Os líderes do Partido Comunista Chinês (PCC) se dirigiram ao público antes, mas geralmente não num contexto similar ao usado por presidentes norte-americanos.
O líder chinês Xi Jinping deu congratulações de Ano Novo ao público chinês, que foi televisionado pela mídia estatal porta-voz do regime em 31 de dezembro de 2013. Tudo parecia destinado a melhorar a imagem de Xi como um líder sincero que pode ser confiado, embora ele continue a reprimir impiedosamente jornalistas que informam sobre histórias indesejáveis e ativistas que falam contra o regime.
Fotografias da família de Xi foram colocadas de forma destacada nas prateleiras de mogno atrás dele, exatamente como é feito nos Estados Unidos. Dois telefones vermelhos e um branco situavam-se a sua frente na grande mesa.
O ano de 2013 foi “incomum” para a China, disse Xi, quando o povo chinês “junto venceu todas as dificuldades e desafios”. E continuou dizendo que a nova liderança, que ele rápida e completamente procurou centralizar sob seu comando, procurará “fazer a nação mais próspera” em 2014 por meio de uma série de reformas.
Tais mudanças seriam decretadas para tornar a sociedade chinesa “mais justa e correta” e “permitir as pessoas terem uma vida melhor”, disse ele. Essas promessas são provavelmente uma resposta ao descontentamento generalizado na China sobre a corrupção oficial, o fosso entre ricos e pobres e o abuso de poder e impunidade daqueles mancomunados com o Partido Comunista.
Dong Fang, repórter do Voice of America na China, brincou que Xi parecia prometer “minsheng, não minzhu”, ou seja, ele estaria oferecendo meios de subsistência para as pessoas, mas não democracia.
Diferente das mensagens de Ano Novo anteriores de antigos líderes comunistas, as observações de Xi não transitaram pela lista de desenvolvimentos teóricos comunistas chineses de décadas passadas como o “socialismo com características chinesas” ou o Pensamento de Mao Tsé-tung.
“Este é um ponto muito particular sobre este discurso”, disse Shi Cangshan, um analista independente sobre o PCC. “Normalmente, eles enfatizam fortemente a ideologia comunista, Mao e assim por diante. Mas isso não estava presente desta vez.”
Shi acrescentou: “Este é um discurso para o público, de modo que ele pode querer suavizar a ideologia. Mas internamente ele está fortalecendo o controle, reforçando a disciplina do Partido e exigindo obediência dos quadros.”
Após o artigo, alguns comentaristas online ficaram impressionados com o que julgaram como o tom “sincero” de Xi, em parte devido à ausência de slogans.
As quatro fotografias de família na estante podem ter ajudado a reforçar essa mensagem. Elas retratavam Xi com sua esposa; empurrando seu pai, o líder revolucionário Xi Zhongxun, numa cadeira de rodas; caminhando de mãos dadas com a mãe; e orientando a filha enquanto ela andava de bicicleta.
Se a imagem de um homem do povo é parte da mensagem de propaganda atual de Xi, isso também se refletiu numa refeição que ele fez recentemente num restaurante popular em Pequim. Xi foi fotografado esperando na fila para pagar por seus “baozi”, ou pãezinhos cozidos, e as imagens logo se tornaram virais. Ele gastou 21 yuanes, ou menos de US$ 4, na refeição, segundo a mídia estatal Xinhua.
Paralelamente a estes gestos de abertura ao público, Xi Jinping também continuou dizendo que a sociedade chinesa deve permanecer sob o controle do Partido Comunista. Na mesma data da apresentação do amigável vídeo, por exemplo, a Xinhua publicou um discurso bem longo de Xi, intitulado “Unifiquem sinceramente o pensamento sob a 3º Plenária do 18º Congresso do Partido”. A 3ª Plenária foi uma reunião política importante realizada meses atrás que estabeleceu os novos planos de Xi para a reforma econômica.