Lenin, Stalin, Ceausescu, Obama: como líderes marxistas escondem seu passado

13/11/2013 09:18 Atualizado: 13/11/2013 09:19

Estive ausente destas páginas por um tempo. O meu novo livro Disinformation, escrito em coautoria com o professor Ronald Rychlak, e o documentário nele baseado monopolizaram o meu tempo. Mas, uma nauseante operação estilo glasnost em andamento nos Estados Unidos me faz sentir como se estivesse assistindo a uma reencenação da imensa glasnost que eu costumava conduzir durante a minha época como conselheiro do presidente da Romênia comunista, Nicolae Ceausescu.

Não, glasnost não é um erro de impressão ou digitação. Durante os meus anos no topo da comunidade KGB, glasnost era o codinome de uma ferramenta de inteligência ultrassecreta da ultrassecreta “ciência” negra de desinformação da KGB. A sua missão era transformar o país num monumento a seu líder e retratá-lo como o próprio Deus. Isto me trouxe de volta ao JP Media e aos seus leitores, pois a glasnost só funciona para quem não sabe o que ela realmente significa.

Se você pensa que Gorbachev inventou a palavra glasnost para descrever os seus esforços na condução da União Soviética “para longe do estado totalitário e na direção da democracia, liberdade e abertura”, você não está sozinho. Toda a mídia ocidental e a maioria dos especialistas ocidentais, até mesmo os de órgãos de inteligência e defesa, acreditam nisto também – como o comitê que deu a Gorbachev o Prêmio Nobel da Paz. A venerável Enciclopédia Britânica define glasnost como “Política soviética de discussão aberta sobre questões políticas e sociais. Foi instituída por Mikhail Gorbachev no fim da década de 1980 e deu início à democratização da União Soviética” (1). E o American Heritage Dictionary define glasnost como uma política oficial do antigo governo soviético enfatizando a sinceridade na discussão de problemas e fraquezas sociais (2).

Mas glasnost é, na verdade, um velho termo russo cujo significado é dar brilho à imagem do ditador. Em meados da década de 1930 – meio século antes da glasnost de Gorbachev – a enciclopédia oficial soviética definiu a palavra glasnost como uma interpretação particular nas notícias liberadas para o público: “Dostupnost obshchestvennomy obsuzhdeniyu, kontrolyu; publichnost“, significando a qualidade da informação disponibilizada para o controle ou para a discussão pública (3). Em outras palavras, glasnost significa, literalmente, fazer propaganda, ou seja, autopromoção. Desde o século XVI, desde Ivan, o Terrível, o primeiro ditador a se tornar o czar de todos os russos, todos os líderes daquela nação têm usado a glasnost para se promover dentro e fora do país. Os czares comunistas adaptaram aos nossos dias a longa tradição da glasnost. A cidade de Tsaritsyn foi renomeada para Stalingrado – como São Petersburgo, assim chamada para homenagear Pedro, o Grande, foi renomeada para Leningrado para glorificar Lenin. O corpo embalsamado do mais novo santo da Rússia, Lenin, foi colocado em exibição em Moscou como uma relíquia sagrada para a adoração pública.

Como era de se esperar nos Balcãs, a glasnost romena tomou uma coloração gloriosamente bizantina. Praticamente todas as cidades tinham o seu Boulevard Gheorghiu-Dej, a sua Praça Gheorghiu-Dej, o seu Largo Gheorghiu-Dej. O retrato do seu sucessor, Nicolae Ceausescu, estava pendurado nas paredes de todos os escritórios romenos – como o busto de Putin hoje ornamenta todos os prédios da imensa burocracia russa.

