Rumores na internet chinesa na semana passada dizem que Jia Qinglin, o ex-presidente da Conferência Consultiva Política Popular e um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, foi detido pelas autoridades.
A alegação da detenção de Jia foi propagada por Cheng Lingxu, um jornalista e colunista veterano e presidente do website de informações imobiliárias Xiafun.com.
Cheng postou mensagens em 11 de julho em suas contas no Sina Weibo e no Wechat, duas mídias sociais populares: “De acordo com uma fonte confiável, com 100% de precisão, o ex-presidente da Conferência Consultiva Política Popular, Jia QingL, foi detido na prisão SH na cidade de Hohhot na noite passada. Mais de 500 soldados do Batalhão 38 do Exército da Libertação Popular foram enviados.” Hohhot é a capital da Região Autônoma da Mongólia Interior, no Norte da China. Cheng usou a letra “L” ao escrever o nome de Jia Qinglin para evitar que sua mensagem fosse censurada na China. A referência a “prisão SH” não pôde ser decifrada.
Cheng acrescentou: “Amigos que compraram imóveis para a família de Jia devem ter cautela extra.” A ex-esposa de Jia e seu genro estiveram envolvidos numa série de altos investimentos imobiliários, incluindo uma ostentosa mansão em Pequim. “Há um ditado sobre o ‘sistema de Jia’ na indústria, por causa do envolvimento da família de Jia no setor imobiliário”, escreveu Cheng em outra postagem no Weibo. “Um grande número de desenvolvedores e projetos imobiliários estão na sombra da família de Jia.”
As autoridades agiram rapidamente para esmagar o boato. Não apenas as postagens de Cheng foram excluídas mas suas famosas contas ‘verificadas’ no Tencent e no Weibo desapareceram completamente em 14 de julho. Após as declarações de Cheng, outros internautas chineses afirmaram ter conhecimento próprio sobre a prisão de Jia, embora a veracidade de suas afirmações fosse ainda menos clara do que as de Cheng.
He Qinglian, um autor e analista político chinês veterano, publicou um comentário sobre o caso na versão chinesa da mídia Voz da América, dizendo que o rumor parecia credível. “Como um homem bem sucedido, Cheng certamente sabe quais tópicos são tabus na China. Deve haver uma razão para ele liberar essas informações. Não é que ele esteja ocioso e entediado sem nada para fazer e decidiu que gostaria de saber como é a vida na prisão.”
Se o rumor da detenção de Jia for verdade, ele seria mais um “tigre” – o termo chinês regularmente usado para se referir a altos funcionários corruptos – que o atual líder chinês Xi Jinping teria derrubado. E como muitos dos outros tigres que têm sido caçados no expurgo político em andamento na China, Jia tem laços profundos e de longa data com o ex-líder chinês Jiang Zemin.
Jia e Jiang trabalharam juntos no Departamento da Primeira Indústria de Máquinas nas décadas de 1960 e 1970. Nos anos de 1980 e 1990, Jia serviu como um funcionário de alto escalão na província de Fujian por mais de uma década. Após Jiang se tornar presidente da República Popular da China em 1993, Jia foi promovido em 1996 a prefeito de Pequim. Em 1997, ele se tornou um membro do Politburo, um órgão poderoso do Partido Comunista Chinês (PCC) do qual o Comitê Permanente que governa a China é selecionado.
Mas o caminho de Jia ao poder não foi sempre suave. Um enorme caso de contrabando e corrupção envolvendo o Grupo Yuanhua Xiamen emergiu em 1999 e foi um ponto de crise na carreira política de Jia. Lai Changxing, o fundador da rede de contrabando Yuanhua e que se tornou o criminoso mais procurado da China após fugir para o Canadá até ser repatriado em 2011, disse uma vez a um repórter de Hong Kong que ele tinha laços estreitos com Jia Qinglin. Os rumores na época também implicaram a esposa de Jia, Lin Youfang, nos negócios de contrabando de Lai Changxing.
Notícias oficiais chinesas dizem que as atividades do sindicato Yuanhua atingiram proporções épicas: operando desde 1996, o grupo contrabandeou óleo refinado, óleo vegetal, carros, cigarros e muito mais, num valor de cerca de 53 bilhões de yuanes (c. US$ 640 milhões), além de uma evasão fiscal de 27 bilhões de yuanes. Lai pagou o Exército da Libertação Popular para garantir a segurança de suas linhas de navegação.
Em 2002, 14 pessoas, incluindo funcionários do PCC, foram executadas em associação com o caso, enquanto 300 funcionários provinciais foram levados a julgamento, segundo o Diário da Manhã do Sul da China.
Mas Jia, com a ajuda de seu patrono político Jiang Zemin, evitou as consequências do caso. Mas não só isso, pouco tempo depois, em 2003, ele foi promovido a presidente da Conferência Consultiva Política Popular, uma organização do Partido Comunista Chinês que aconselha o Partido como melhor controlar a sociedade e também coopta as elites sociais que não fazem parte do Partido.
A carreira de Jia pode dar alguma indicação a respeito de por que Jiang Zemin agiu para protegê-lo e promovê-lo. Em destaque, Jia era um implementador entusiasta da perseguição ao grupo espiritual do Falun Gong, uma cruzada política pessoal de Jiang desde 1999, quando o número crescente de praticantes do Falun Gong e os princípios espirituais tradicionais do grupo foram interpretados por Jiang como um desafio ideológico ao regime comunista. Após Jiang iniciar a violenta perseguição, Jia, como chefe do PCC em Pequim entre 1999 e 2002, ordenou uma série de detenções e prisões, e a tortura de praticantes do Falun Gong na cidade se tornou generalizada e comum.
Um incidente de ‘autoimolação’ na Praça da Paz Celestial em 2001 é amplamente interpretado como uma fraude elaborada pelo aparato de propaganda do regime chinês para difamar a prática do Falun Gong e também ocorreu sob o mandato de Jia. Por seu papel na campanha anti-Falun Gong, Jia foi processado por praticantes estrangeiros do Falun Gong em tribunais na Áustria, Espanha e Holanda por “genocídio, crimes de tortura e crimes contra a humanidade”, tendo sido autuado durante suas visitas no exterior, segundo o Minghui.org, um website do Falun Gong.