Após sucessivas ameaças da Rússia e a invasão da Ucrânia, a Letônia teme pelo seu futuro. Ela tem apenas 2 milhões de habitantes, 27% dos quais são etnicamente russos.
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Muitos são oficiais soviéticos aposentados, que decidiram permanecer no país com suas famílias após o colapso da URSS, segundo informa “The Washington Post”.
O Kremlin está anunciando à Letônia, em tom de agressão, que “defenderá” esses russos étnicos em seu território custe o que custar.
O pretexto é bem conhecido, já funcionou na Crimeia e está funcionando à toda no leste ucraniano.
Um alto diplomata russo foi até a capital letã para alertar contra as “consequências desastrosas” que se abateriam sobre a pequenina nação se acontecesse alguma forma de “discriminação” contra a minoria russa.
Mas a Letônia é membro da OTAN e mantém um contingente proporcionalmente grande de tropas dos EUA.
“A Rússia e Putin acalentam um interesse geopolítico nos territórios ex-soviéticos”, disse o ministro de Defesa letão Raimonds Vejonis. “A Rússia está tentando usar a minoria russófona como um instrumento para promover agressivamente seus objetivos”.
Perto de um terço da população fala o russo como sua língua primeira, e 13% dos russófonos não possuem cidadania letã. Além do mais, o governo letão se viu obrigado a bloquear o noticiário das TVs russas, que cobriam os eventos na Ucrânia com o evidente objetivo de minar a estabilidade social da Letônia.
Esse país já sofreu sucessivos ciberataques russos, e o Kremlin estimula as queixas dos russófonos.
O delicado equilíbrio se complica ainda mais pelo fato de o prefeito de Riga, a capital do país, ser representante do partido russófono e manifestar seu mau humor com a política pró-ocidental e pró-OTAN do governo nacional.
Também o Patriarca de Moscou, Kirill, líder da Igreja Ortodoxa Russa, que conta com numerosos seguidores na Letônia, aproveita o pretexto religioso para desordenar internamente esse pequeno país.
Nas eleições gerais de outubro (2014), o partido russófono Harmonia permaneceu como o maior do país, ocupando 24 cadeiras das 100 do Legislativo.
Contudo, devido ao conflito ucraniano, ele sofreu uma forte queda de sete cadeiras, pois detinha 31.
Isso não obstante, a coalizão governamental presidida pela primeira-ministra Laimdota Straujuma garantiu o governo do país com 61 cadeiras e 58,8% dos votos, informou o site da Bloomberg.
A OTAN e os EUA concordaram em reforçar sua presença militar no país, que se sente desprotegido.
Por sua vez, a Rússia não hesitou na retaliação: sequestrou em território da Letônia um agente do serviço de segurança deste país e o levou para a Rússia.
Simultaneamente, a Lituânia apresentou queixa pelo sequestro de um barco pesqueiro de bandeira lituana em águas internacionais. A Rússia alegou que o tripulante estava em território russo e que o barco estava pescando caranguejos ilegalmente.
Janis Urbanovics, presidente do partido putinista Harmonia, reivindicou a missão de formar um governo, apesar de ser incapaz, segundo toda evidência, de reunir o mínimo de deputados necessários para viabilizá-lo, segundo a AFP.
Mas seu gesto sinaliza o intuito de provocar atritos úteis aos agressivos planos do amo do Kremlin.
Luis Dufaur é escritor e edita o blog Flagelo Russo