Ex-líder chinês Jiang Zemin encurralado em Shanghai

22/08/2014 14:09 Atualizado: 23/08/2014 10:04

Os dias de Jiang Zemin estão contados. O homem que dominou a política chinesa por mais de duas décadas está agora sendo investigado em sua própria base de poder, a cidade de Shanghai.

A instauração pelo líder chinês Xi Jinping de uma equipe de investigação anticorrupção em Shanghai tem sido amplamente divulgada. Indicações de que a investigação está avançando seriamente emergiram numa breve nota em 11 de agosto no website oficial da Procuradoria de Shanghai, o departamento responsável pela investigação e o processo dos crimes.

O empresário bem-sucedido Wang Zongnan, presidente do Bright Food Group, foi preso por suborno e peculato. Esses são os crimes pelos quais Wang será julgado, mas seu verdadeiro crime é sua estreita ligação com o ex-líder chinês Jiang Zemin e com Jiang Mianheng, o filho de Jiang Zemin.

Shanghai foi o trampolim para as ambições políticas nacionais de Jiang Zemin e formou a base de seu poder. Jiang atuou como chefe do Partido Comunista Chinês (PCC) em Shanghai de 1985 a 1989. Diante de um movimento democrático teimoso em 1989, Deng Xiaoping ficou impressionado com o punho firme de Jiang ao lidar com os dissidentes em Shanghai, enquanto muitos outros líderes do PCC ficaram à margem.

Após remover o secretário-geral Zhao Ziyang do cargo por causa de sua simpatia com os estudantes, Deng Xiaoping trouxe Jiang Zemin para Pequim. Uma vez no poder, Jiang impiedosamente perseguiu e puniu os dissidentes que haviam escapado dos tanques e metralhadoras na noite de 4 de junho, o massacre da Praça da Paz Celestial.

Depois de assumir o controle em Pequim, Jiang Zemin elevou quadros anteriormente obscuros do PCC em Shanghai para posições de influência nacional no Partido Comunista e no governo. Eles formaram o núcleo de uma vasta rede de conexões que Jiang Zemin usaria para dominar a política da China por mais de 20 anos.

Jiang Zemin na alça de mira

Nos últimos 19 meses, o atual líder chinês Xi Jinping, enquanto realizava uma campanha anticorrupção ampla, derrubou os aliados de Jiang Zemin no alto escalão do regime chinês.

O clímax dessa campanha parecia ser o anúncio em 29 de julho de uma investigação formal do ex-chefe da segurança interna Zhou Yongkang. O pensamento de que a queda de Zhou marcaria o fim do expurgo político no PCC coordenado por Xi Jinping foi rapidamente dissipado.

Imediatamente após o anúncio sobre Zhou, o Diário do Povo, uma mídia estatal porta-voz do PCC, publicou um comentário intitulado “Remoção do grande tigre Zhou Yongkang não é o fim do movimento anticorrupção”. O artigo salienta que Zhou foi nomeado por superiores. É bem conhecido que Jiang Zemin promoveu Zhou.

Embora o artigo tenha sido rapidamente excluído, ele ficou exposto tempo suficiente para que fosse copiado e amplamente difundido pela internet chinesa.

Duas semanas antes, o Epoch Times informou que Zeng Qinghong, o principal assessor de Jiang Zemin, foi preso. Se a campanha anticorrupção prosseguir sua varredura, então, o próximo alvo lógico seria o próprio Jiang Zemin. Os outros ‘grandes tigres’ – ou seja, oficiais corruptos do alto escalão do Partido Comunista – já foram todos derrubados.

A prisão de Wang Zongnan na semana passada deixa Jiang Zemin extremamente vulnerável. Se Jiang não pode proteger Wang Zongnan, que está baseado em Shanghai, de ser detido, então Jiang foi destituído do poder em sua última fortaleza. Xi Jinping tem um campo aberto a sua frente para perseguir Jiang Zemin.

Se passado é prólogo, então, assim como o Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID) tem feito em milhares de casos anteriores em outros locais na China, agora é a vez de Shanghai para a construção de um caso trabalhando de fora para dentro. O CCID ataca aqueles os mais fracos e vulneráveis, que estão na periferia, deixa esses alvos exporem as conexões que têm mais próximas do centro, e assim prossegue passo a passo até que o objetivo final esteja cercado e indefeso.