Durante as eleições de 2008, quando o Partido Democrata proclamou o senador Barack Obama como um messias americano, eu desconfiei que a glasnost havia começado a infectar os Estados Unidos. O senador concordou. Em 8 de junho de 2008, durante um discurso em New Hampshire, ele disse que o início do seu mandato presidencial seria “o momento em que a elevação dos oceanos começaria a diminuir e o nosso planeta começaria a ser curado” (4). Uma sequência indiscreta no YouTube exibida na Fox TV revelou a imagem do ídolo comunista Che Guevara pendurada na parede do escritório de campanha do senador Obama em Houston (5). Logo em seguida, as assembleias eleitorais do Partido Democrata começaram a se parecer com as reuniões de despertar religioso de Ceausescu – mais de oitenta mil pessoas reunidas em frente do agora famoso templo grego semelhante à Casa Branca erguido em Denver para a aclamação do novo messias americano.

Muitos poucos americanos consideraram esta retórica como uma nova expressão de democracia. Para mim, foi uma repetição da glasnost de Ceausescu, concebida para transformar a Romênia num monumento a ele. “Um homem como eu só nasce a cada quinhentos anos”, dizia ele sem cessar.

Estaria o senador Obama usando uma glasnost ao estilo Ceausescu? Bem, eu duvido que ele tivesse uma ideia do real significado da glasnost. Ele estava usando calças curtas – na Indonésia comunista – quando a glasnost estava na moda. Mas, quando comparo algumas das coisas que o senador, e mais tarde presidente, Obama fez, ao lado dos seus pronunciamentos públicos, com o modus operandi e a história da glasnost, eu me vejo terrivelmente perto de uma glasnost real.

Vamos fazer o exercício juntos para você julgar por si mesmo.

Em 2008, o agora falecido veterano jornalista David S. Broder comparou as táticas do senador Obama para esconder o seu passado socialista às táticas de proteção usadas pelos pilotos militares ao sobrevoar um alvo fortemente defendido por armas antiaéreas: “Eles liberam uma nuvem de fragmentos metálicos leves na esperança de confundir a mira dos projéteis ou mísseis lançados na sua direção” (6). Eis uma boa definição de glasnost.

Toda glasnost que eu conheci tinha como tarefa prioritária apagar o passado do ditador dando-lhe uma nova identidade política. A glasnost de Stalin apagou o seu horrível passado de assassino de cerca de 24 milhões de pessoas retratando-o como um deus na terra, com o seu ícone exibido proeminentemente por todo o país. A glasnost de Khruschev visava construir uma fachada internacional de paz para o homem responsável por trazer para o Ocidente os assassinatos políticos da KGB. Isto foi provado pela Suprema Corte da Alemanha Ocidental em outubro de 1962, durante o julgamento público de Bogdan Stashinsky, oficial da KGB condecorado pelo próprio Khrushchev por ter assassinado inimigos da Rússia residentes no Ocidente (7). Gorbachev, informante da KGB quando estudante da Moscow State University (8) incumbiu a sua glasnost de tirar a atenção do seu passado na KGB retratando-o como um prestidigitador que exibia uma galanteadora “Miss KGB” para os correspondentes ocidentais e era o responsável pela transformação da União Soviética numa “sociedade marxista de pessoas livres” (9).

Em 2008, quando o senador Obama concorria para presidente, as suas políticas de tributos e o seu histórico de votos mostravam-no como “o candidato mais à esquerda jamais nomeado para presidente dos Estados Unidos” (10). Você se lembra? Concorrer como socialista, entretanto, significava navegar por águas desconhecidas, e o senador decidiu dissimular a sua imagem socialista apresentando-se como um Reagan contemporâneo (11). Após ser eleito, o presidente Obama foi mais longe, exibindo-se como um Lincoln dos dias de hoje (12) ou como um novo Teddy Roosevelt (13).

Os discursos de autopromoção foram outra arma da glasnost. Os discursos da glasnost de Lenin mudaram tanto o marxismo que os seus seguidores acabaram por chamá-lo de “leninismo”. Stalin colocou o marxismo, o leninismo, a dialética de Hegel e o materialismo de Feuerbach num mesmo balaio de glasnost e criou o seu próprio “marxismo-leninismo-stalinismo”.

