Zhou Fengsuo acredita que o ímpeto para a democracia em Hong Kong permanecerá mesmo que os manifestantes sejam retirados das ruas.
Zhou, um ex-líder estudantil dos protestos de 1989 na Praça da Paz Celestial, na China, esteve em Hong Kong de 2 a 8 de novembro para ver de perto as manifestações, para dizer o que pensa e mostrar à multidão seu apoio aos estudantes de Hong Kong.
Em entrevista ao jornal Telegraph, Zhou, agora com 47 anos e residente em São Francisco, nos EUA, elogiou a “tenacidade e coragem” dos estudantes e acrescentou que o Movimento Guarda-chuva é um “momento de despertar para Hong Kong”.
Zhou ficou impressionado com a ocupação ordenada e pacífica.
“O regime comunista chinês descreve a situação em Mong Kok, em Hong Kong, como caótica e terrível, mas na realidade o movimento tem mantido o lugar organizado e limpo”, disse Zhou à Radio Free Asia (RFA).
Quando solicitado a comparar o movimento Ocupar de Hong Kong com o de 1989 na Praça da Paz Celestial, Zhou disse: “Na verdade, os movimentos são idênticos em termos de idealismo, abnegação, abordagem pacífica e racional, e forte senso de comunidade.”
Mas é a diferença entre os estudantes dos protestos de Hong Kong e os de 1989 em Pequim que, no entanto, será responsável pelo sucesso em Hong Kong mas foi a razão do fracasso em Pequim.
Zhou disse que as organizações estudantis de Hong Kong têm quase 60 anos de história, enquanto a Federação Autônoma de Estudantes de Pequim foi formada apenas dois meses antes de o movimento ser derrotado.
Em virtude de serem bem estabelecidas e estruturadas, as organizações estudantis de Hong Kong poderão manter o legado conquistado pelos manifestantes depois de os protestos acabarem.
Isso cria as condições para que Hong Kong ainda possa manter partidos políticos, ter certa autonomia em relação à China e uma imprensa livre, diferentemente do que ocorre no continente, acrescentou Zhou.
Logo depois que o regime comunista chinês usou de violência, de tanques e armas, para acabar com os protestos na Praça da Paz Celestial 25 anos atrás, o Partido Comunista Chinês (PCC) suprimiu e censurou as informações desse massacre e reprimiu menções ao evento a tal ponto que no continente muitos chinês são totalmente ignorantes sobre os protestos estudantis de 1989.
Porque a situação em Hong Kong é diferente, “o regime chinês não conseguirá subjugar esses jovens despertos”.
Os jovens de Hong Kong provavelmente serão logo expulsos das ruas a julgar pelos sinais recentes.
Em 9 novembro, o Supremo Tribunal de Hong Kong autorizou a polícia a ajudar os oficiais de justiça a remover os manifestantes de dois dos três locais de ocupação.
No dia seguinte, Carrie Lam, a secretária-chefe de Hong Kong, disse o que o governo de Hong Kong endurecerá sua postura em relação aos estudantes e não mais diálogará com eles. Lam exortou os alunos a deixarem as áreas ocupadas de forma “voluntária e pacifica”.
No momento, há ainda uma chance de que a polícia de Hong Kong não recorra à violência. Cerca de 7.000 policiais poderão ser mobilizados a qualquer momento, mas eles supostamente não usarão de violência para persuadir os manifestantes a acabar com os protestos.
Ao que parece, Zhou e seus colegas ex-militantes estudantis da Praça da Paz Celestial não precisam se preocupar com o regime chinês trazendo tanques e tropas do continente.
Nas reuniões da APEC em Pequim, numa recente entrevista de imprensa com o presidente americano Barack Obama, o líder chinês Xi Jinping disse que o governo central não intervirá diretamente para acabar com os protestos de Hong Kong.
Xi acrescentou que a lei, a ordem e a segurança pública em Hong Kong precisam ser mantidas. Isso sugere que uma violenta repressão é improvável.
Se Xi mantiver sua palavra, então, diferentemente do que ocorreu na Praça da Paz Celestial em 1989, o mundo não verá um fim trágico no caso do Movimento Guarda-chuva.