Líder chinês “empunha faca” contra seus inimigos

23/01/2015 00:26 Atualizado: 23/01/2015 00:27

Após o expurgo do chefe da segurança interna Zhou Yongkang, o líder chinês Xi Jinping parece estar destacando explicitamente o caso contra Zhou – e insinuando que outros altos funcionários estão na lista para eliminação.

Essas mensagens, transmitidas diretamente ou interpretadas por analistas, foram apresentadas em recentes discursos de Xi Jinping para quadros do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), a agência que controla todo o aparato de segurança interna do Estado chinês. Isso representa o primeiro acerto de contas público em relação ao legado de Zhou Yongkang, que por anos controlou o aparato de segurança, o qual era amplamente considerado um segundo centro de poder no regime.

Zhou, que presidiu o CAPL entre 2007-2012 (após cinco anos como chefe do Ministério da Segurança Pública), foi efetivamente nomeado para o cargo por seu patrono e ex-líder chinês Jiang Zemin. Além de executar fielmente as violentas medidas de segurança ordenadas por Jiang Zemin contra o grupo espiritual do Falun Gong, Zhou Yongkang ajudou a transformar o sistema de segurança pública num império com vários tentáculos, em grande parte intocável pelas diretrizes do ex-líder chinês Hu Jintao, que foi o sucessor de Jiang Zemin e antecessor de Xi Jinping.

O crescimento desse sistema foi também baseado no perverso incentivo da política de “manutenção da estabilidade”, em que casos de protestos populares enfrentariam repressão brutal, gerando crescente ira contra o regime e levando a mais protestos, o que por sua vez justifica ainda maior uso da força.

‘Empunhando a faca’

Para romper com esse legado, Xi Jinping presidiu um grande conclave em 20 de janeiro em Pequim, quando falou da necessidade de “empunhar firmemente a faca” no que se refere ao trabalho do CAPL, onde Zhou Yongkang desfrutou outrora de poder irrestrito.

No mesmo dia, uma interpretação útil foi publicada na mídia estatal Diário do Povo – em que o autor se refere a Xi Jinping por seu apelido respeitoso “Xi Dada”, que significaria “Tio Xi” –, esclarecendo que as observações de Xi são seríssimas.

“Muitos funcionários político-legislativos suspiram: ‘Faz tanto tempo desde que ouvi a expressão ‘empunhar a faca’”, escreveu o autor anônimo. O editorial prosseguiu explicando que a frase vem de Mao Tsé-tung, o líder revolucionário comunista chinês e o primeiro presidente da República Popular da China.

“Naquela época, a luta de classes era intensa, o conflito de classes era proeminente e ele enfatizou ‘empunhar a faca’ para assinalar o caráter de classe do sistema político-legislativo.”

O líder chinês Xi Jinping numa conferência sobre segurança de trabalho em Pequim em 7 de janeiro de 2015. Xi parece estar assumindo as rédeas do aparato político-legislativo do regime comunista chinês (Captura de tela/Xinhua)
O líder chinês Xi Jinping numa conferência sobre segurança de trabalho em Pequim em 7 de janeiro de 2015. Xi parece estar assumindo as rédeas do aparato político-legislativo do regime comunista chinês (Captura de tela/Xinhua)

Em maio de 1926, quando Mao presidia uma conferência em Guangzhou sobre revolução agrária, ele teria dito: “Fazer revolução é faca contra faca, arma contra arma. Para derrotar a milícia dos senhores de terras, precisamos de nosso próprio exército camponês. Se não empunharmos a faca com as próprias mãos, haverá caos.”

O autor do Diário do Povo deixou claro a referência de Xi Jinping a esta frase: Xi Jinping deve ser o único com o controle sobre os instrumentos de coerção do Partido Comunista.

“O sistema político-legislativo é a poderosa agência da nação; ela é capaz de restringir a liberdade das pessoas e confiscar os bens pessoais; assim que ela sai do controle do Partido e do povo, e cai nas mãos de pessoas com segundas intenções, então ela se tornará uma arma afiada que prejudica os empreendimentos do Partido e do povo”, escreveu o autor.

Conspiração

Incomum para um editorial no Diário do Povo, o artigo se referiu aos alegados abusos de poder de Bo Xilai e Wang Lijun, que administraram a megacidade de Chongqing como “seu império pessoal”, disse o autor.

Desde 2012, diversos artigos do Epoch Times, particularmente na edição chinesa, discutiram uma conspiração de Zhou Yongkang e Bo Xilai para tomar o poder – e envolvendo outros nos bastidores. O Epoch Times informou que o ex-líder Jiang Zemin coordenou a conspiração, enquanto Zeng Qinghong, seu capanga e politiqueiro de plantão, planejou muitos dos detalhes.

O plano original, segundo informações de fontes no Partido Comunista Chinês (PCC), era que Bo Xilai substituísse Zhou Yongkang como chefe do aparato de segurança e, em seguida, no momento exato, removesse Xi Jinping para tomar o poder supremo no PCC. Isso teria sido possível devido ao enorme poder exercido por quem comandasse na época o CAPL: responsável por todo o aparato de segurança pública, a polícia militar (que tem cerca de 1,5 milhão de policiais), os tribunais e outras forças auxiliares.

Esta conspiração foi pelo menos em parte corroborada recentemente por editoriais na mídia estatal de Hong Kong e da China continental a respeito de Zhou Yongkang e Bo Xilai terem realizado reuniões secretas para discutirem políticas alternativas – com base na teoria maoísta linha-dura ao invés das diretrizes políticas de “reforma e abertura” de Deng Xiaoping. Eles teriam decidido “fazer algo grande”. O teor geral desses editoriais é entendido por analistas como significando que os dois são acusados de terem conspirado para tomar o poder.

Agora, especialistas suspeitam que Xi Jinping está afiando a faca para um novo alvo: o próprio Jiang Zemin. Uma pré-condição necessária para um movimento desse porte, é claro, requer o controle dos militares e do aparato de segurança interna. Com o expurgo de oficiais militares de alto escalão no ano passado e neste ano e o fortalecimento ideológico atual que está sendo impingido nos serviços de segurança, Xi Jinping parece estar preparando o terreno para a próxima punhalada.