Em vez de trabalhar duro, os jovens na China só querem um pai rico para parasitar, segundo uma pesquisa online. Quase 84% dos 3.809 entrevistados pela mídia estatal Diário Jovem da China (DJC) votaram pelos pais em vez do trabalho duro, com apenas 10% dizendo que o trabalho duro é a chave para o sucesso.
Na China, “pindie”, ou seja, ver quem tem o pai mais poderoso e estabelecer uma hierarquia entre os descendentes, é um fenômeno social bem conhecido que reflete o quão profundamente enraizado é o nepotismo entre os filhos de oficiais e empresários.
Há inúmeros exemplos de nepotismo; Li Zhixin, de 26 anos e que se formou na Universidade Renmin da China, disse ao DJC: “Eu tive um colega que, embora ele não fosse bom aluno na escola, apenas usando suas conexões familiares num banco e no Partido Comunista Chinês [PCC] conseguiu ir para uma universidade de prestígio.”
Um estudante universitário recém-formado facilmente conseguiu um emprego num grande banco estatal que normalmente exigi seis entrevistas e exames, porque ele está relacionado a um gerente de alto escalão, disse o ex-colega Guo Tong, de 24 anos e estudante na Universidade Politécnica de Hong Kong.
“Quem você conhece é primordial. Isto não é apenas reconhecido em particular, mas também oficialmente”, escreveu Stephen Asma, que viveu na China antes, em seu livro de filosofia “Contra a Equidade” (Against Fairness), publicado em 2012. “Na cultura chinesa, é preciso construir conexões elaboradas com amigos, colegas de trabalho e vizinhos. Sem boas conexões, você não chegará a lugar algum.”
Um trabalhador numa farmácia de Pequim, de sobrenome Bai, disse que em seu departamento, familiares de funcionários podem obter empregos com muitas chances de promoções, independentemente de onde tenham estudado ou em que tenham se graduado.
“Poder e dinheiro se tornarão o propósito principal de se socializar”, disse Chen Youhua, diretor do departamento de serviço social da Universidade de Nanjing, ao DJC. “Comparar pais ricos pode afetar a psique da juventude em diferentes classes sociais – a classe alta se torna dominadora, enquanto as classes média e baixa ficam mais deprimidas.”
“Não nos culpe sempre por buscar o apoio de nossos seniores! Se não contarmos com eles, não poderemos sobreviver”, escreveu um internauta da província de Fujian no Sina Weibo, uma plataforma chinesa similar ao Twitter. “Quando meu carro não tem combustível, eu peço a meu pai e choro e imploro a minha mãe por algum dinheiro para gastar.”
Cerca de 60% dos inquiridos na sondagem acreditam que “trabalho duro é realmente difícil”. A maioria disse que muitos jovens não têm motivação e menos da metade expressou preocupação pelo futuro da juventude. Quando questionados sobre o que pensavam primeiramente quando surgia um problema, 25% disse que deixaria os pais lidarem com o problema.
O fenômeno de os pais concederem benefícios aos filhos penetra profundamente nas fileiras do regime chinês, segundo Cheng Li, um estudioso do Instituto Brookings, um grupo de reflexão de Washington DC. “Altos oficiais que vêm de famílias privilegiadas geralmente são suspeitos de terem atingido seus altos cargos principalmente por causa do nepotismo político.”
O filho de um oficial descreveu os benefícios que gozava graças ao pai em abril de 2011 num fórum: “Eu não preciso pagar para consertar meu carro. Eu uso cartões de presente dados por amigos do meu pai para comprar minhas roupas. Quando saio para comer, posso assinar o nome do departamento do meu pai e ser reembolsado. Eu me tornei vice-diretor de uma empresa apesar de ter apenas dois bacharelados. Meu departamento me deu uma casa, um carro e paga meu combustível. Isso é o suficiente.”
“Os funcionários de alto escalão atualmente vêm de dinheiro velho – todos dependeram dos pais”, comentou um internauta da província de Hebei no Weibo. “Foi assim no passado e é o mesmo agora: O pai luta na guerra, o filho ganha o mundo. É uma regra histórica; outros só podem ser escravos.”