Esse Julian Assange superou todos os limites do razoável. Se formos acreditar nele, a Rússia é apenas uma pobre vítima dos USA e a guerra fria estaria sendo promovida não por Putin e sim pelos americanos. E não apenas os USA, mas também a Inglaterra, os demais países europeus e inclusive a Suécia seriam Estados que violam as liberdades.
Ele parece gostar mesmo é de regimes como o do Equador (que lhe deu asilo na sua embaixada de Londres): uma proto-ditadura que persegue os meios de comunicação e faz parte da aliança bolivariana operada pelo chavismo venezuelano, teleguiada pela ditadura cubana e apoiada pelo governo petista no Brasil.
Para variar ele acusa Israel de estar cometendo crimes de guerra e não diz uma única palavra sobre o Hamas e o jihadismo islâmico que têm o propósito de riscar Israel do mapa. Por último, contrapõe à crítica à liberdade de expressão na Rússia (que para todos os efeitos práticos já é uma ditadura) com o fato de os países que criticam o regime de Putin não terem dado asilo a Snowden (o que, na sua cabecinha, deve retirar a legitimidade da crítica democrática).
Em suma, para ele, os países democráticos (com todas as limitações que conhecemos das democracias formais e representativas, mas nos quais ainda existe liberdade de expressão) são os que devem ser criticados, enquanto as democracias formais parasitadas por governos neopopulistas manipuladores, as protoditaduras e as ditaduras (onde a liberdade de expressão é atacada, restringida ou suprimida) devem ser elogiadas.
O que mais chama a atenção é que para ele o que aconteceu na Ucrânia foi apenas consequência de uma guerra secreta movida pelos USA, desde 2004, contra a Rússia. Ou seja, esse sujeito não leva em conta para nada a formidável mobilização da Praça Maidan por liberdade e contra a dominação russa. Ele acredita mesmo é no Estado e nos seus segredos estratégicos…
Desde o início desconfiei desse cara. Primeiro estranhei esse negócio de espionagem prá lá e prá cá: gente que vive nessa vibe é estatista e desacredita da força das sociedades e do poder das redes. Depois constatei que, em vez de articular uma rede para fazer o seu trabalho de vazar informações estratégicas de governos, ele estruturou uma organização hierárquica e proprietária – o WikiLeaks – como plataforma (centralizada, de um só dono) para se lançar como liderança no cenário global. Parece que até cogitou de sair candidato na Austrália.
Com essa entrevista ele enfim se revela. Ele já está se posicionando, no cenário de uma possível guerra fria, a favor das ditaduras.
Leia entrevista ao Estadão:
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,os-eua-sao-capazes-de-cortar-o-brasil-do-resto-do-mundo-em-qualquer-momento-que-queiram,1541167
Augusto de Franco é escritor, palestrante e consultor
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