Uma autoridade chinesa encarregada da Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no Noroeste da China, culpou recentemente a tecnologia de evasão do bloqueio de internet, que permite o acesso livre sem censura à rede, pelos ataques terroristas na China.
Zhang Chunxian, o secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) em Xinjiang, fez os comentários em resposta a perguntas da mídia, enquanto apresentava um relatório de trabalho do governo no Congresso Popular Nacional (CPN) em 6 de março. O CPN é o legislativo-carimbo do PCC, e no momento realiza suas reuniões anuais em Pequim.
“90% dos ataques terroristas violentos de [separatistas em] Xinjiang são devidos a tecnologias de evasão do firewall”, disse ele. “Eles usam vídeos na internet para continuar a organizar os ataques. Se continuarmos a desenvolver métodos avançados, sensibilizarmos o público e formos profissionais, ainda podemos restringir isso ao mínimo.”
Zhang também aproveitou a oportunidade para elogiar a liderança do Partido por restringir os ataques terroristas. “Ataques terroristas são inevitáveis… Se Xinjiang não estivesse sob a liderança central do Partido, isso não ocorreria? Sem uma repressão rigorosa, isso também não aconteceria?”, disse Zhang.
Muitos grupos uigures e apoiadores, de fato, têm argumentado que são precisamente as duras políticas étnicas do Partido Comunista que levaram à radicalização dos uigures, e aos retrocessos violentos que são atualmente observados na China. “Ataques terroristas violentos não são um resultado da repressão. Isso é um tumor maligno que uma sociedade gera inevitavelmente”, disse Zhang
A resposta de Zhang, como é frequente quando autoridades chinesas falam em público sobre temas polêmicos do dia, foi ridicularizada na internet. Os internautas chineses se queixaram de que o regime estava se esquivando da responsabilidade de contribuir para as tensões em Xinjiang.
“Incidentes violentos em Xinjiang têm crescido e se agravado nos últimos anos. Como a principal autoridade local, ele [Zhang] não faz qualquer autorreflexão, mas apenas culpa a internet”, escreveu um blogueiro chinês.
“Repórteres do Diário do Povo estão usando softwares de evasão do firewall. A agência estatal de notícias Xinhua tem uma conta no Twitter. E mesmo [o líder chinês] Xi Jinping tem uma página no Facebook. Como vocês lidam com isso?”, escreveu outro internauta.
Muitos chineses recorrem a tecnologias de evasão como o Freegate, porque o Partido Comunista mantém uma censura rigorosa na internet. Websites como Facebook, Twitter e Youtube são bloqueados na China. Funcionários da propaganda raramente fazem referência a suas políticas de censura.
Os comentários de Zhang, de fato, são uma das poucas vezes em que o “Grande Firewall” e o controle da internet foram publicamente reconhecidos e defendidos por um funcionário chinês.
A delegação de Xinjiang, da qual Zhang faz parte, foi o foco de atenção da mídia na China na quinta-feira por causa da tragédia de esfaqueamento que ocorreu lá no último sábado. As autoridades chinesas declararam que era um ataque terrorista conduzido por oito separatistas de Xinjiang.
Enquanto Zhang saia de uma reunião, mais de 200 jornalistas reportando sobre os acontecimentos do Congresso Nacional em Pequim romperam o cordão de segurança para questionar Zhang sobre o ataque em Kunming e questões relacionadas.
A cena era caótica, com mais de 30 guardas de segurança que tentavam manter os repórteres longe de Zhang, enquanto alguns jornalistas gritavam suas perguntas e outros caiam no meio da confusão. Para completar a ironia do dia, os comentários de Zhang foram logo excluídos de websites de notícias e mídia social pelos censores da internet do Partido Comunista.