Laços de amizade com a China vêm com prêmio, mas eticistas objetam

11/10/2012 19:55 Atualizado: 20/04/2014 21:38
Damon Noto, M.D., é porta-voz dos ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’ (DAFOH) e trabalha no Centro Médico da Universidade Hackensack em Nova Jersey, EUA. (Gary Feuerberg/The Epoch Times)

Uma universidade norte-americana prosseguiu recentemente com a premiação de um doutorado honorário ao ministro da saúde chinês, apesar das vigorosas objeções de pesquisadores da prática de transplante de órgãos na China. O gesto simbólico foi feito no contexto de propostas de fortalecer os laços entre a Universidade de Minnesota e a China, que os críticos dizem ser uma abordagem equivocada que aceita os pronunciamentos oficiais e superficiais chineses e deixa a ética médica em segundo plano.

Preocupações sobre o doutorado foram levantadas pelo Dr. Kirk Allison, diretor do programa de Direitos Humanos e Saúde da Universidade de Minnesota, numa carta pública que foi assinada por 21 outros especialistas.

A carta reconhece o trabalho do Dr. Chen Zhu, ministro chinês da saúde desde 2007, na pesquisa da leucemia e em iniciativas de saúde pública, mas continua, “Infelizmente, o ministro Chen também preside um sistema de transplante que conta principalmente com execuções como fonte de órgãos.”

A carta assinala que prisioneiros no corredor da morte e prisioneiros da consciência, como praticantes do Falun Gong, são vítimas da colheita de órgãos para transplante na China, onde por razões culturais os cidadãos comuns geralmente não se dispõem a doar órgãos. Órgãos retirados de prisioneiros da consciência e outros são então vendidos para turistas de transplante ou chineses ricos e as vítimas morrem. A carta descreve o uso de prisioneiros executados como uma fonte de órgãos que é “moralmente repreensível”.

Dar a Chen Zhu um prêmio enquanto as execuções por órgãos continuam, sob a suposta autoridade do Ministério da Saúde, seria “desonrar as vítimas deste horrível sistema”, diz a carta.

Defendendo Chen

Numa defesa do prêmio enviada a Allison em 2 de outubro, Eric W. Kaler, presidente da Universidade de Minnesota, referiu-se às razões para a nomeação que não incluíam referência aos transplantes de órgãos: a pesquisa do ministro Chen Zhu sobre a leucemia e seu trabalho de saúde pública.

Mas a razão para a nomeação aparentemente mudou na semana seguinte. Segunda-feira, 8 de outubro, uma defesa do prêmio enviada aos jornalistas pelo gabinete de imprensa da universidade disse que o doutorado foi “não apenas pelos esforços [de Chen Zhu] de reformar o sistema de transplante chinês”.

Numa explicação mais detalhada do prêmio e numa carta de réplica à Allison, a nota diz que Allison tinha “descaracterizado os esforços do Ministério da Saúde chinês pela reforma da política de transplante na China” e listou uma série de medidas de reforma que Chen Zhu tem acompanhado desde 2007.

Estas incluem a exigência de que prisioneiros deem consentimento antes que seus órgãos sejam removidos após a morte e um programa piloto de registro de fígado e outros esforços para expandir as fontes de órgãos de doadores voluntários da população em geral, em vez de simplesmente prisioneiros executados ou prisioneiros da consciência que são mortos por seus órgãos num processo extrajudicial.

Essas iniciativas, no entanto, não pararam o fluxo de órgãos ilícitos, segundo especialistas que analisaram a defesa da universidade a respeito do prêmio.

“Razões políticas”

“Ele tem sido Ministro da Saúde desde 2007. Isso significa, no mínimo, cinco anos de colheita de órgãos de prisioneiros confirmada em grande escala”, disse Damon Noto, porta-voz do grupo ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’. Noto testemunhou sobre o tema numa audiência do Congresso dos EUA em setembro.

“Se isso está realmente resolvido, por que não abrir para o resto da comunidade médica verificar que isso não ocorre mais?”, escreveu Noto num e-mail de resposta. “As pessoas estão perdendo suas vidas sob o olhar deste ministro da saúde. Com reforma ou não, ele tem de assumir algum tipo de responsabilidade.”

O Dr. John Lake, diretor do Programa de Transplante Hepático da Universidade de Minnesota, foi um forte defensor da visita de Chen Zhu à universidade e do prêmio. Ele descreveu Chen Zhu e seu vice Huang Jiefu como “corajosos” em realizar a reforma de transplante de órgãos na China. Ele disse que os abusos que preocupam Allison e outros estavam sendo tratados.

As tentativas de defender os esforços de Chen Zhu na reforma do transplante de órgão, no entanto, deixam de abordar as razões profundamente políticas por trás de como os órgãos são adquiridos na China, segundo David Matas, um advogado de direitos humanos do Canadá. Matas é coautor do livro sobre a colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong chamado ‘Colheita Sangrenta’, publicado em 2006, e coeditor da obra ‘Órgãos do Estado: O abuso do transplante na China’, de 2012.

A defesa de Chen Zhu é “insensível à natureza do sistema chinês”, disse Matas, onde o complexo médico-militar e as forças de segurança trabalham lado a lado, muitas vezes de forma extrajudicial, para colher prisioneiros políticos por seus órgãos. “Os padrões e as leis não significam muito nesse contexto.”

Huang Jiefu, o vice-ministro da saúde, disse o mesmo à Associação Médica Mundial (AMM), segundo Matas. Huang Jiefu havia dito à AMM que não tinha “apoio político” para alterar a prática da colheita de órgãos de prisioneiros.

“Qual é a política?”, perguntou Matas retoricamente. “É, obviamente, o desejo de reprimir o Falun Gong. Huang Jiefu não diz, ‘Isso é errado, eu não seguirei isso’, mas, em vez disso, ele diz, ‘OK, isso é errado, tentarei o que puder.’ Para mim, isso é cumplicidade.”

Chen Zhu e Huang Jiefu estão no comando do sistema e o aparato de segurança não deveria ter nada a ver com isso, mas “essa não é a maneira como o sistema funciona na China”, diz Matas. “Eu não acho que a universidade percebe isso.”

Forjando alianças

Quaisquer que sejam os detalhes na China, o grau honorário de Chen Zhu parece muito útil para as relações entre a Universidade de Minnesota e a China. Durante o simpósio, Chen Zhu falou sobre uma variedade de possibilidades para uma futura colaboração com a universidade e outras instituições norte-americanas, incluindo parcerias envolvendo instituições médicas completamente norte-americanas na China e projetos de pesquisa colaborativos, segundo um participante.

“Há uma espécie de economia de títulos honoríficos”, disse Kirk Allison. “É uma forma de expandir uma relação entre essa pessoa e a instituição que a concede.” Ele considera que o grau conferido a Chen Zhu foi “digamos assim, vantajoso nesse sentido”.

O gabinete do presidente da universidade foi perguntado se o prêmio ao ministro Chen melhoraria as relações entre a universidade e a China. “Eu diria que sim”, disse um representante de mídia de improviso, antes de procurar uma resposta formal do gabinete. A resposta nunca veio.

No contexto de forjar tais laços, as questões de direitos humanos e da colheita de órgãos de prisioneiros da consciência tornam-se “um tema desconfortável”, disse Allison.

Numa resposta de e-mail ao Conselho de Regentes da Universidade de Minnesota, que escreveu a Allison sobre suas preocupações com o prêmio, Allison concluiu um e-mail com a frase, “Quando histórias de relações com a China são escritas, este doutorado honorário, infelizmente, não será um ponto de honra para a China ou a universidade.”

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