, as pessoas queixam-se de uma sociedade em que as pessoas só se preocupam com o ganho individual, onde a moralidade e o cuidado com os outros parecem ter desaparecido.

Jiang Zemin frequentemente usou a corrupção para recompensar os membros de sua facção que entusiasmadamente implementaram a campanha política marca registrada de seu regime: a perseguição contra a prática espiritual do Falun Gong. A mobilização das forças de segurança lançou mão de sequestros em massa, prisões arbitrárias e tortura, muitas vezes espantosamente cruéis, contra milhões de chineses comuns.

Violência

A ação política à moda antiga é um princípio operacional fundamental do Partido Comunista Chinês, sendo que a história do regime é muitas vezes entendida em relação à execução e aos resultados dessas ações. Os expurgos dos anos 1950, por exemplo, o Grande Salto para Frente, a Revolução Cultural, foram todos ações que levaram a marca de Mao Tsé-tung e seu regime esteve obsessivamente centrado na promoção desses movimentos.

Deng Xiaoping conduziu um período de reforma econômica, que foi marcado por sua própria e dura lógica política, assim como qualquer outra mobilização anterior. Ele também autorizou o massacre dos estudantes em Pequim em 4 de junho de 1989. Esse acontecimento, e suas consequências, definiram sua era.

Mas analistas das políticas da elite chinesa frequentemente ignoram o papel da perseguição contra o Falun Gong, ao definirem a carreira política de Jiang Zemin.

A fatídica decisão de eliminar o Falun Gong foi tomada entre abril e maio de 1999 e tornou-se pública em 20 de julho do mesmo ano. As estatísticas oficiais colocam o número de praticantes do Falun Gong em 70 milhões, enquanto que as fontes do Falun Gong dizem que mais de 100 milhões de chineses aderiram a prática até 1999. Em qualquer das perspectivas, a perseguição teve como alvo uma parcela enorme da população.

A campanha contra o Falun Gong está centrada em sequestrar adeptos e tentar forçá-los a se submeterem a uma transformação ideológica que, em 1950, os comunistas chamavam de ‘reforma do pensamento’ ou simplesmente lavagem cerebral. Milhares de mortes devido a torturas têm sido documentadas, embora, devido à dificuldade de obtenção de informações da China, acredita-se que o número documentado seria múltiplas vezes inferior ao número verdadeiro de mortes.

Investigadores que buscam informações sobre a extração forçada de órgãos de praticantes detidos, destinada a abastecer a florescente indústria de transplante, calculam que cerca de 62 mil adeptos do Falun Gong foram mortos no período compreendido entre 2000 e 2008. Acredita-se que a coleta de órgãos de praticantes ainda esteja em curso, de forma que o número de mortos continua a subir.

Atualmente, observadores já veem o movimento político instigado por Jiang Zemin como oportunismo, que ele usou para forçar os membros do Partido Comunista a jurar-lhe lealdade pessoal e para sedimentar seu próprio poder, apesar de ter havido pouco entusiasmo no alto escalão do Partido para lançar a violenta perseguição.

As autoridades de segurança espalhadas pela China, sob as ordens de Jiang Zemin, inventaram toda a sorte de torturas físicas e mentais, e aplicaram-nas contra os praticantes do Falun Gong na tentativa de forçá-los a renunciar a suas crenças.

Esses métodos incluem queimaduras, choques elétricos, estrangulamento, privação de sono e outros tantos, segundo o Minghui.org, um website que traz relatos em primeira mão sobre a perseguição na China. Guardas desenvolveram nomes especiais para técnicas de tortura, como ‘armadilha infernal’, ‘tábua da morte’, ‘esgarçar o corpo’, ‘assar uma ovelha’, etc. Esta última tortura envolve amarrar as mãos e os pés da vítima num rolete alto acima do solo, onde a pessoa fica pendurada como um animal num espeto, e espancá-la severamente. Ao longo dos anos, o Minghui documentou e detalhou centenas de métodos cruéis de tortura experimentados e testemunhados pelos praticantes do Falun Gong na China.