Os discursos da glasnost de Ceausescu eram uma ridícula mistura de marxismo, nacionalismo e adulação bizantina chamada ceausismo. Todos os seus discursos eram focados em Ceausescu, e todos eram tão escorregadios, indefinidos e inconstantes que ele encheu 24 volumes dos seus trabalhos reunidos sem ser capaz de descrever o real significado do ceausismo. Em 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlin caiu, sinalizando o fim do Império Soviético. No dia 14 de novembro, Ceausescu convocou o XIV Congresso do Partido Comunista no qual fez um discurso de glasnost de quatro horas que convenceu os participantes a reelegerem-no e a sua iletrada esposa como líderes da Romênia.

Os discursos de glasnost funcionam para quem não sabe o que ela realmente significa. Eles também funcionaram para o presidente Obama. Nos seus primeiros 231 dias na Casa Branca, ele fez 263 discursos (14). Todos eram, basicamente, sobre ele mesmo (15). O seu discurso State of Union de 2010 exibiu a palavra “eu” 76 vezes. Em 2011, quando anunciou a morte de Osama bin Laden pelas forças americanas, o presidente Obama usou as palavras “eu”, “mim” e “meu” 13 vezes combinadas num discurso de apenas 1300 palavras (16).

“Eu mandei o diretor da CIA… Eu me reuni repetidamente com a minha equipe de segurança nacional… Eu determinei que tínhamos inteligência suficiente para agir… Sob a minha direção, os Estados Unidos lançaram uma operação contra o Complexo de Abbottabad, no Paquistão” (17).

O discurso State of Union de 2012 do presidente Obama continha a palavra “eu” 45 vezes, e a palavra “mim” 13 vezes. Na ocasião, ele estava na Casa Branca fazia 1080 dias, e havia feito 726 discursos (18).

Em 2011, quando a agência S&P rebaixou a taxa de crédito dos Estados Unidos pela primeira vez na história do nosso país, o presidente Obama fez outro discurso. Foi um bom discurso, tão bom quanto um discurso pode ser – ele é um excelente orador. Mas aquele discurso foi tudo o que o presidente Obama fez. Por isso, o débito nacional aumentou, e o custo de garantia contra a inadimplência aumentou de uma base de 25 para 55 pontos.

Logo após o bárbaro assassinato do embaixador J. Christopher Stevens e três dos seus subordinados dentro do nosso posto diplomático em Benghazi, cometido na emblemática data de 11 de setembro por terroristas islâmicos assumidos, o presidente Obama fez outro discurso. Foi outro bom discurso, mas discursos não detêm o terrorismo. O subsequente ataque terrorista de 2013 na Maratona de Boston foi seguido por mais um discurso presidencial. “Extremistas domésticos. Este é o futuro do terrorismo”, proclamou o presidente. Tudo o que tínhamos a fazer era fechar Guantánamo e realizar uma ligeira alteração no modo como os drones eram usados.

Poucos meses atrás, quando o governo terrorista da Síria matou cerca de 1.300 pessoas com armas químicas, o presidente Obama fez diversos discursos. Mas discursar foi a sua única atitude, e isto permitiu à KGB de Putin, agora instalada no Kremlin, assumir o controle da nossa política em relação à Síria. Poucos dias atrás, quando o website do Obamacare fechou, o presidente reagiu com mais um discurso, garantindo ao país que o Obamacare “está funcionando excelentemente. Em alguns casos, na verdade, supera as expectativas.” Na opinião do jornalista do Washington Post, Ezra Klein, o discurso era quase idêntico ao que ele poderia ter feito se o lançamento de um produto tivesse ocorrido sem problemas. Ele estava certo. Foi apenas outro discurso à glasnost.

Por fim, há a tendência atual de transformar os EUA num monumento estilo glasnost ao seu líder. Mostro abaixo uma lista de instituições e locais já nomeados em homenagem ao presidente Obama:

Califórnia: President Barack Obama Parkway, Orlando; Obama Way, Seaside; Barack Obama Charter School, Compton; Barack Obama Global Preparation Academy, Los Angeles; Barack Obama Academy, Oakland.
Flórida: Barack Obama Avenue, Opa-loka; Barack Obama Boulevard, West Park.
Maryland: Barack Obama Elementary School, Upper Marlboro.
Missouri: Barack Obama Elementary School, Pine Lawn.
Minnesota: Barack and Michelle Obama Service Learning Elementary, Saint Paul.
Nova Jersey: Barack Obama Academy, Plainfield; Barack Obama Green Charter High School, Plainfield.
Nova York: Barack Obama Elementary School, Hempstead.
Pensilvânia: Obama High School, Pittsburgh.
Texas: Barack Obama Male Leadership Academy, Dallas.

