Líder chinês mira seu oponente Bo Xilai

15/01/2012 22:53 Atualizado: 01/03/2013 02:46
Chefe de Chongqing sai derrotado de luta de poder
O líder chinês Hu Jintao (direita) no Grande Salão do Povo em Pequim em 15 de fevereiro de 2012 (How Hwee Young/AFP/Getty Images); Bo Xilai, o secretário do Partido Comunista Chinês em Chongqing (Feng Li/Getty Images)

O ano de 2012 tem se provado difícil para o Partido Comunista Chinês (PCC).

Pouco antes de 2012, depois de meses de resistência contra a corrupção do governo local, a população de Wukan expulsou o chefe e alguns membros do comitê do PCC na região e declarou que governaria a si mesma. Eles ganharam o direito de fazer eleições livres pela primeira vez em março de 2012, apesar de o PCC conspirar nos bastidores para estragar esta conquista.

Em 23 de janeiro, numa entrevista com a BBC, o embaixador chinês no Reino Unido, Liu Xiaoming, negou que era membro do Partido Comunista e que a China era um país comunista. Contudo, é do conhecimento público que o Sr. Xiaoming é membro do PCC e por isso as pessoas ficaram a se questionar por que ele demonstrou querer se distanciar do PCC.

Enquanto as pessoas se interrogavam sobre o que se passava com o PCC, outra bomba estourou.

Visitante improvável

Todos os generais fizeram um anúncio público de apoio aos planos do líder chinês Hu Jintao pela renovação da liderança. Na noite de 6 de fevereiro, quatro dias depois de ter sido demitido do cargo de chefe de polícia, Wang Lijun, ainda vice-prefeito da cidade de Chongqing, escapou da vigilância da polícia de Chongqing a sua casa e fugiu para o consulado dos EUA na cidade de Chengdu, que fica a 4 horas de carro.

De acordo com relatos na internet de pessoas que afirmam saber o que se passou no consulado, Wang Lijun revelou aos oficiais do consulado provas de que seu motorista e subalternos foram presos por seu ex-chefe Bo Xilai, o secretário do PCC em Chongqing, e tratados severamente. Wang Lijun também relatou os planos de Bo Xilai para assassiná-lo para prevenir que em futuras investigações ele pudesse revelar segredos de Bo Xilai.

Wang Lijun acreditava que sua vida corria perigo e pediu asilo ao governo dos EUA. Ele passou mais de 24 horas no consulado aguardando a decisão do governo norte-americano. A casa branca rejeitou o pedido, mas aceitou providenciar apoio humanitário. Wang Lijun solicitou ao embaixador que assegurasse seu transporte para Pequim em segurança.

Qiu Jing, vice-chefe da Secretaria de Segurança Nacional, Li Wei, vice-chefe da Secretaria de Segurança de Pública e outros cinco oficiais seniores chegaram a Chengdu pouco tempo depois de o consulado norte-americano ter notificado Pequim na manhã de 7 de janeiro.

Entretanto, Bo Xilai soube que Wang Lijun havia se refugiado no consulado dos EUA em Chengdu. Ele ordenou que o prefeito de Chongqing, Huang Qifan, mobiliza-se mais de 70 veículos da polícia para capturar Wang Lijun. Eles cercaram o consulado e bloquearam a estrada, exigindo que Wang Lijun fosse retornado a Chongqing.

Pequim não gostou que Bo Xilai tivesse enviado forças para além da fronteira de Chongqing, que não faz parte da província de Sichuan, onde Chengdu está localizada. Pequim ordenou que a força de segurança nacional de Sichuan dispersasse a polícia de Chongqing. Às 12h de 7 de janeiro, a polícia de Chongqing havia se retirado.

Wang Lijun saiu do consulado entre as 6 e 7 da tarde, escoltado pelas forças de segurança nacional de Sichuan. Por volta das 8h30 de 8 de janeiro, Wang Lijun estava a abordo do voo CA4113 para Pequim com cerca de 7 oficiais seniores de Pequim.

