Lai Changxing será torturado se voltar para a China, diz advogado

21/07/2011 03:00 Atualizado: 04/09/2013 18:06

Dois ex-prefeitos executados por corrupção enquanto Baird ainda estava na China

O contrabandista e fugitivo chinês Lai Changxing (Deborah Jones/AFP/Getty Images)
O contrabandista e fugitivo chinês Lai Changxing (Deborah Jones/AFP/Getty Images)

John Baird, ministro das Relações Exteriores do Canadá, nega qualquer ligação entre o calendário da sua viagem a China e a detenção súbita e decisão de expulsão “do mais procurado fugitivo chinês”, Lai Changxing.

A questão está nos tribunais, diz Baird, e o ministério não tem permissão para se envolver na decisão.

A sincronia é uma reminiscência da viagem do líder chinês Hu Jintao em 2005 ao Canadá, quando poucos dias após sua chegada, Lai teve negado um recurso pela Suprema Corte para reverter uma decisão negando-lhe o status de refugiado.

Falando a repórteres numa teleconferência a partir de Pequim na segunda-feira, Baird disse que as autoridades chinesas asseguraram-lhe que o crime de colarinho branco não está mais sujeito à pena capital, e que ele “não tem qualquer razão para duvidar desse compromisso”.

No dia seguinte, a China executou dois ex-prefeitos, Xu Maiyong e Jiang Renjie, sob acusações de suborno.

Lai, que fugiu para o Canadá em 1999, é acusado de ser o mentor de uma rede de contrabando de vários bilhões de dólares na China. Ele foi preso e foi programado para ser deportado no início de julho de 2011 depois que oficiais, após quatro anos de deliberações, determinaram que havia garantias adequadas que ele não seria executado na China.

O advogado de Lai, David Matas, posteriormente ganhou uma estadia temporária de um juiz do Tribunal Federal para que ele possa argumentar contra a ordem de deportação de seu cliente em outra audiência em 21 de julho.

Matas diz que Lai não terá um julgamento justo na China e enfrenta sério risco de ser torturado.

“A China não respeita os direitos humanos. Outras pessoas envolvidas no caso foram torturadas, executadas e mortas na prisão, ou morreram na prisão por causas desconhecidas”, diz Matas.

“A China não permite que um conselho de defesa opere contra a política do Partido, por isso, ele não teria um julgamento justo.”

O ex-primeiro-ministro chinês Zhu Rongji teria dito que Lai já deveria ter sido executado três vezes. Porém, o presidente chinês Hu Jintao disse mais tarde no Canadá que Lai não será executado se for deportado para a China.

No mês passado, um artigo da mídia de língua chinesa World Journal citou Zhang Junsai, o embaixador chinês no Canadá, dizendo que os dois governos estão em “negociações detalhadas” sobre o caso de Lai. Ele disse que Lai “com certeza” será enviado de volta à China, e o caso está atualmente passando pelos procedimentos legais necessários, disse o artigo.

Um porta-voz da Cidadania e Imigração do Canadá se recusou a comentar as declarações do embaixador e se o governo canadense havia dado garantias de que Lai será deportado, citando leis de privacidade num “caso individual”.

Luta pelo poder

Durante seu auge na China, Lai tinha laços muito estreitos com os subordinados do ex-líder chinês Jiang Zemin, que também pode estar envolvido nas operações de Lai na China.

Os boatos rondando pela China dizem que Jiang está morto ou a beira da morte, embora a informação tenha sido fortemente censurada e alguns pronunciamentos sobre o assunto em mídias pró-Pequim tenham sido retirados ou revogados.

Jiang liderou uma facção de líderes chineses, e suas perspectivas para cargos importantes no regime podem depender de como o legado de Jiang seja retratado pelo Partido Comunista Chinês (PCCh).

Sheng Xue, um jornalista chinês-canadense e ativista de direitos humanos, diz que Lai poderia ser útil para Hu Jintao em sua luta pelo poder contra a facção de Jiang dentro do Partido.

“Hu não está feliz com a influência de Jiang. Agora, uma vez que a saúde de Jiang está ameaçada […] Hu Jintao pode querer usar esta oportunidade para continuar sua busca pela vitória [sobre a facção de Jiang]”, diz Sheng, que já entrevistou Lai e escreveu um livro popular sobre o caso intitulado “Revelando o caso Hua Yuan”.

O comentarista político chinês Lin Baohua disse à NTDTV que Lai pode ser utilizado de forma eficaz para obter alguma vantagem sobre Jiang.

“Lai fez a sua fortuna em Fujian, quando o secretário provincial do Partido em Fujian era Jia Qinglin. Jia era parte da camarilha de Jiang. A esposa de Jia foi secretária do Partido do Grupo Fujian de Comércio Exterior. Lai, um contrabandista, era um bom amigo dela”, diz ele.