Ex-chefe da segurança pública chinesa parece vulnerável
É agosto, época do ano em que os principais dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC) se reúnem no balneário de Beidaihe para relaxar, aproveitar a praia e tomar as decisões mais importantes sobre a direção do PCC.
O tópico não oficial que todos em Beidaihe estão discutindo é o próximo julgamento de Bo Xilai, um político desgraçado e ex-membro do Politburo.
O caso é uma batata quente para a liderança e o líder chinês Xi Jinping tem motivos para ser cauteloso. Se o caso for mal, ele levará a culpa. Se tudo correr bem, o ex-líderes Hu Jintao e Wen Jiabao receberão o crédito.
Mas desenvolvimentos recentes podem sugerir que Xi Jinping está disposto a apostar alto. Desde que as acusações contra Bo Xilai foram anunciadas no final de julho, apareceu uma série de notícias sobre Zhou Yongkang, o parceiro de conspiração de Bo Xilai.
Zhou Yongkang, que foi chefe da segurança pública chinesa por oito anos, tem estado fora das manchetes há algum tempo. Será que o PCC está trazendo Zhou Yongkang de volta ao palco para preparar o cenário para o julgamento de Bo Xilai ou será que o julgamento de Bo Xilai está preparando o terreno para caçar Zhou Yongkang?
Acusações de corrupção
Notícias recentes sugerem que o terreno está sendo preparado para julgar Zhou Yongkang por corrupção.
O filho de Zhou Yongkang, Zhou Bin, cuida dos negócios da família. No dia 3 de agosto, o Diário de Guanghua informou que Wu Bing, um amigo de Zhou Bin, foi preso na Estação Ferroviária Oeste de Pequim tentando escapar da cidade. Wu Bing, além de ser amigo de Zhou Bin, é o homem que lava o dinheiro da família Zhou.
A Rádio Som da Esperança informou na semana passada que, segundo uma fonte com informações de dentro da Secretaria de Segurança Pública, Zhou Bin foi preso há dois meses, o que contradiz relatos anteriores de que Zhou Bin tinha escapado para o exterior.
Embora Zhou Yongkang possa ser julgado por corrupção, as verdadeiras razões para ir atrás dele têm haver com a luta de poder no PCC.
Zhou e Bo
Zhou Yongkang está intimamente ligado a Bo Xilai.
Em 10 de fevereiro de 2012, quatro dias após Wang Lijun, o então chefe de polícia de Chongqing e braço-direito de Bo Xilai, pedir asilo no consulado dos EUA em Chengdu, o Washington Free Beacon citou um oficial dos EUA dizendo: “Wang Lijun possuía conhecimento inestimável sobre a atual luta de poder na China e sobre os esforços dos linha-dura como Zhou Yongkang e Bo Xilai para perturbar a sucessão de Xi Jinping.”
No mês seguinte, durante o Congresso Nacional Popular, Zhou Yongkang foi o único do Comitê Permanente do Politburo que apareceu no grupo de discussão do PCC em Chongqing para mostrar apoio a Bo Xilai. Na época, Bo já estava no centro dos rumores sobre uma luta pelo poder e uma conspiração de golpe de Estado.
Durante esta reunião, quando Bo tentou defender sua campanha de “combater o negro”, que supostamente visaria os mafiosos de Chongqing, ele disse que a campanha era realizada sob a liderança do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), o órgão chefiado por Zhou Yongkang.
Não há dúvida de que Bo e Zhou trabalhavam juntos e que Zhou apoiou Bo no nível do Comitê Permanente do Politburo. Na medida em que o caso de Bo é sobre a luta pelo poder no PCC, isso implica Zhou Yongkang. Mas independentemente do entrelaçamento de Zhou com Bo, ele tem despertado forte oposição.
Poder e direitos
Na última década, até o Congresso do PCC em novembro de 2012, o CAPL se tornou mais e mais poderoso. O crescimento de seu poder começou com a campanha do ex-líder chinês Jiang Zemin contra o Falun Gong em 1999.