Testemunhas reportaram que quando Wang Lijun deixou o consulado, ele gritou que era uma vítima da ambição política e dos atos criminosos de Bo Xilai e que revelaria tudo o que sabia sobre seu ex-chefe e a esposa de Bo Xilai. Ele indicou também que havia deixado documentação e provas no estrangeiro para serem divulgadas caso fosse morto ou preso.

Qiu Jing teria prometido a Wang Lijun, em nome de Hu Jintao, que seu caso seria tratado com justiça.

De aliado a ameaça

Wang Lijun era protegido de Bo Xilai e seu braço-direito desde que Bo Xilai se tornou chefe do PCC em Chongqing. Wang Lijun foi recrutado na província de Liaoning, cidade de Jinzhou, onde Bo Xilai tentou ser chefe.

Wang Lijun levou consigo muitos dos seus próprios associados para ajudarem-no em Chongqing. Sob o argumento de “combater a máfia”, Bo Xilai se livrou de quase todos os oficiais promovidos pelo governo anterior em Chongqing e estendeu sua campanha para confiscar os bens de inúmeros empresários. Wang Lijun se tornou um “herói nacional” e foi promovido a vice-prefeito num período de 3 anos.

Infelizmente, para Bo Xilai e Wang Lijun, um dos ex-chefes de PCC em Chongqing foi He Guoqiang, o atual chefe do Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID). Ele estava furioso com o tratamento dispensado pela dupla a seus ex-colaboradores em Chongqing e silenciosamente começou a coletar provas contra Wang Lijun.

No fim do ano passado, He Guoqiang colocou na prisão vários associados de Wang Lijun do departamento de polícia da cidade de Liaoning por crimes de corrupção e obteve provas dos crimes de Wang Lijun.

Em seguida, funcionários do CCID teriam falado com Wang Lijun e lhe mostrado o que tinham contra ele. Eles queriam que Wang Lijun os ajudasse a providenciar informação sobre as atividades de Bo Xilai em Chongqing para salvar a própria pele e Wang Lijun concordou. Bo Xilai tinha alguém no CCID que o informou do acordo feito por Wang Lijun.

Wang Lijun era um valioso aliado de Bo Xilai, mas passou a ser uma ameaça e Bo Xilai decidiu demiti-lo da posição de chefe de polícia em 2 de fevereiro, além de mandar prender uma dúzia dos associados de Wang Lijun, incluindo seu motorista.

Um deles teria se suicidado, dois foram mortos por resistirem à prisão e muitos outros foram torturados. Wang Lijun sabia que seu tempo estava se esgotando e fez uma jogada arriscada que surpreendeu a todos.

Desafiando Pequim

Bo Yibo, o pai de Bo Xilai, era um veterano do Partido Comunista. Ele se tornou muito influente após a morte de Deng Xiaoping e teria ajudado o ex-líder chinês Jiang Zemin a se livrar de seus oponentes políticos. Em troca, Jiang Zemin promoveu Bo Xilai sucessivamente com o objetivo de finalmente conduzi-lo ao Comitê Permanente do Politburo, o círculo máximo do poder na China.

Por isto, Bo Xilai fez tudo o que Jiang Zemin queria, especialmente perseguir os praticantes do Falun Gong. Em todo lugar que Bo Xilai trabalhou, ele criou um inferno para os praticantes do Falun Gong.

Como resultado, Bo Xilai foi repetidamente acusado de crimes contra a humanidade em sucessivas visitas ao estrangeiro. Em 2007, um telegrama do Departamento de Estado dos EUA veio a público via WikiLeaks e mostrou que o premiê chinês Wen Jiabao usou o fato de Bo Xilai ser alvo de vários processos judiciais no estrangeiro para impedi-lo de ascender ao cargo de vice-primeiro-ministro da China.

