Liberdade de imprensa é o teste a democracia sob o novo governo militar no Egito

04/07/2013 11:07 Atualizado: 04/07/2013 18:59
Veículos de comunicação pró-Morsi encerram suas atividades e abrem a discussão sobre censura
Golpe militar no Egito 2013
Helicóptero militar sobrevoa sede do governo na praça Tahrir durante protesto de ontem (Gianluigi Guercia/AFP/Getty Images)

A liberdade de imprensa, a chave para testar a democracia, tem um começo inserto sob a nova administração do governo militar no Egito. Grupos de defesa de liberdade de imprensa criticaram o deposto presidente egípcio, Mohammed Morsi e seus partidários da Irmandade Muçulmana por ameaçar e agredir membros da imprensa.

O governo militar que tomou o poder, ontem rapidamente, fechou pelo menos três meios de comunicação pró-Morsi, de acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). A estação egípcia da Al-Jazeera também foi invadida.

Segundo a agência de notícias estatal MENA, pouco depois do pronunciamento do ministro da Defesa egípcio sobre a expulsão de Morsi, o canal de televisão da Irmandade Muçulmana, Misr25, saiu do ar. De acordo com a estatal Al-Ahram, os outros dois canais a favor do ex-presidente, o Al-Hafiz e o Al-nas, também encerraram suas transmissões logo após o anúncio do ministro.

“Estamos preocupados com relatos de que as autoridades estão fechando a cobertura da televisão com base no ponto de vista político”, disse Sherif Mansour, coordenador do CPJ no Oriente Médio e norte da África. Na terça-feira, enquanto os militares ainda estavam permitindo a veiculação do conteúdo pró-Morsi, a CPJ permaneceu em alerta. Mansour advertiu: “Quem está no poder há muito tempo usa a mídia estatal como ferramenta política. Mas, nestes tempos críticos, quando os egípcios estão desesperados por informação independente, as mídias não devem funcionar como peões políticos”.

Repórteres arriscaram suas vidas para trazer ao mundo informações sobre os protestos egípcios nos dias que antecederam a queda de Morsi. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), mais de 10 jornalistas foram atacados cobrindo as manifestações em todo o Egito. Um relatório do Ministério da Saúde egípcio revela que, apenas no dia 30 de junho, 781 pessoas ficaram feridas e 16 morreram vítimas da violência durante os protestos.

Segundo a RSF, no dia 28 de junho, aconteceram diversos ataques a profissionais da imprensa. Durante uma manifestação noturna em Port Said, o repórter do veículo Shaab Masr (Povo Egípcio), Salah El-Din Hassan, foi morto por uma bomba caseira atirada por uma pessoa não identificada.

No mesmo dia, uma repórter holandesa foi estuprada por cinco homens na praça Tahrir. A embaixada holandesa divulgou um comunicado na última segunda-feira confirmando que a jornalista, de 22 anos, foi tratada em um hospital do Cairo após o ataque e voltou para a Holanda, em companhia da família. No mesmo dia, em Alexandria, um estudante americano foi esfaqueado, enquanto tirava fotos dos protestos.

Em 30 de junho, balas de borracha atingiram os jornalistas Ahmed Ragab e Ahmed Al-Nagar, do jornal Al-Masry Al-Youm (Egito Independente). O ataque aconteceu quando os profissionais estavam do lado de fora da sede da Irmandade Muçulmana no Cairo, onde supostamente membros da Irmandade mataram oito manifestantes anti-Morsi que atiraram contra uma multidão com munição real, balas de borracha e coquetéis molotov. O edifício sofreu danos após alguns manifestantes terem atirado pedras e jogado coquetéis Molotov na estrutura.

No dia 27 de junho, o repórter Mohamed Heeza do jornal Welad El Balad foi sequestrado, informou a organização não-governamental egípcia Associação para a Liberdade de Pensamento e Expressão. Seus sequestradores aplicaram choques com cassetetes elétricos e fizeram interrogatórios sobre outros repórteres do jornal. Ele foi deixado na beira da estrada em Mansourah, após horas de tortura e interrogatório.

RSF e CPJ relataram outros ataques a jornalistas no Egito por assaltantes não identificados e ameaças emitidas pela Irmandade Muçulmana aos meios de comunicação antagônicos.

Em um comunicado divulgado na última terça-feira, o RSF declarou que “as ameaças proferidas pelo presidente Morsi e a pressão exercida pelas autoridades violaram a liberdade de informação e a independência tanto do Estado e da mídia de propriedade privada. Isso incentiva os jornalistas a censurar a si mesmos”.

Richard N. Haass, presidente do Conselho de Relações Exteriores, está esperançoso de que o regime militar vai ser melhor do que o reinado de Morsi. Em artigo divulgado no site do Conselho, ele declara que “O Egito é a essência de uma democracia imatura, é facilmente violada, como o Sr. Morsi mostrou-se predisposto a isso. Assim, os militares agiram. Alguns chamarão de golpe de Estado, mas isso é impreciso. Esta intervenção política veio em resposta a uma crise, não foi a causa. Eles querem um poder temporário com ajuda do judiciário para a criação de um calendário para a transição política. Isso é o que pode e deve ser feito”.

Sherif Mansour, coordenador do CPJ, fez um apelo à liberdade de imprensa: “Nós pedimos aos militares egípcios que não reprimam as fontes de informação neste momento crucial”.

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