O pessoal de Jiang Zemin investiu tão profundamente nessa ação política violenta que eles estiveram por trás de uma tentativa de golpe para retomar a liderança do Partido Comunista das mãos de Xi Jinping.

Golpe abortado

Bo Xilai, um membro deposto do Politburo, foi um aliado-chave e protegido de Jiang Zemin e do ex-chefe da segurança pública Zhou Yongkang, e, segundo o jornalista veterano Jiang Weiping, foi orientado da seguinte forma: “Você tem que mostrar sua tenacidade ao lidar com o Falun Gong… isso será seu capital político.”

Ele foi rapidamente promovido pelas fileiras do Partido Comunista e todo o tempo esteve sob a condução de seu padrinho político Jiang Zemin e sob a expressão sombria de Zhou Yongkang. Zhou Yongkang comandava todo o aparato de segurança da China, transformando-o num sistema gigante com um orçamento maior do que os militares e não submetido a qualquer supervisão.

Bo Xilai tinha a intenção de se tornar o herdeiro da dinastia instaurada por Jiang Zemin e derrubar Xi Jinping de seu posto de liderança, conforme a conspiração política que esteve em incubação antes da transição da liderança que ocorreria após 2012. As pessoas nos círculos internos do Partido, que falaram com o Epoch Times em 2012, disseram que todo o esquema foi idealizado como uma forma de garantir que a campanha contra o Falun Gong continuasse, e que aqueles que sujaram suas mãos nunca fossem responsabilizados pelos crimes cometidos no decurso de sua tentativa de eliminar a prática.

Essa trama veio à tona no início de 2012 e levou ao expurgo de Bo Xilai, em março daquele ano, por Hu Jintao, antecessor de Xi Jinping. Depois de Xi Jinping tomar as rédeas do regime chinês em novembro do mesmo ano, ele iniciou a trabalhar pelo desmantelamento da facção de Jiang Zemin e suas ramificações.

A necessidade que Xi Jinping teve em responder a esta tentativa de destruí-lo tem levado ao extraordinário expurgo de altos funcionários, segundo avaliam analistas políticos. Em circunstâncias normais, os novos líderes não recorrem a essas punições rígidas contra facções oponentes, mas Xi Jinping foi forçado a responder de forma decisiva contra uma tentativa de golpe para derrubá-lo, ou seria engolido no brutal mundo do poder político do comunismo chinês.

Golpe final

A qualificação da Xinhua em outubro dos indivíduos expurgados e dos cargos que ocupavam foi um anúncio para o Partido Comunista e para a nação chinesa em geral que a campanha levada a cabo por Xi Jinping tinha sido bem sucedida. Ele está agora firmemente no controle da situação e a facção de Jiang Zemin foi desarticulada.

Os funcionários nas agências centrais listados pela Xinhua são esmagadoramente alinhados com a rede de influência e a facção instauradas por Jiang Zemin, e aqueles em áreas provinciais que apresentam fortes sinais de serem membros afiliados desse grupo.

Enquanto Xi Jinping foi eliminando as peças chave da rede em todo o país, a mídia chinesa tem noticiado sobre outros membros da velha-guarda expressando apoio a Xi Jinping.

Um artigo recente do Diário do Povo teve como título: “Xi Jinping e os valores dos veteranos [do Partido Comunista]”. O artigo contém um discurso de Xi Jinping abordando os quadros aposentados e dirigentes do Partido. Ele chamou os militares aposentados de “tesouros preciosos” e felicitou a muitos por seu serviço ao Partido. Claro, ninguém ficou surpreso com a ausência completa de um ex-líder no evento – Jiang Zemin.

Mesmo que a rede política de Jiang Zemin desfrutasse de uma grande dispersão geográfica, sua base de poder sempre foi Shanghai. Com o anúncio, ocorrido em julho, de que Shanghai enfrentaria uma minuciosa investigação sobre corrupção, seguida da derrubada de 11 altos funcionários locais em setembro, Xi Jinping pode estar fazendo o que ele fez antes com Zhou Yongkang e Xu Caihou: investigando e removendo aqueles na periferia do alvo verdadeiro antes de se movimentar para o golpe final.