Em vez disso, Bo Xilai foi enviado em 2007 para o Sudoeste para ser tornar secretário do PCC na cidade de Chongqing, ficando assim afastado do centro de poder.

Contudo, Bo Xilai aproveitou esta oportunidade para desafiar Pequim. Nos anos que governou Chongqing, ele fez a cidade quase independente do governo central.

Ele iniciou e promoveu atividades em massa em estilo maoísta, com “canções vermelhas e leituras dos livros vermelhos”. Suas trupes de “cantar o vermelho” viajaram até Pequim e Hong Kong.

Ele também colocou milhares de proprietários de negócios na cadeia sob alegações de associação à máfia e assim confiscou suas propriedades e dinheiro. Bo Xilai sentenciou à morte o ex-chefe de polícia Wen Qiang e mandou para a prisão o advogado de um empresário de Chongqing, além de muitos outros opositores ou críticos de suas políticas.

Bo Xilai ganhou atenção da mídia chinesa e internacional e todos os dias fazia declarações se gabando de ser um líder superior àqueles em Pequim.

Quando Hu Jintao participava da APEC no Hawaii, Bo Xilai realizou um exercício militar no distrito de Chengdu, sugerindo que poderia dar um golpe de Estado. Bo Xilai não escondeu sua ambição política porque também tinha cúmplices em Pequim.

Hu Jintao perde a paciência

O comportamento de Bo Xilai mostrava-o capaz de fazer qualquer coisa, tal como Mao no passado. Hu Jintao e outros líderes chineses devem ter sentido que Bo Xilai atacaria assim que tivesse poder e apoio suficiente.

Bo Xilai esperava pelo 18º Congresso Nacional do PCC, que ocorreria no final deste ano, para ser promovido ao Comitê Permanente do Politburo, o grupo de nove que comanda o PCC. Seu objetivo era se tornar chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), o que lhe daria controle sobre as forças de segurança da nação.

Hu Jintao sabia que para deter Bo Xilai, ele teria de mantê-lo afastado do Politburo e prevenir que ele ganhasse o controle do CAPL.

Em janeiro de 2012, todos os generais declararam publicamente seu apoio a Hu Jintao antes dos preparativos para a mudança da liderança do PCC que começará no 18º Congresso.

Depois de receber o apoio militar, Hu Jintao decidiu remover Bo Xilai e usar Wang Lijun para derrubá-lo. Hu Jintao fez o mesmo em 2006 quando Cheng Liangyu, o ex-chefe de PCC em Shanghai, desafiou sua autoridade com o apoio de Jiang Zemin.

Ao mesmo tempo, os aliados de Hu Jintao no exército, como o general Liu Yuan, filho de Liu Shaoqi (um ex-chefe do PCC e aparente herdeiro de Mao Tsé-tung antes de ser purgado e morto durante a Revolução Cultural), começaram a atuar contra Bo Xilai no exército.

Gu Junshang, um general de duas estrelas e vice-chefe do Departamento Geral de Logística do CAPL, recentemente desapareceu do seu posto e, segundo rumores, encontra-se sob investigação por corrupção. Isto ocorreu apenas dias antes do general Liu Yuan jurar lutar contra a corrupção no exército.

No passado, Xi Jinping, o indicado próximo chefe do PCC, apoiou as políticas de Bo Xilai em Chongqing. Não está claro qual é sua posição real sobre o assunto. Xi Jinping deveria ficar feliz vendo Bo Xilai ser removido por Hu Jintao, porque, eventualmente, Bo Xilai também desafiaria sua autoridade.

Esta rodada da luta pelo poder, Bo Xilai claramente perdeu.

Michael Young é um chinês-norte-americano que vive em Washington DC e escreve sobre a China e as relações sino-norte-americanas.

Epoch Times publica em 35 países em 20 idiomas.

Siga-nos no Facebook: https://www.facebook.com/EpochTimesPT

Siga-nos no Twitter: @EpochTimesPT