A perseguição ao Falun Gong sempre foi uma campanha política, não uma questão de aplicação da lei. A perseguição precisava de uma cadeia de comando fora do sistema legal que pudesse manipular o sistema legal. A maneira mais fácil de fazer isto era usar o CAPL existente. É por isso que, depois de alguns anos, as Agências 610, que foram criadas para coordenar a perseguição ao Falun Gong, foram finalmente postas sob a coordenação do CAPL.
Esta autoridade extralegal deu aos chefes do CAPL, primeiro Luo Gan e, em seguida, Zhou Yongkang, um enorme poder ao longo dos anos. Durante e após os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, o sistema de “weiwen” (manutenção da estabilidade) foi melhorado e redefinido.
A ideia básica era usar os recursos, mão de obra, experiência e táticas que foram acumulados durante a perseguição ao Falun Gong contra a população em geral e grupos diversos.
Devido à capacidade do CAPL de agir independentemente em todos os níveis em relação ao Falun Gong e à manutenção da estabilidade, devido a seu enorme suporte financeiro, ao desenvolvimento das forças militares e paramilitares e à ambição pessoal, Zhou Yongkang e seu CAPL se tornaram o segundo centro de poder no PCC, paralelamente a liderança central.
O CAPL fez inimigos por duas razões. Na história do PCC, desde que Mao Tsé-tung tomou o poder absoluto no início da década de 1950, nunca houve um segundo centro de poder. O PCC nunca tolerou qualquer sinal de divisão do PCC.
Além disso, a violação maciça dos direitos humanos levadas a cabo por Zhou Yongkang fez dele o homem mais odiado do PCC e o CAPL a organização mais odiada pelos chineses.
Capturando um tigre
Há uma regra não escrita no PCC que nenhuma acusação formal ou punição pode ser movida contra um membro do Comitê Permanente do Politburo. Algumas pessoas dizem que esta regra será quebrada desta vez para Zhou Yongkang, mas outros acreditam que a tempestade anticorrupção parará antes de tocar o próprio Zhou.
A campanha anticorrupção de Xi Jinping até agora tem trovejado, mas com pouca chuva. O comportamento de um grupo de juízes flagrado recentemente com prostitutas em Shanghai mostra que os oficiais do PCC não estão levando a sério a campanha de Xi Jinping. Para estabelecer sua autoridade, Xi Jinping precisa de um saco com tigres de verdade.
Zhou Yongkang é um tigre, mas é seguro capturá-lo. O poder de Zhou vinha de sua posição, o que o torna diferente de Bo Xilai, cujo poder vinha do papel do pai na revolução.
Como um dos “príncipes”, ou filhos da geração fundadora do PCC, Bo nasceu com poder. Muitos príncipes, embora não necessariamente como Bo ou com as ideias de Bo, ainda têm simpatia por ele, pois se beneficiaram de herdar o poder. Eles compartilham um interesse de classe.
Mesmo que ele seja preso, Bo não carece de apoiadores dentro e fora do PCC e em diferentes níveis da sociedade. Zhou não tem tal histórico ou recursos.
Zhou foi promovido por Jiang Zemin por um único propósito – a perseguição ao Falun Gong. Uma vez que Zhou perdeu sua posição, ele também perdeu seu poder e conexões. Zhou se tornou ninguém ou pior que ninguém. A liderança atual pode agora usar Zhou como o bode expiatório para as violações generalizadas dos direitos humanos na China.
No ano passado, tanto Bo como Zhou ficaram fora de cena, mas nada do que eles representavam mudou. A teoria de Mao ainda é parte da herança do PCC e as estratégias e táticas de manutenção da estabilidade ainda são amplamente utilizadas. Os crimes de Bo e Zhou são crimes do PCC. Se o propósito de tentar acusar Bo e Zhou é salvar o PCC, nenhuma mudança deve ser esperada.
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