Li Dongsheng, orquestrador de campanha de ódio é preso na China

30/12/2013 12:51 Atualizado: 30/12/2013 15:14

Deve haver um círculo do inferno especialmente reservado para aqueles que devotam suas vidas a moldar a alma de seus compatriotas para que estes aceitem doutrinas malignas.

O ministro da propaganda nazista Josef Goebbels soube como usar uma grande mentira, repetindo-a maciçamente, para inflamar o ódio aos judeus em seus compatriotas. Leni Riefenstahl, um renomado cineasta, compreendia o poder de uma imagem sublime para fazer o fascismo parecer poderoso e inevitável aos alemães.

Como Goebbles e Riefenstahl, Li Dongsheng, o homem responsável por vender ao povo chinês a ideia da perseguição à disciplina espiritual do Falun Gong, trabalhou para fazer o ódio parecer algo respeitável. Pelos últimos 14 anos, Li foi o primeiro vice-diretor e posteriormente diretor da Agência 610, um órgão extraconstitutional do Partido Comunista Chinês (PCC) encarregado de erradicar a prática do Falun Gong (também conhecido como Falun Dafa).

Ele chegou à Agência 610 após ser vice-diretor (1993-2000) da emissora estatal China Central de Televisão (CCTV) e dirigir o programa Focus em horário nobre. Quando o então líder chinês Jiang Zemin criou a Agência 610 em 10 de junho de 1999, cerca de um mês antes do lançamento da campanha contra o Falun Gong, Li entrou como o vice-diretor responsável pela propaganda.

Jiang julgou a campanha necessária porque temia a popularidade do Falun Gong e o poder de seus ensinamentos morais tradicionais. Segundo dados oficiais, em 1999, mais de 70 milhões de pessoas na China praticavam o Falun Gong, mais do que o número de membros do PCC. Os praticantes de Falun Gong dizem que o número real era superior a 100 milhões. Além dos números, Jiang via o conteúdo do Falun Gong como uma ameaça. O Falun Gong envolve fazer exercícios de meditação suaves e viver de acordo com ensinamentos baseados nos princípios da verdade, compaixão e tolerância.

Numa carta de Jiang enviada aos membros do Politburo na noite de 25 de abril de 1999, ele argumentou a necessidade de uma campanha contra o Falun Gong em termos ideológicos: “Como pode o marxismo, o materialismo e o ateísmo promovidos pelos membros de nosso Partido Comunista não vencerem a batalha com o que o Falun Gong promove? Isto é absolutamente ridículo!” Enquanto Jiang viu uma batalha que precisa ser travada, os praticantes do Falun Gong queriam apenas informar as pessoas sobre a sua prática pacificamente.

Campanha política

O trabalho de Li Dongsheng era fazer a batalha ideológica de Jiang Zemin vitoriosa. Após a perseguição começar em 20 de julho de 1999, todos os meios de comunicação na China passaram a publicar conteúdo atacando o Falun Gong. Frequentemente, a mídia inventava histórias e outras vezes alegava que o Falun Gong era responsável por diversos males que ocorriam na China, embora não tivessem qualquer relação com o Falun Gong.

Por exemplo, se um psicótico cometia um assassinato, a mídia alegaria que ele fez isso porque praticava o Falun Gong. Então, praticantes do Falun Gong investigavam essas histórias e mostravam que eram falsas, mas sem o megafone gigante da mídia controlada pelo Partido Comunista sua mensagem se restringia desproporcionalmente em relação ao volume e repetição da propaganda anti-Falun Gong.

Jim Li, um estudante da Universidade de Pequim na época, começou a praticar o Falun Gong depois de imigrar para os Estados Unidos, onde atualmente leciona num colégio. “Muitas pessoas sabiam sobre o Falun Gong”, disse Li sobre a situação na China quando a perseguição começou. “A maioria das pessoas sabia que a prática era popular e consideravam algo bom.”

“Então, de repente, houve uma enorme campanha política e uma enxurrada de propaganda”, disse Li. “Eles não sabiam o que pensar sobre as informações conflitantes. Muitas pessoas ficaram confusas. A partir de sua experiência pessoal, eles sabiam que o Falun Gong era bom. Mas, segundo o que era propagandeado pelo regime chinês, eles viam que algo suspeito estava ocorrendo.”

Autoimolações

Em 23 de janeiro de 2001, as coisas mudaram. Cinco pessoas identificadas pela CCTV como praticantes do Falun Gong imolaram-se na Praça da Paz Celestial. Em duas horas, a CCTV foi ao ar com reportagens das imolações e continuou a suas análises distorcidas sem cessar.

Desta vez, a propaganda do PCC atingiu um nervo. “Notícias sobre as imolações apareciam várias vezes ao dia”, disse Jim Li. “Foi impressionante. As pessoas assistiam as imagens gráficas e absorviam a linguagem dura. Eles foram bombardeados com isto.”

Jennifer Zeng era uma membra do Partido Comunista e pesquisadora do Conselho de Estado que foi presa em abril de 2000 por sua crença no Falun Gong. Ela estava detida num campo de trabalho forçado quando as imolações ocorreram.

“Depois que foi liberada do campo de trabalho, poucos meses após as imolações, achei que houve uma profunda mudança na atitude das pessoas em relação ao Falun Gong”, disse Zeng. “Naquela época, acho que a maioria das pessoas foi enganada pelas reportagens.”