‘Impasse’

De acordo com a agência de notícia estatal Xinhua, 85 mil funcionários foram investigados nos últimos 6 meses. No entanto, apesar do vasto âmbito desta campanha, numa reunião de 26 de junho do Politburo, Xi Jinping se queixou de que as forças corruptas e de combate à corrupção estavam num “impasse”.

Quatro dias depois, veio o anúncio de que quatro funcionários de alto escalão foram expurgados no mesmo dia: o ex-líder militar Xu Caihou; altos executivos do monopólio estatal do petróleo Jiang Jiemen e Wang Yongchun; e Li Dongsheng, o vice-chefe da Segurança Pública e chefe da agência encarregada de perseguir o Falun Gong. Apesar deste movimento dramático, a facção de Jiang parece continuar a resistir.

Wu Fan, o editor-chefe da China Affairs, uma revista em língua chinesa baseada nos EUA, disse recentemente à NTDTV que os militares continuam a seguir Guo Boxiong, um dos indivíduos, agora aposentado, que Jiang Zemin promoveu e designou para comandar as forças armadas da China. “Algumas regiões militares, incluindo a Região Militar de Guangzhou e a Região Militar de Pequim, ignoram completamente Xi Jinping. Elas seguem as ordens de Guo Boxiong e sua equipe”, disse Wu Fan.

A resistência de Guo se encaixa num padrão antigo da facção de Jiang Zemin em desafio à Central do Partido Comunista Chinês. Pelos dez anos que Hu Jintao foi secretário-geral do PCC e presidente da China (2003-2013), havia um ditado comum no país: “Uma ordem nunca vai além dos portões de Zhongnanhai.” Zhongnanhai é a sede do PCC e da liderança comunista chinesa na capital de Pequim.

Para que Xi Jinping esteja realmente com as rédeas do poder em suas mãos, ele precisa extirpar completamente a facção de Jiang Zemin, o que significa derrubar o próprio Jiang.

‘Vida e morte’

Mas Xi Jinping tem uma razão ainda mais forte para prosseguir sua campanha até a conclusão: a sobrevivência. Em seu discurso de 26 de junho para o Politburo, Xi teria dito: “Quando se trata de lutar contra a corrupção, a vida e a morte e a reputação não significam nada para mim.”

Xi Jinping soube antes que de ser formalmente instalado no topo do Partido Comunista Chinês que havia ameaças contra sua vida. De acordo com membros do PCC, a descoberta de um plano de golpe contra Xi pôs em marcha a campanha contra Jiang Zemin e sua facção.

Após Wang Lijun, o chefe de polícia de Chongqing, buscar asilo no consulado dos EUA em Chengdu em fevereiro de 2012, Wang Lijun foi entregue a Pequim. A Central do PCC em seguida descobriu que Zhou Yongkang e Bo Xilai, o carismático ex-chefe do PCC em Chongqing que Jiang Zemin queria tornar secretário-geral do PCC, planejavam remover ou eliminar Xi Jinping logo depois que este assumisse o cargo.

As ameaças a Xi Jinping não terminaram com a derrocada daquela tentativa de golpe. O Epoch Times reportou que na época da reunião de verão da liderança do PCC em Beidaihe em 2013, Zhou Yongkang teria tentado assassinar Xi Jinping com uma bomba-relógio numa conferência e em outra ocasião com uma agulha envenenada quando Xi foi a um hospital para um exame de saúde.

Em 6 de agosto, o World Journal, uma mídia em língua chinesa baseada nos EUA, relatou boatos das forças armadas da China que Guo Boxiong estava planejando um golpe.

Motivo

Enquanto a mídia ocidental começava a levar mais a sério o significado da luta mortal entre Xi Jinping e Jiang Zemin, a cobertura padrão não esclarecia o motivo envolvido. Eles simplesmente assumiam que a política do Partido Comunista é sempre mortal.

É claro que, se Xi Jinping mostrasse fraqueza contra seus inimigos, ele estaria perdido. Mas por que Jiang Zemin consideraria Xi Jinping como um inimigo mortal? A resposta a essa pergunta está no ponto morto da mídia na elaboração de reportagens sobre a China: a perseguição ao Falun Gong.

Jiang Zemin conspirou com Zhou Yongkang, Xu Caihou, Bo Xilai, Li Dongsheng e outros líderes de alto escalão do Partido Comunista para cometer crimes monstruosos contra o povo chinês.

