Líder chinês consolida o poder após expurgo de general da oposição

03/07/2014 13:44 Atualizado: 03/07/2014 13:44

Com o expurgo de um oficial militar aposentado, o líder chinês Xi Jinping notificou os militares da China que ele está no comando. Ao afirmar seu controle, Xi deu mais um passo para derrotar uma facção do Partido Comunista Chinês que se opõe a ele.

Um artigo de primeira página no jornal porta-voz do Exército da Libertação Popular (ELP), o Diário do ELP, anunciou que os quatro quartéis-generais das forças militares chinesas – marinha; força aérea; Segunda Artilharia, que inclui o arsenal nuclear estratégico da China; e as sete regiões militares – apoiavam solenemente a decisão de livrar o Partido Comunista Chinês (PCC) do general aposentado Xu Caihou.

A expulsão de Xu do PCC em 1º de julho foi “absolutamente sábia” e “totalmente correta”, disse o editorial redigido em conjunto. Todas as forças vão “tirar lições profundas disso” e considerar a queda de Xu como um “exemplo negativo”.

Os oficiais e soldados nas forças militares prometeram “defender veementemente a decisão correta do PCC” e “sinceramente unificar nosso pensamento sob o espírito da Central do Partido”. Além de obediência absoluta ao presidente Xi Jinping, as forças prometeram “ouvir às palavras do PCC, caminhar com o PCC, não temer o perigo, não ouvir os ruídos de interferência e não se deixar confundir com rumores”.

Os compromissos extravagantes de lealdade e obediência provavelmente refletem a seriedade do esforço para unir as forças armadas sob a liderança de Xi Jinping. Até o final de 2012, o general Xu era um dos homens mais poderosos no exército chinês e, portanto, na China.

Proeminente

Xu foi vice-presidente do Comitê Militar Central (CMC), o órgão que o PCC usou para controlar os militares desde 2004 até novembro de 2012. Há tipicamente dois vice-presidentes do CMC e um presidente, sendo este sempre o próprio líder do PCC.

Antes disso, o general Xu foi diretor do Departamento Geral de Política do ELP, uma posição sensível e influente, de fato o comissário político supremo do regime, cuja função é garantir que as tropas e o corpo de oficiais sejam devidamente doutrinados na ideologia partidária comunista, e também supervisionar uma gama de operações de infiltração e propaganda no estrangeiro segundo os parâmetros de “guerra política” do PCC, que procura manipular as percepções de observadores externos sobre a República Popular da China (RPC).

Como indicação da importância de Xu, ele foi homenageado com uma série de mesas-redondas no circuito de institutos de reflexão em Washington DC, EUA, quando em visita oficial em 2009.

“Eu tive o privilégio esta manhã de falar com o general Xu e ele é um homem fascinante, com uma perspectiva interessante sobre o mundo”, disse John Hamre, presidente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, onde Xu falou em outubro de 2009. Hamre o chamou de “um visionário num momento em que precisamos de novas vias de cooperação entre os Estados Unidos e a China”.

Mas mais importante na China, o general Xu obteve promoções e posição por causa de Jiang Zemin, o líder chinês entre 1989-2002 e chefe formal das forças militares até 2004. Mesmo após deixar todas suas funções militares em 2005, Jiang ainda manteve influência sobre os militares por meio de pessoas como Xu. Por causa da ausência do estado de direito e de instituições independentes na China, o papel do clientelismo e das alianças pessoais é decisivo na elite política comunista chinesa.

Unanimidade

De fato, o expurgo de Xu Caihou foi comparado à partida dos “irmãos Yang” – isto é, Yang Shangkun, o ex-vice-presidente do CMC, e seu meio-irmão Yang Baibing, o ex-secretário-geral da CMC e, como Xu, diretor do Departamento Geral de Política – no início de 1990. Os Yang promoveram seus próprios generais na hierarquia, mas foram destituídos de sua autoridade por Deng Xiaoping, o antigo patriarca do PCC, quando Deng começou a temer que eles estivessem construindo sua própria base de poder nas forças armadas.

“Na esteira da queda dos irmãos Yang, uma parcela significativa de oficiais superiores do ELP teriam sido transferidos ou aposentados”, escreve Larry Wortzel, analista veterano do exército chinês.

A justificativa para essa reorganização foi surpreendentemente similar à propaganda militar atual, como afirmada num jornal controlado pelo PCC em Hong Kong na ocasião, ou seja, “para garantir que o Exército permaneça unânime ideologicamente com o Comitê Central do PCC, em ação e política, para aumentar sua consciência e firmeza na implementação da linha básica do Partido“.

No entanto, apesar de todo o tumulto sobre o expurgo dos irmãos Yang, eles não foram expulsos do Partido Comunista ou submetidos à corte marcial.

Relatórios de março deste ano pareceram minimizar o quão seriamente Xi Jinping assumiu a tarefa de punir Xu Caihou: o Diário da Manhã do Sul da China informou que agentes da segurança militar levaram-no de sua cama num hospital militar em Pequim. No mesmo dia, sua esposa, filha e secretário também foram detidos.

“Pode ser que Xi Jinping quisesse se certificar que, ao se livrar de algumas pessoas, fique claro quem é leal a ele e quem não é”, comentou June Teufel Dreyer, professora de política chinesa na Universidade de Miami. “Se você remove alguém que está aposentado, isso não prejudica a cadeia de comando.”

Facção rival

De acordo com Cheng Xiaonong, um estudioso do sistema político chinês, Xi Jinping tem lidado com seus rivais no Partido Comunista que são leais ao ex-líder chinês Jiang Zemin – que tentou minar a ascensão de Xi ao poder antes mesmo que ele assumisse a liderança do Partido em novembro de 2012 –, principalmente por meio do expurgo de Zhou Yongkang, o ex-chefe da segurança pública, e Bo Xilai, um ex-membro do Politburo que agora cumpre prisão perpétua.

“Desde então, ele encontrou muita resistência em lutas internas e agora tenta consolidar seu poder para manter sua posição a salvo de desafios, especialmente de veteranos aposentados, como Jiang Zemin, Zeng Qinghong”, disse Cheng numa entrevista por telefone.

O expurgo de Xu Caihou segue esse padrão, uma vez que Xu devia sua ascensão a Jiang Zemin. “A única questão era saber se Xi Jinping era capaz de tocá-lo – uma vez que ele fosse capaz de fazer isso, então ele definitivamente desejaria fazê-lo.”

Embora Xu não detivesse cargos oficiais nas forças armadas desde a transição da liderança no final de 2012, seu expurgo agora servirá como um aviso para os que ele promoveu na hierarquia, e também pode ser seguido por mais remanejamento nas forças.

Os incentivos de Xi Jinping, como líder supremo da China, podem ser diferentes dos de generais militares belicosos, disse Cheng. “Os generais não querem a paz, eles querem problemas. Se Xi lhes permitir fazer tudo o que quiserem, eles criarão problemas com o Japão, o Vietnã e outros países.”

“A única pessoa que não quer a guerra é Xi Jinping, porque a guerra só lhe criará problemas, nada além de problemas. Ele precisa de tempo para consolidar seu poder”, disse Cheng. Isso pode significar uma posição mais suave do Partido Comunista Chinês em certas questões internacionais, “embora não muito”, esclareceu Cheng. “Se ele abrandar demasiadamente, então ele pode ser atacado por outros grupos.”