“Havia tantas imagens chocantes e vívidas – os corpos queimando e a criança chorando, ‘Mãe, mãe, mãe’.” [O vídeo da CCTV mostrou em detalhes o rosto queimado de uma criança enquanto esta chorava por sua mãe quando era carregada numa ambulância.]

“E eles produziram vários programas de acompanhamento, como entrevistas com a menina de 12 anos no hospital e pessoas aparecendo na TV para criticar o Falun Gong”, disse Zeng. “As pessoas acreditam no que veem”, comentou ela. “Isso realmente virou a opinião pública contra o Falun Gong.”

Perseguição

De acordo com Jim Li, as imolações despertaram grande ódio contra os praticantes do Falun Gong.

No momento das imolações, Terry Xu era um praticante do Falun Gong e professor-associado de engenharia civil na Universidade Tsinghua, uma instituição de elite em Pequim, agora ele ensina numa faculdade nos Estados Unidos. “Depois das autoimolações serem transmitidas, as pessoas julgaram o Falun Gong como algo terrível”, disse Xu. “Elas acreditaram que essas pessoas se prejudicariam ou se matariam, [que] enlouqueceriam por causa disso.”

“Isso foi usado como a principal desculpa pelas forças policiais e campos de trabalhos forçados para prender e fazer lavagem cerebral nos adeptos do Falun Gong”, disse Xu. “As imolações pareciam mostrar que o Falun Gong prejudicaria as pessoas, por isso, os policiais usaram isto como justificativa para prender e punir os praticantes.”

Jennifer Zeng experimentou os efeitos da propaganda sobre a imolação no campo de trabalho. Desde o início, os guardas no campo diziam aos praticantes que quando os maltratavam isso era para o bem deles. Mas após a propaganda sobre as imolações, os guardas se sentiam com a consciência tranquila com as barbaridades e abusos que impingiam aos praticantes, disse Zeng. “Eles não podiam imaginar que tudo foi fabricado”, disse ela.

Um evento encenado

Em julho de 2001, a emissora nova-iorquina NTDTV exibiu um documentário que analisava minuciosamente a propaganda da CCTV.

A NTDTV mostrou como a polícia estava presente na Praça da Paz Celestial com extintores de incêndio antes que as imolações ocorressem, como se esperassem pelas imolações, algo inédito, pois a forças de segurança nunca carregam extintores consigo na Praça.

Enquanto a CCTV afirmava que o vídeo do evento foi obtido da CNN, a CNN negou a alegação. No entanto, o vídeo mostra claramente um cinegrafista chinês próximo da cena sem ser perturbado pela polícia, algo inimaginável na China, a menos que o cinegrafista estivesse trabalhando com a polícia.

Um dos imoladores foi mostrado “em chamas” com uma garrafa plástica entre as pernas. A garrafa estaria cheia de gasolina, mas não explodiu ou derreteu nem ficou enegrecida. O cabelo do imolador também ficou intocado pelas chamas que o teriam engolfado.

A criança, Liu Siying, foi entrevistada no hospital dias após as imolações e depois de ter sido submetida a uma traqueotomia; algo que cirurgiões dizem ser impossível, pois a criança não seria capaz de falar.

De acordo com uma reportagem do Washington Post, nenhum dos vizinhos da mãe da criança jamais a viu praticar o Falun Gong, mas viram-na bater na filha e na mãe idosa, ações contrárias aos ensinamentos do Falun Gong.

O fim de Li Dongsheng

Os vídeos da imolação foram o ponto alto dos esforços de Li Dongsheng para fazer o povo chinês odiar o Falun Gong. De acordo com um relatório da ‘Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong’ (WOIPFG), a propaganda anti-Falun Gong se mostrou tão ineficaz que após 2005 o regime comunista chinês praticamente parou de usar esse método ostensivamente.

Li não era apenas responsável pela propaganda. Seu portfólio também inclui coordenar a lavagem cerebral de praticantes. Em 2009, ele foi nomeado diretor da Agência 610 e então assumiu o comando dos esforços para erradicar o Falun Gong da China.

Durante os 14 anos de Li na liderança da Agência 610, o Centro de Informações do Falun Dafa documentou mais de 3.700 praticantes do Falun Gong mortos por tortura e abusos, mas o número verdadeiro é certamente muito maior. Além disso, dezenas de milhares de adeptos do Falun Gong foram assassinados pela colheita forçada de órgãos para abastecer o comércio de órgãos coordenado pelo Partido Comunista.

A carreira de Li no Partido Comunista Chinês terminou. Em 20 de dezembro, o Partido anunciou que ele estava sendo investigado, o que significa que ele está sendo submetido a uma forma abusiva de interrogatório reservada para os próprios membros do Partido.

O anúncio da investigação de Li só mencionou “crimes graves” e não sugeriu que ele estava sendo punido por seu trabalho em perseguir o Falun Gong. Várias notícias têm tratado sua prisão como parte da luta de poder em curso em Pequim.

“Na superfície, isso é por causa de uma luta de poder”, disse o professor Xu. “Os chineses têm um ditado que o bem é recompensado com o bem, e o mal com o mal. Porque o Partido Comunista fabricou essas histórias para demonizar o Falun Gong, Li Dongsheng está agora sofrendo represálias. Todos os outros envolvidos nesses crimes, eventualmente, também receberão o que merecem.”