De acordo com a assessoria de imprensa do Falun Gong, o Centro de Informações do Falun Dafa, desde o início da campanha de perseguição lançada por Jiang Zemin contra o Falun Gong em 1999, centenas de milhares de adeptos da disciplina espiritual têm sido presos e abusados.

Essa campanha tem procurado eliminar uma disciplina espiritual e tradicional chinesa que era praticada por 100 milhões de chineses em 1999, segundo relatos da imprensa na época. Isso colocou o regime comunista chinês em guerra contra a consciência de um em cada 13 chineses, tratando como criminosa a tentativa dessas pessoas de viver de acordo com os princípios da disciplina de verdade, compaixão e tolerância.

Os praticantes detidos pelo regime normalmente têm sofrido tortura e lavagem cerebral. Segundo o website Minghui.org do Falun Gong, 3.776 mortes por tortura e abusos foram confirmadas. Devido à dificuldade de se obter informações da China, o verdadeiro número de mortes deste tipo seria múltiplas vezes maior.

Além disso, os praticantes do Falun Gong têm sido alvo da extração forçada de órgãos. Em 2011, os pesquisadores David Kilgour e David Matas, autores do livro “Colheita Sangrenta” que investiga a extração ilegal de órgãos, e o jornalista investigativo Ethan Gutmann, autor de “The Slaughter“, estimam que, entre 2000 e 2008, 62 mil praticantes do Falun Gong foram mortos por seus órgãos. Esse número atualmente seria acrescido de dezenas de milhares.

Jiang Zemin e sua facção temem Xi Jinping porque ele não está envolvido nestes crimes contra a humanidade. Existe a possibilidade de que Xi Jinping possa acabar a perseguição genocida contra o Falun Gong. Se ele fizesse isso, os apelos na China pelo julgamento dos responsáveis seriam esmagadores.

Para evitar ser responsabilizada, a facção de Jiang tem procurado por todos os meios recuperar o poder, o que significava remover Xi Jinping.

Sistema de corrupção

Xi Jinping não foi o primeiro líder do PCC a usar acusações de corrupção para atacar seus inimigos, mas no caso da facção de Jiang, esta acusação de corrupção é mais do que um pretexto. Ela ataca um sistema autoritário de poder.

Jiang Zemin é considerado na China como um palhaço, mas ele conseguiu se tornar o homem mais poderoso da China por mais de 20 anos. Ao permitir e incentivar a corrupção em todos os níveis do Partido Comunista, Jiang comprou a lealdade que ele não poderia inspirar.

Os comentaristas da campanha de Xi Jinping frequentemente escrevem sobre essa corrupção como se isso fosse simplesmente o modo normal das coisas no PCC. Ao fazer isso, eles perdem de vista a escala gigantesca da corrupção de Jiang Zemin, que vai muito além de qualquer coisa vista antes.

Os comentaristas também muitas vezes escrevem sem entusiasmo, ignorando a urgência desta questão para o povo chinês. Quando o povo chinês pensa sobre a corrupção, eles não pensam primeiramente em carros Audi reluzentes voando pelas ruas ou amantes mimadas e refeições extravagantes.

Eles pensam sobre a vida nas aldeias de câncer. Eles pensam na comida contaminada, na água envenenada e no ar irrespirável. Eles se lembram de como o sistema de campos de trabalho forçado estava quase extinto antes de Jiang Zemin, e como sob seu governo este sistema atingiu dimensões sem precedentes.

Eles veem o “sistema de manutenção da estabilidade” desenvolvido por Zhou Yongkang para uso específico contra os praticantes do Falun Gong passar ser usado contra aqueles que protestam por suas fazendas e casas que são roubadas pelas autoridades.

O povo chinês também vê uma sociedade sem valores éticos. Eles testemunham uma história de horror após a outra difundidas pela internet e se perguntam: Quão baixo pode a existência moral de nossa nação afundar? Nessas e em inúmeras outras maneiras, o ataque de Xi Jinping à corrupção promete ao povo chinês o alívio de suas sofridas queixas.

Derrubando Jiang Zemin

O maior símbolo da derrota deste regime de corrupção será derrubando o próprio Jiang Zemin. Quando os quadros do Partido Comunista virem que Jiang Zemin está sob o controle de Xi Jinping, a rede de influência de Jiang por toda a China começará a se dissolver.

Xi Jinping pode ter esperanças que o povo chinês se una sob um Partido purificado, mas o momento passou para essa crença do povo chinês no Partido ser revivida. A campanha de Xi Jinping terminará uma era, mas o caminho para o futuro permanece incerto.