Julgamento politicamente arriscado de Wang Lijun termina na China

20/09/2012 07:01 Atualizado: 24/09/2012 01:39
Imagem de um vídeo divulgado pela China Central de TV, Wang Lijun é visto em seu julgamento em 18 de setembro, em Chengdu, China. Os caracteres chineses na parte inferior da imagem listam as quatro acusações contra Wang Lijun. (The Epoch Times)

Imprensa estrangeira mantida de fora, imprensa doméstica silenciada

O segundo e último dia do julgamento altamente sensível de Wang Lijun, o ex-chefe da polícia de Chongqing e braço-direito de membro desgraçado do Politburo, Bo Xilai, foi mantido em segredo.

O julgamento foi realizado no Tribunal Popular Intermédio de Chengdu, capital de Sichuan, oeste da China.

Chengdu é o local do consulado dos EUA para onde Wang Lijun fugiu em 6 de fevereiro, um ato desesperado que trouxe escândalos à vista pública que ainda abalam o Partido Comunista Chinês (PCC).

Sua corrida para o consulado dos EUA granjeou a Wang Lijun a acusação de deserção. Ele também foi julgado por três outras acusações: manipular a lei e praticar favoritismo, abuso de poder e corrupção.

De acordo com a mídia estatal Xinhua, a sessão do tribunal em 17 de setembro foi uma “audiência secreta segundo a lei”, porque estava relacionada a “segredos de Estado”.

A audiência de 18 de setembro seria um “julgamento aberto”, com parentes de Wang Lijun, membros da mídia, membros da Conferência Nacional Popular e do comitê nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e outros participantes do julgamento, segundo a Xinhua.

Mas, na realidade, o julgamento não foi aberto à imprensa. A mídia chinesa recebeu ordem de silêncio, enquanto membros da mídia estrangeira não foram autorizados a assistir ao julgamento, segundo a Rádio France Internationale (RFI).

O segredo foi semelhante às imposições no julgamento de Gu Kailai, realizado em 9 de agosto. A esposa de Bo Xilai foi julgada pelo assassinato do empresário britânico Neil Heywood, em parte, por causa da evidência de sua culpa fornecida por Wang Lijun.

Apostas altas

O julgamento de Wang Lijun levanta questões politicamente explosivas para o regime chinês, por isso o sigilo.

Zhang Sizhi, um proeminente advogado chinês, disse à Deutsche Welle (DW) que possíveis conexões com Bo Xilai podem ser vistas na reportagem da Xinhua sobre a audiência de 17 de setembro. “Isso provavelmente está relacionado com Bo Xilai se é um ‘segredo de Estado’”, disse Zhang.

Analistas sobre a China dizem que a liderança chinesa continua profundamente dividida sobre como lidar com Bo Xilai.

Wang Lijun teria contado a oficiais do PCC sobre o envolvimento de Bo Xilai e Gu Kailai na colheita de órgãos e venda de cadáveres, sobre a corrupção de Bo Xilai e um plano de Bo Xilai e do chefe da segurança pública chinesa Zhou Yongkang para forçar o provável próximo líder chinês Xi Jinping a deixar o poder.

Zhang Tianliang, um comentarista do Epoch Times, escreveu num e-mail que Wang Lijun só teria fugido para Chengdu porque temia por sua vida e apenas Bo Xilai poderia tê-lo ameaçado.

De acordo com Zhang Tianliang, o julgamento de Wang Lijun precisa ser rigidamente controlado, para manter as informações sobre as atividades de Bo Xilai longe do povo chinês.

Além disso, o julgamento de Wang Lijun, que chama a atenção para Bo Xilai, também destaca a luta em torno dele no Politburo, com alguns líderes defendendo Bo Xilai e outros tentando derrubá-lo. O PCC quer manter tais divisões na liderança fora da vista do público, disse Zhang Tianliang.

A questão mais sensível que envolve Wang Lijun é o envolvimento de seu chefe Bo Xilai e Gu Kailai na atrocidade da colheita forçada de órgãos de pessoas vivas.

Zhang Sutian, um comentarista da Rádio Som da Esperança, disse, “A colheita forçada de órgãos de pessoas vivas é um crime contra a humanidade. Isso aconteceu sob o regime do PCC, por isso, está diretamente relacionada com o PCC.”

De acordo com Zhang Sutian, uma vez que o povo chinês saiba da atrocidade da colheita de órgãos, o PCC perderá toda a legitimidade e ruirá.

Clemência

Observadores do julgamento de Gu Kailai observaram que o tribunal pareceu aceitar razões de clemência na audiência da sentença. Gu Kailai recebeu uma sentença de morte suspensa que pode ser comutada por prisão perpétua após dois anos e, então, pode ser reduzida por bom comportamento a critério do tribunal.

A reportagem da Xinhua sugere que alguma indulgência pode estar a caminho para Wang Lijun.

Os promotores disseram que considerando que Wang Lijun fez contribuições importantes para desvendar o caso, a pena para o crime de manipular a lei para ganhos pessoais poderia ser mais leve, segundo a Xinhua.

Além disso, a Xinhua informou que Wang Lijun “forneceu pistas para expor as graves infrações cometidas por outros e desempenhou um papel-chave na investigação desses casos. Isto pode ser considerado como a realização de importantes serviços meritórios, disseram os promotores no processo.”

A reportagem da Xinhua não expôs que contribuições Wang Lijun fez, que caso ele ajudou e que crimes ele ajudou a expor, embora o assassinato de Neil Heywood por Gu Kailai pareça estar entre os casos envolvidos.

O advogado de defesa de Wang Lijun teria citado fatores atenuantes para o caso de Wang Lijun.

Foi oficialmente informado que Wang Lijun não “expressou qualquer objeção” sobre os fatos criminosos e as quatro acusações contra ele.

No vídeo divulgado da sessão do tribunal pela mídia estatal, Wang Lijun parecia tranquilo.

Antes de a seção ser suspensa, o tribunal disse que Wang Lijun seria condenado numa data ainda a ser determinada.

Após o julgamento ser concluído, um comunicado da Xinhua foi lido em voz alta para a mídia estrangeira reunida do lado de fora do tribunal, segundo a RFI.

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