Não quero dizer que o presidente Obama seja um Putin ou Ceausescu. O presidente é certamente ele mesmo – bem educado, bem falante, carismático e agradável. Pertence a uma minoria, como eu também pertenço a outra minoria. Mas ele aparentemente caiu no canto da sereia socialista e da glasnost, como eu mesmo e milhões de outros como eu em todo o mundo também caímos naquela idade da vida.

Os Estados Unidos venceram a Guerra Fria porque Ronald Reagan foi eleito presidente bem depois de ter se purgado de uma passageira paixão socialista. Foi então capaz de identificar a glasnost de Gorbachev como a fraude política que realmente era, e assim conseguiu vencê-la. Vamos torcer para que o presidente Obama faça o mesmo.

Em novembro de 2014 enfrentaremos, em minha opinião, as mais importantes eleições da história americana. Aparentemente, os eleitores decidirão quais dos dois principais partidos políticos controlará o Congresso dos EUA. Na realidade, o eleitor decidirá entre manter o nosso país como o líder do mundo livre ou transformá-lo numa irrelevância glasnost.

O PJ Media está unindo forças com o WND (o editor de Disinformation) para ajudar os seus leitores a adquirir o conhecimento para falar franca e abertamente – os inimigos a serem derrotados são o socialismo e a glasnost.

Fontes:

1 – Glasnost, Britannica Concise.
2 – http://dictionary.reference.com/browser/glasnost
3 – Tolkovyy Slovar Russkogo Yazyka (Explanatory Dictionary of the Russian Language), ed. D.N. Ushakov (Moscow: “Soviet Encyclopedia” State Institute, 1935), Vol. I, p. 570.
4 – http://www.youtube.com/watch?v=oQNkVmdicvA
5 – James Joyner, “Obama Che Guevara Flag Scandal“, Outside the Beltway, February 12, 2008.
6 – David S. Broder, “Obama’s Enigma”, The Washington Post, July 13, 2008, p. B7.
7 – John Barron, “KGB: The Secret Work of Soviet Secret Agents”. New York: Reader’s Digest Books, 1974, reprinted by Bantam Books, p. 429.
8 – Zhores Medvedev, “Gorbachev”. New York: Norton, 1987, p. 37.
9 – Mikhail Gorbachev, “Perestroika: New Thinking for Our Country and the World”. New York: Harper & Row, 1987; passim.
10 – Peter Kinder, “Missourians Reject Obama”.
11 – Jonathon M. Seidl, “Obama Compares Himself Tom Reagan: Republicans Aren’t Accusing Him Of ‘Being Socialist’”, The Blaze, October 5, 2011.
12 – Alexandra Petri, “Obama is up there with Lincoln, Roosevelt, and Johnson”, The Washington Post, December 12, 2011, PostOpinions.
13 – David Nakamura, “Obama invokes Teddy Roosevelt in speech attacking GOP policies”, The Washington Post, December 6, 2011.
14 – “How Many Speeches Did Obama Give“, Newswine.com, July 16, 2010.
15 – Thomas Lifson, “Obama’s troop withdrawal speech: when politics triumphs victory”, American Thinker, June 23, 2011.
16 – “Right-Wing Media Fixated On Obama’s ‘Shamless’ Bin Laden Speech“, Mediamatters, May 3, 2011.
17 – George Landrith, “The ‘it’s all about me’ president“, The Daily Caller, May 5, 2011.
18 – http://wiki.answer.com/Q/How_many_speeches_did_Obama_give (as searched in January.)

Esta matéria foi originalmente publicada pela PJ Media (via Mídia Sem Máscara)