Laços da Europa com empresas são íntimos demais

08/06/2012 03:00 Atualizado: 08/06/2012 03:00

A escultura ''Europa'' da artista belga May Claerhout mostra uma mulher segurando o símbolo do euro diante do edifício do Parlamento Europeu em 17 de novembro de 2011, em Bruxelas, Bélgica. (Sean Gallup/Getty Images)Relações estreitas entre os governos e as empresas europeias aumentam os riscos da estabilidade econômica do continente já severamente endividado, segundo uma organização anticorrupção.

Num relatório divulgado na quarta-feira, a Transparência Internacional disse que houve uma lacuna nas medidas anticorrupção provocando escândalos políticos e financeiros que assolaram os países europeus durante o ano. Ela destacou que a campanha e lobby de financiamento deveriam ser mais transparentes. “Em toda a Europa, muitas das instituições que definem uma democracia e permitem que um país restrinja a corrupção são mais fracas do que frequentemente consideradas”, disse Cobus de Swardt, diretor da Transparência Internacional num comunicado.

Segundo de Swardt há “questões preocupantes” em jogo quando “liderança transparente é necessária para a Europa tentar resolver sua crise econômica”. Em particular, Grécia, Itália, Portugal, e Espanha, países que passaram por carências econômicas nos últimos longos anos, têm grandes lacunas em sua prestação de contas do setor público, disse o relatório. Esses países “encabeçam a lista dos países da Europa Ocidental em grave déficit em seus sistemas de integridade”, de acordo com o relatório.

Também segundo o relatório, o papel que a corrupção desempenha na crise financeira que assola a União Europeia não pode mais ser ignorado. “Na Grécia, apesar dos extensos relatos de casos de corrupção, de acordo com dados oficiais, cerca de apenas 2% dos funcionários públicos foram sujeitos a procedimentos disciplinares,” disse o relatório.

Em toda a Europa, há uma grande variação nos sistemas implementados para lidar com a corrupção. Dinamarca, Noruega e Suécia têm as melhores proteções contra a corrupção do governo, com boa vigilância, departamentos de justiça e auditores, segundo o relatório. Mas ainda existem alguns problemas que assolam esses países, principalmente na área de financiamento político. Noruega e Suécia, em particular, são os dois únicos países que se dedicam de forma adequada “com o governo e a sociedade civil na luta contra a corrupção”, disse o relatório.

Transparência Internacional apela aos governos europeus para darem um exemplo, colocando regulamentos estritos sobre as instituições governamentais e partidos políticos. O grupo analisou 300 instituições nacionais em 25 países. E descobriu que “os partidos políticos, empresas e o serviço público tiveram o pior desempenho na luta contra a corrupção e irregularidades, enquanto auditores estaduais, ouvidores e agências encarregadas de executar as eleições tiveram os melhores desempenhos.”

O financiamento dos partidos políticos é considerado um “ponto fraco” e foi rotulado como uma área particularmente de alto risco de corrupção pelo grupo. Por exemplo, Suíça e Suécia não têm normas imperativas sobre o financiamento dos partidos políticos, enquanto outros países têm uma série de lacunas. Lobbying também é um problema enorme, porque não há um véu de segredo colocado sobre a prática, disse o relatório. Apenas 6 dos 25 países avaliados, França, Reino Unido, Alemanha, Polônia, Lituânia e Eslovênia, regularam o lobby em algum grau.

A agência observou que os parlamentares “não estão vivendo à altura dos padrões éticos” porque muitos países europeus não têm mandato de códigos de conduta para os legisladores, regras dadas sobre conflitos de interesses entre o governo e os negócios, ou tornaram obrigatório para os políticos que declarem seus bens e renda. Enquanto isso, apenas dois países, Reino Unido e Noruega, protegem delatores de retaliações se falarem contra a conduta antiética ou crimes, agravando o problema.

O grupo disse que para avançar os governos precisam considerar registros obrigatórios de lobistas, normas imperativas sobre o financiamento dos partidos, adoptar códigos de conduta para os legisladores, e outras medidas.